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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 21/03/2023

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Matéria Prima’23: “Existe o compromisso de manter a cultura hip hop viva, independente e com sangue novo”

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 21/03/2023

Este fim-de-semana, dias 25 e 26 de Março, Almada volta a ser o palco de Matéria Prima, um festival de entrada livre criado pela Mano a Mano e que celebra a cultura hip hop nas suas quatro vertentes.

Tudo acontece no Ponto de Encontro — Casa Municipal da Juventude de Almada, uma das salas mais emblemáticas para o movimento independente do hip hop na Margem Sul do Tejo. Com concertos de ORTEUM (dia 25) e Soul Providers (dia 26) enquanto principal bandeira, o evento bi-diário vai ainda receber workshops de breakdance e graffiti, uma beat battle, um especial de Tape Delay ao vivo (com TNT como convidado de DarkSunn) e uma exposição de fotografias assinadas por Sebastião Santana, colaborador regular do Rimas e Batidas.

Podem conhecer o cartaz completo de seguida e ainda ler a breve conversa que tivemos com Daniel Freitas (mais conhecido por TNT), o homem que lidera a Mano a Mano, editora e promotora por detrás deste festival que quer manter vivos os verdadeiros valores do hip hop.



Antes de mais, gostava que começasses por me explicar a escolha do nome para este festival. Qual é a ideia que está por detrás deste Matéria Prima?

Para quem não faz ideia, o nome de Almada deriva de Al-Madan, que em árabe significa “A Mina”. Como tal, e sendo que este evento tem como objectivo promover valores locais, estes são considerados a matéria prima com que se faz um cartaz de um evento de hip hop nas suas quatro vertentes. Numa abordagem mais poética, MC’s, DJs, Writter’s e B-Boys são a matéria prima com que se forja esta cultura.

Vocês começaram com esta iniciativa no meio de uma pandemia e já realizaram duas edições. Tendo em conta esse período mais conturbado das nossas vidas — quer para artistas, quer para o próprio público —, com todas aquelas questões da segurança e distanciamento social, que balanço fazes dessas primeiras investidas? E sentes que houve uma evolução logo da primeira para a segunda edição, em que já estávamos todos mais “livres”?

Houve uma grande evolução nesse sentido, pois a liberdade que sentimos no ano passado refletiu-se no evento. É difícil dar um concerto de rap para gente sentada ou fazer uma battle de breakdance com distanciamento. A cultura exige esta aproximação física. Mas claro que, em 2021, conseguimos contornar as dificuldades e até presenciámos um (raro) concerto de Silab & Jay Fella.

No final deste mês voltam à carga com mais um evento de dois dias em Almada. O que é que perspectivam para o que se vai passar este ano? E tendo em conta como correu a edição de 2022, ainda há espaço para crescer?

Este ano vamos fazer pela primeira vez uma batalha de beats. Tendo em conta o crescente número de beatmakers e o espaço próprio que têm ganho no movimento, achámos importante dar esse destaque e, de alguma, forma fazer uma homenagem através de uma competição saudável, que terá como jurados o Keso, Madkutz e Kulpado. O DarkSunn, que será o host da Beat Battle, irá mediar também o Tape Delay live com a minha participação.

Teremos uma exposição permanente de fotografia do Sebastião Santana, fotógrafo e videógrafo que trabalhou com inúmeros artistas e tem nos seus mais recentes trabalhos o projecto VLUDO. Sábado à noite o concerto fica a cargo de ORTEUM. No domingo há workshop de graffiti com a artista PITANGA, battle e workshops de breaking com ALMABATTLE, e para terminar em beleza um concerto de Soul Providers ao pôr-do-sol, com vista para o rio.

Esta iniciativa tem espaço para crescer e até difundir-se a outros pontos do concelho, mas para tal é preciso mais investimento (financeiro, claro). Uma aresta a limar.

É sempre bonito vermos um cartaz em que surgem representadas as quatro vertentes do hip hop, ainda para mais numa zona que é tida como berço desta cultura no nosso país. É coincidência ou existe esse compromisso, de dar palco a cada uma destas diferentes manifestações artísticas, entre as pessoas que estão na organização do Matéria Prima?

Existe o compromisso de manter a cultura hip hop viva, independente e com sangue novo. Do meu ponto-de-vista, a Margem Sul, Almada em específico, sofreu um declínio na criação de novos valores da cultura. Falo de Rappers, B-Boys, Writters e DJ’s, com impacto a nível nacional, que consigam furar no panorama. Felizmente essa tendência inverteu-se e fico super grato pelo que tenho presenciado nos últimos anos. São demasiados os nomes para poder enumerar e espero que todos venham a pisar o palco deste evento, em edições futuras. É igualmente importante frisar que este é um evento local, mas virado para fora. Pretendemos mostrar o que se faz na Margem Sul, mas nunca excluindo a participação de artistas e criadores de outras áreas geográficas e sub-culturas musicais e artísticas.

Numa programação tão diversa, há algum momento em específico que queiras destacar? Há, por exemplo, algo neste alinhamento que tenha nascido de uma encomenda do festival ou algo de carácter mais urgente (talvez até inédito)?

O Tape Delay live surgiu a partir deste evento e permite ao público interagir com o entrevistado, o que é incrivel. Todas as outras ações surgem numa modalidade experimental, tentando ano após ano ver o que resulta melhor, de forma a oferecer o melhor evento possível ao público que aqui se desloca. Volto a salientar a Beat Battle, penso que a primeira na Margem Sul (em Almada é de certeza), e que reúne todas as condições para ter continuidade, até mesmo fora dos moldes do Matéria Prima. As exposições são igualmente importantes, pois forçam o público a sair do ecrã do telemóvel e a experienciar ao vivo estas dinâmicas, educando para a necessidade de manter a arte viva, seja qual for a sua forma (música, pintura, fotografia, video, etc.).

Há um par de semanas cruzei-me com esta fotografia de um pós-concerto do Mlk Mau Aluno, precisamente no Ponto de Encontro, a mesma sala que acolhe o Matéria Prima, e fez-me lembrar o espírito celebrativo e de comunhão que já experienciei nesse mesmo espaço em anos anteriores, noutros eventos/concertos. Sentes que há uma aura especial na ligação do hip hop com esta sala?

Eu, como muitos outros, comecei o meu percurso musical neste sala. Já tocaram neste palco todos os artistas que possam imaginar. No meu entender, o Ponto de Encontro – Casa Municipal da Juventude de Almada sempre teve uma função vital de dinamismo cultural que deve ser preservada. Esta sala define um eixo Lisboa / Almada / Seixal importantíssimo para a nossa cultura e para o intercâmbio artístico. É utilizado por companhias de dança para esse fim, mas musicalmente não. E eventos como o Matéria Prima servem também para relembrar a todos que existe um espaço com várias salas abertas, à espera de iniciativas e propostas de dinamização. Quem sabe se, com o aumento destas iniciativas, possa surgir um investimento das entidades competentes no espaço, de forma a recuperar o material que se foi deteriorando com o tempo. Tudo é possível. Apareçam dia 25 e 26 de Março para descobrir!


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