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Texto: Paulo Pena
Fotografia: Sebastião Santana
Publicado a: 11/06/2022

Pela cultura.

Masta Ace & Marco Polo no Musicbox: o som inconfundível de Breukelen

Texto: Paulo Pena
Fotografia: Sebastião Santana
Publicado a: 11/06/2022

O relógio marca 10 minutos a mais da hora prevista para o evento da noite. Afinal, de Brooklyn ao Cais do Sodré demora-se mais do que seria de esperar. Mas nada de preocupante: já se sabe que o fuso horário dentro do Musicbox é outro e, presumivelmente, ainda deve estar tudo à porta. Confirma-se. 

A caminho da Rua Cor de Rosa, para quem vem de Santos pela Rua de S. Paulo é só cortar à direita. Quase a chegar. A virar a esquina está alguém a fumar um cigarro casual. T-shirt preta com inscrição branca “MASTA POLO”. Dois segundos de sinapses lentas: “É o Marco Polo!”, devolve a massa cinzenta. Perfeito. Ainda vamos a tempo.

A julgar pela multidão à entrada, mais vale esperar uns minutos antes de descer à caverna. Caras conhecidas. Muitas, mesmo. Das figuras históricas do hip hop nacional aos nomes promissores do rap português, parece que ninguém quis perder a estreia de Masta Ace & Marco Polo em Lisboa — não fossem eles uma das duplas com mais quilómetros conjuntos na história do hip hop norte-americano.

10 e meia. Se calhar vai-se entrando; arranjar lugar no pelotão da frente não será tarefa fácil daqui a pouco. Por enquanto, sala a meio gás, com média de idades a apontar para os trintas (ou quarentas…?). Nada de estranhar, uma vez que — como mais tarde nos viria relembrar — Masta Ace já carrega 55 anos de vida às costas. Porém, assim que entra, depois do aquecimento bem medido em clássicos do parceiro Marco Polo, o rapper prova que a idade é um posto que não lhe pesa (nada mesmo) nos ombros. 

De espaçosa passou a lotada sem que se desse por isso. Os mais novos lá foram chegando, a reclamar as primeiras filas com a vitalidade de quem vem para fazer mais do que abanar o braço e a cabeça. E são precisamente os mais novos — gente na casa dos vinte — que exteriorizam maior entusiasmo e melhor conhecimento do repertório do rapper nova-iorquino. Gente que, definitivamente, não cresceu a ouvir LL Cool J, Big Daddy Kane ou Rakim, as três referências homenageadas por Masta, que, surpreendido, se questiona, para cada uma, “vocês conhecem-no?”.

Em tom de homenagens, Masta vira-se para o companheiro de longa data e pede ao público que centre as atenções no produtor canadiano. “Este homem é uma banda inteira!”, elogia antes de pedir ao co-autor de A Breukelen Story para tocar o saxofone, o baixo ou para “dar-lhe à James Brown”. Desde que saiu dos bastidores e subiu ao palco, de mochila nas costas pronto a distribuir rimas de “Breukelen” — berço que representou na indumentária (t-shirt com a linha 5B de Nova Iorque desenhada, com paragens em Manhattan, Bronx, Queens, Brooklyn e Staten Island) —, o MC honrou a origem do ofício, entretendo um Musicbox em delírio frente a uma lenda viva — um estatuto visivelmente suportado por todos na casa — da história do hip hop.

Depois de quase uma hora de saltos entre faixas atrás de faixas, interacção constante com a plateia e truques de microfone herdados dos anos 80, sai uma primeira vez para rapidamente voltar a pedido dos fãs. É Marco Polo quem incentiva ao regresso: “Querem ouvir mais uma? SIM! Querem ouvir mais duas?? SIMM!! Querem ouvir mais três??? SIMMM!!! Querem ouvir mais quatro???? SIMMMM!!!! Querem ouvir mais cinco????? SIMMMMM!!!!!” — à quinta foi de vez.

Volta Masta Ace com ainda mais força e o público responde na mesma moeda. O chão torna-se lava, os copos ganham asas e o êxtase toma conta da sala, já depois de momentos intensos como o sentido tributo à falecida mãe do “Son of Yvone” (uma  célebre produção do também falecido MF DOOM), da amigável resposta a Common em “Still Love Her” ou da reprodução a capella de “No Regrets”.

Duval Clear havia desafiado Lisboa a bater Munique em matéria de barulho, e o Musicbox responde agora à letra, a cantar as deixas do rapper sem controlo de decibéis — especialmente com “The Mad Wunz” —, arrecadando o novo título de cidade mais barulhenta da tour europeia do duo Masta Polo; tão alto que, de repente, somos mesmo transportados para 1993 para acabar este memorável concerto com muito L-O-V-E.

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