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Publicado a: 31/10/2017

Mário Valente escolhe a banda sonora do nosso Halloween

Publicado a: 31/10/2017

[TEXTO] Mário Valente [FOTO] Direitos Reservados

DJ e programador no mítico espaço lisboeta do Lounge, Mário Valente conduz, entre outras coisas, o Salón Fuzz, noite de culto trimestral que semanalmente assume também a condição de programa de rádio na grelha da Vodafone FM e onde todas as coisas obscuras têm lugar, incluindo bandas sonoras de terror psicadélicas e ácidas capazes de corroer a mais pura das almas. Fã de cinema de terror, profundo conhecedor das suas bandas sonoras, Mário Valente é o especialista que todos desejamos ter ao lado em noites como a de hoje, quando Outubro se transforma em Novembro e quando a realidade se transforma em Halloween.

Tenham medo, tenham muito medo…

 


[Blue SunshineCharles Gross (1977)

Anteriormente apenas disponível em CD bónus com o DVD do filme via Synapse, a banda sonora de Blue Sunshine foi finalmente resgatada em 2014 pela Mondo para edição em vinil. O filme parte da ressaca pós-hippie para um comentário político mergulhado em ácido, horror trip que há muito merecia maior reconhecimento. A banda sonora saltita entre disco, cocktail jazz e chinfrim disforme como se de um vulgar passeio diário pelos cantos mais escuros do cérebro se tratasse.

 


[Shock Waves] Richard Einhorn (1977) 

É uma das imagens mais icónicas do terror do final da década de 70: um grupo de soldados nazis zombie a emergir do oceano junto a uma ilha remota. Ter John Carradine e Peter Cushing no elenco também ajuda e muito, mas é a banda sonora de Richard Einhorn (aqui com a sua primeira composição, ele que se especializou em slashers nos 80s e mais tarde em documentários para televisão) que eleva tudo isto a algo realmente especial.

 


[Evil Speak] Roger Kellaway (1981)

Palavras para quê? É o Evil Speak com o seu computador possuído pelo demónio. A banda sonora carrega o filme às costas, com o seu cruzamento de motivos e coros satânicos, sons de jogos arcade e selvajaria slasher. Completamente frito do miolo.

 


[Der Fan] Rheingold (1982)

Der Fan é um thriller de terror sobre uma fã que leva as coisas um bocadinho longe de mais. O artista alvo da perseguição é Bodo Staiger, vocalista dos alemães Rheingold, banda new wave formada por adeptos confessos de Kraftwerk que tratam também da banda sonora. Arte a imitar a realidade e mais jogos de espelhos num filme demente com banda sonora a rigor.

 


[Razorback] Iva Davies (1984)

É uma viagem alucinatória pelo outback australiano, jogo entre um javali gigante e o seu caçador, primeiro quase-sucesso do realizador de videoclips Russell Mulcahy e que lhe serviu de trampolim para Hollywood. Muito por culpa da banda sonora de Iva Davies (uma quase desconhecida, faria mais tarde Master and Commander para Peter Weir), fantasia celestial de synths analógicos que dá unidade à demência das imagens.

 


[Henry, Portrait of a Serial Killer] Ken Hale, Steven A. Jones & Robert McNaughton (1986)

Francamente menos citada do que devia ser, esta primeira longa de ficção de John McNaughton é uma pequena peça quase teatral, minimalista nos cenários, no elenco e na violência física (a maioria das mortes acontece off screen). Já a banda sonora atira-se ao espectador logo aos primeiros minutos e não larga mais. Creepy as hell.

 


[The Hitcher] Mark Isham (1986) 

Uma das mais sinistras histórias de amor gay de sempre (Eric Red, argumentista do igualmente brilhante Near Dark) é uma perseguição visceral pelos desertos norte-americanos e que em momento algum dá tréguas ao espectador. A banda sonora de Mark Isham é o seu contraponto perfeito, música maioriamente ambiental e discreta, e que quando rebenta faz pensar num Ry Cooder (via Paris, Texas) acabado de escapar do inferno e ainda a fumegar.

 


[Hardware] Simon Boswell (1990)

Cyber-punk horror minimalista em todo o seu esplendor early 90’s style. Richard Stanley alcança prodígios de pinta visual com o baixo orçamento e Simon Boswell, veterano da música para terror (trabalhou com Lamberto Bava, Argento e Clive Barker), ginastica uma cacofonia de música maquinal desorientante, pontuada pela voz do MC Iggy Pop que traz para o barulho PIL e Ministry.

 


[You’re Next] Mads Heldtberg, Jasper Lee, Kyle McKinnon & Adam Wingard (2011) 

Uma das mais interessantes revisões da matéria dos últimos anos, é um home-invasion com  twist e acenos e desvios à rotina slasher dos 80s. Adam Wingard, realizador, é também um dos quatro compositores desta banda sonora carregada de synths demoníacos.

 


[Yellow] Antoni Maiovvi (2013)

A curta-metragem passou algo despercebida no circuito dos festivais do género, mas a banda sonora foi logo parar às mãos da editora Death Waltz e percebe-se porquê. Antoni Maiovvi é um dos grandes, cada vez menos performer e cada vez mais especializado em composição para cinema de terror, e este é um dos seus trabalhos fundamentais, variação carpenteriana em maximalismo e punch a rebentar a escala para efeito máximo.

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