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Fotografia: Beatriz Blasi
Publicado a: 06/05/2022

Crua, congruente e destemida.

Maria Reis: “Quando a coisa já está boa, para quê disfarçar?”

Fotografia: Beatriz Blasi
Publicado a: 06/05/2022

Umberto Boccioni roga-nos pragas, despertando de um longo sono: precisamos mesmo de o invocar, nesta frase, ao lado de Maria Reis? Sim. O pintor italiano morreu em 1916, um século antes da cantautora lisboeta lançar Benefício da Dúvida. Seis anos antes da cova, ajudou a escancarar as portas do futurismo, com o quadro La città che sale (algo como “a cidade emerge”, na ressaca do manifesto de Marinetti e de uma industrialização tardia em Itália). É uma obra elétrica, com fontes de tensão que saltam para fora da tela bege: cavalos e homens, músculos e sangue num sorvedouro de mangas arregaçadas. Há ali uma cidade a erguer-se. 

Muito tempo dista de 1910. Ainda estava A Flor da Urtiga por germinar, a Sala e os Olhos por alagar; um século para que as Pega Monstro fizessem o borato de sódio tornar-se punk. Maria Reis, co-fundadora da Cafetra Records (coletivo lisboeta que ergueu uma nova canção), não pediu esta ligação abusiva, é da nossa responsabilidade. Mas há algo de Boccioni na capa do novo disco. O caos carnal e maquinal de La città parece desdobrar-se, simétrico, na folha da artista Sara Graça. O vermelho (lápis de cor, não óleo) perde o monopólio, abre-se ao vapor verde, a laivos de rosa, ao cromado do arame farpado que soletra o título. Foram-se embora as outras pessoas: ao centro há apenas Maria e as suas asas — um xadrez azul e branco voador — lançada para uma espiral qualquer.

Há uma vertigem parecida na música. Benefício da Dúvida é ação pura, mesmo quando se encerra no pensamento; cada verso uma queimadura de grau variável. O som prega uma rasteira face aos discos anteriores. Os arranjos de Chove na Sala, Água nos Olhos (2019) eram expansivos; A Flor da Urtiga (2021) cortava a gordura para depurar a cantiga. Mas este disco — que será apresentado na Culturgest a 25 de maio — abre uma economia própria. “A minha prática insere-se na canção punk”, relembra Maria ao Rimas e Batidas, sentada num muro, miradouro improvisado sobre o concelho de Ourém. 

Essa linhagem, sempre latente, ficou mais palpável agora. A viola campaniça e as guitarras acústica e elétrica de Maria unem-se ao pandeiro trazido por Júlia Reis, irmã com quem formava as Pega Monstro — é de ambas, em tríplice com Leonardo Bindilatti (aka Rabu Mazda), a produção de Benefício. É um empurrão para esfolar o joelho. É uma cenografia crua, desde os tremolos e o feedback que alimentam “Lobisomem”, até aos acordes encabulados de “Elefante na Sala” (que poderia estar entre “Needle in the Hay” e “Christian Brothers”). São canções em busca do vórtice, da força propulsora, do torvelinho que é a vontade de criar. Mas, como Boccioni, entendem que força fundamental é essa que conduz tudo isso: a dos braços e a da obstinação lixada de um ser humano.

Há um vídeo que acompanha a edição — apenas digital por enquanto — de Benefício da Dúvida, mas não é um teledisco. Uma espécie de “vem passar um dia com Maria Reis”: falar com um vizinho acerca da roupa que voou do estendal, recusar as negociatas de um vendedor na Feira da Ladra, ensaiar no Intendente, discutir as incoerências narrativas do Matrix ao anoitecer. Faz sentido: Benefício da Dúvida é música verité, consequente e corajosa. Será um dos maiores discos do ano, ou, pelo menos, o único com um refrão escrito à volta da palavra “fórceps”.



Chamou a minha atenção a semelhança entre os títulos A Flor da Urtiga e Benefício da Dúvida — uma ideia de proveniência, de fruto.

Ya, eu até me questionei um bocado. A canção “Benefício da Dúvida” apareceu antes e, depois, estava a ver títulos, já overthinking bué, depois foi tipo: “não, vou dar Benefício da Dúvida!”. Quando comparei os títulos dos discos, reparei que estava a repetir a preposição — “da”, “da” — e eu odeio, odeio repetir. Mas, depois, [pensei] fuck it, tenho que assumir..

Parece que é um par com A Flor da Urtiga, enquanto Chove na Sala fica orfão…

Nem sequer é isso. É só que, visualmente, uma das minhas preocupações é não repetir palavras dentro da canção e no geral. Eu sei que repito, mas eu tento não repetir.

Complica-se quando não se tem uma estrutura muito económica de canção. Tu puxas essa banda larga ao limite.

Sim, mas todos nós temos tendências para usar palavras com mais regularidade. É fixe, no processo de fazer canções, tentar forçar… não é forçar, mas tentar fazer um esforço para não cair nas mesmas tendências. Superares-te a ti próprio, dificultares-te a vida [risos].

O que resulta em expressões como “A fórceps”, “é como uma ervilha que me custa a comer”, “somatizas…”

“…a certeza de ficar horrorizada” [risos].

Ou palavras como “balúrdio”, que não se ouvem habitualmente na pop nacional.

Não se ouvem em canções. São palavras que se usam, mas há uma… talvez vergonha. Há uma falta de criatividade, no geral, para cantar coisas novas. E depois o pessoal fica “ai, como é que eu não me lembrei?” É só experimentar, ’tás a ver? Às vezes, experimentar mete medo às pessoas que temem arriscar e falhar. Para mim, interessa-me cantar coisas que nunca foram ditas antes. E coisas que, se calhar, são mais íntimas para mim, ou expressões que são mais do meu contexto, mas que conseguem falar com toda a gente.

Eu também tenho que ter interesse para cantar, porque, se não, se eu vou estar a cantar sempre a mesma palavra, sempre as mesmas ideias de estar apaixonada e de coitadinha… sabes? Tentar arranjar novos cenários, novas paisagens poéticas, para me sentir mais motivada para cantar, porque senão é uma seca.



Como parte da Cafetra, vês-te — a médio ou longo prazo — a alcançar outro espaço comercial? As expressões e métricas que usas serão, muito provavelmente, indigestas para uma editora maior.

A minha ideia de sucesso não é um sucesso comercial, nem sequer é um sucesso que tenha a ver com dinheiro. Obviamente que me dá jeito o dinheiro, mas o que me interessa é chegar às pessoas. Às vezes, a cena indigesta que estás a falar, é isso mesmo que comunica com as pessoas. Eu sei que não é para todos. Fogo, se fosse para todos… Também acho muito estranho que haja música universal. Mas, mesmo assim, sei lá… Nirvana era indigesto e foi a maior banda de [sempre] [risos], portanto, estas cenas nunca seguem a mesma regra.

Eu não procuro uma carreira em que eu não seja a protagonista da minha própria carreira. Não procuro um manager, ou uma major, ou sequer estar na Sociedade Portuguesa de Autores. Eu não estou na SPA, eu não me identifico com nada que tenha a ver… particularmente com a indústria portuguesa, mas acho que é transversal. Porque é sempre um produto. Quanto mais autonomia e independência eu tiver, mais satisfeita estou e mais sinto que tenho voz naquilo que digo. Mas claro que também tenho sorte — e também trabalhei para isso — de ter conseguido construir um sítio onde me encaixo, dentro disto de ser independente.

A questão da música universal lembra-me SZA. Penso muito no Ctrl, um álbum assustadoramente pessoal, esquisito em partes, mas com um êxito do caraças.

Sim, sim, sim! Não é aquele r&b clássico. Eu curto bué, mas fico um bocado triste de ela não estar a fazer mais coisas, mas pronto. Também eu acho que é por causa do ca-pi-ta-lis-mo, ficou a fazer featurings e… não sei, a ver. Eu curto bué dela, também.

Ninguém espera uma flor de algo que dá urticária. Da mesma forma, dentro de um vazio de provas concretas, encontras a boa-fé. Como é que se plantou a dúvida e que benefício colheste?

Eu tenho uma tendência para negar qualquer tipo de mudança. Não é medo, mas… gosto muito da minha independência e da minha liberdade, ao ponto de preferir estar sozinha e não arriscar muito ligar-me de forma íntima às pessoas. O Benefício da Dúvida fala um bocado disso: de dar esse salto empático e de prazer… a ver se dá! E, se não der, está-se bem! O risco pelo risco. É uma coisa de ação, de ir para a frente, não tanto de calcular aquilo que pode correr mal. Porque, entretanto, também sou uma pessoa bastante… 

O pessoal acha que eu sou mesmo tranquila [risos], mas eu considero-me ansiosa. Então, sou um bocado calculista naquilo que pode correr mal. Por exemplo, vou andar de avião e, para eu estar tranquila, eu tenho que imaginar os piores cenários possíveis para eu estar na boa.

Em caso de acontecerem, não seria a primeira vez que os encontravas.

Exato. Se eu pensar nisso, quer dizer que não vai acontecer — isto é a minha neura. Se eu tiver este pensamento, quer dizer que vai tudo correr bem, então, vou ter que pensar todos os cenários mais horríveis, para não acontecerem. É um bocado esgotante. Acho que é isso que caracteriza a angústia [risos]. 



Se a faixa-título representar essa ação de que falas, o “Elefante na Sala” propõe o reverso da medalha, se calhar na procura de uma relação. A faixa-título pela ânsia…

Do êxtase, não é?

Sim, o “Elefante na Sala” a semantizar o pessimismo que pode vir depois.

[Risos] Pode ser! É uma interpretação possível. Parte tudo do meu universo e ele contém isso tudo. Dentro da ideia de benefício da dúvida, tens a cena polarizante: ou sim ou não! É interessante teres visto — porque eu depois também não [controlo isso] — que parte tudo do mesmo sítio, mas que adquire expressões diferentes. Nada se conclui e isso também me interessa… e é assim, ponto final, porque senão não há surpresa. Eu gosto de quando as coisas me surpreendem, porque sei que vão surpreender os outros. Se não me surpreender a mim, dificilmente vai surpreender quem está a ouvir.

Daí o cliffhanger [final em aberto] do “Elefante na Sala”. Que porra é essa?

“E agora?!” [risos]

Permite que a vida tenha resultados mistos. As canções são só molduras, o resto fica muitas vezes fora de campo.

Sim, sim.

É interessante perceber o que tens vindo a fazer com essas noções. A Flor da Urtiga era um disco de proximidade, tronco a tronco, enquanto Chove na Sala era mais ensimesmado. Sendo um disco menos conclusivo, que relação com o mundo é que encerra?

Fogo. Eish… [risos] Relação com o mundo… Na verdade, os métodos são sempre os mesmos, eu é que mudo: o meu contexto, a minha vida. Depois d’A Flor da Urtiga, tive a tocar bué e conheci uma pessoa… Eu estava entre Lisboa e Porto, a sentir coisas. Mas se calhar também reprimia outras e estava numa avalanche de emoções; é um bocadinho difícil situar onde é que eu estava quando compus a maior parte das canções.

Diria que a minha visão do mundo, neste momento, está um bocadinho egoísta, se calhar. Mas está-se bem: tenho que me permitir ser egoísta… porque não estou fatalista. Há uma esperança qualquer, mas que também não consigo especificar o que é, porque isto está tudo um grande circo de merda. Mas tento aproveitar os momentos que não me disponibilizava para sentir coisas, para estar num sítio novo e pensar “estou aqui, estou com esta pessoa”. Estou mais aberta aos outros nesse sentido, mas quero guardar para mim coisas. Não sei [risos]. É fodido. Não tinha pensado nisso.

O “Fórceps” é onde isso é mais evidente…

Sim, o meu fatalismo.

A forma como acaba!

[Risos] É um bocado dramática! Mas eu acho que vira a cena, quando se percebe que é uma música mesmo boa, estás a ver? Pelo menos para mim, eu fiquei mesmo… Foi das últimas que eu fiz, estava doente e cansada, à beira de um burnout, em Viseu. Foi mesmo aquela cena de estar a continuar, a continuar e, quando acabei… “I’m the best!” [gargalhada] Tipo, eu estou a dizer que sou a pior, mas I’m the best

É difícil seres tão honesto ao ponto de ficares maravilhado com a honestidade. Pensares “era exatamente isto que eu queria dizer”. E não é só para mim, acho que várias pessoas se relacionam com aquilo, ter de levantar uma fachada, ficcionar uma coisa que te permita continuar. Não consegues parar para pensar naquilo que és, porque tens de estar sempre a continuar: era isso que estava a sentir. Acaba com essa coisa super dramática, algo que sinto algumas vezes… mas acabou e eu fiquei tipo “era isto! Nice! Sou mesmo fixe!” [risos].

Pode ser uma semana de merda, mas, do nada, sacas uma boa frase.

De repente, parece que faz tudo sentido e era preciso mesmo teres-te esforçado um bocadinho para chegares ali. Pá, é gratificante e sentes-te bem contigo próprio.

Sem glorificar o arquétipo do artista sofredor.

Não gosto dessa narrativa, mas, de facto, não é fácil e não é para todos.



Tens um momento eureca no “Tipo do Ferro”, quando interrompes o stream of consciousness [uma torrente de versos] com aquele… “Desculpa”.

[Risos] É aquelas coisas “drop the mic“.

Abala uma pessoa.

Este disco foi a primeira vez que cantei e toquei em simultâneo — na “Fórceps”, no “Elefante na Sala” e no “Tipo do Ferro”. O que interessava ali, porque é uma coisa que tens que estar à espera é que pode falhar às vezes a voz, mas o que interessa é a entrega, e se a entrega estiver bem do início ao fim, é isso que te tem que apanhar. Porque não vais estar à procura de qualquer coisa desafinada, porque senão vais estar ali frustrada pra sempre. Eu não tenho essa capacidade: fumo, bebo, bué merdas, e não considero que tenha uma voz brilhante. Consigo fazer aquilo que faço e, às vezes, até esforço um bocado.

A falar desse “desculpa”: esse foi o take que escolhemos — também só fizemos dois ou três — porque é aí que está… A canção, às vezes, não estás a perceber para onde ela vai. Depois, aquilo acontece e… OK, é isto, isto faz sentido. Ela tem um refrãozinho, mas não tem bem, nem uma estrutura muito estável. Eu nem sei porque é que fiz aquela canção, ’tás a ver? Mas depois esse momento em particular justifica a canção, parece que a posiciona num sítio e o ouvinte também. Ficas “ah, OK, OK, vou ouvir outra vez o que ela quer dizer com aquilo”.

A prática de poucos takes coaduna-se com o disco que entregas: um salto a pés juntos, desde o primeiro tremolo no “Lobisomem”. Uma pulsão mais punk, mais grunge, mais direta. Isso relaciona-se com [o facto de] a Júlia ter vindo à mistura?

Voltar a ser punk? [risos] A minha prática insere-se na canção punk, na cena de ser direto, de palavras novas, de coisas que sejam desafiantes, desafiadoras. Desafiadoras? Desafiantes.

Acho que ambas existem!

Mas pronto, que abanem um bocadinho aquilo que se está a ouvir… que sejam um bocadinho diferentes da norma. Em termos estéticos, dizes que está mais punk? Acho que já estava… Pois, sim, em relação à Flor da Urtiga.

Não sentes que a embalagem era mais doce e dourada?

E tinha a coisa afetuosa, ternurenta, que aqui está mais badalhoca [risos].

Já usaste “badalhoca” numa canção?

Por acaso, não sei. Mas eu uso bastante “badalhoca”! Mas é isso! [risos]. Já estamos aqui em brainstorm. Eu acho que sempre fui punk…

Tem uma estética mais de maquete, desta vez.

É, é isso. Houve um interesse meu e nosso — e não sei se [também] do contexto — em pôr tudo super cru, que soe a quando eu e a Júlia tocamos. Por isso é que há takes diretos, coisas que nunca fiz. Guitarra elétrica, claro, vai ser sempre o meu instrumento, mesmo que vá para outras guitarras. Eu adoro guitarras no geral, mas a elétrica é a minha casinha. As outras também, vou tendo várias; depende, também. As falhas na voz, ouvir-se muito bem a letra, despir um bocadinho.

As guitarras e o pandeiro empurram imenso a canção, o que deve ajudar logo a não querer…

Adicionar [muito]! Há baixo também, que eu toquei, e palmas; há uma que tem um piano, são coisas bué específicas. Às vezes, estás a pôr mais para disfarçar, mas quando a coisa já está boa, para que é que estás a disfarçar? [risos]

Este EP está a ter o ciclo promocional que o anterior não teve. Sentes que A Flor da Urtiga teve tempo de brilhar?

Eu não quis mandar nada a jornalistas, só quero lançar… Toda a gente veio falar comigo, em vez de ser eu a procurar. No Chove na Sala, fiz uma listening party, convidei os jornalistas para a ZDB [Galeria Zé dos Bois], para tentar criar uma cena de “somos todos independentes”. Com A Flor da Urtiga, já estava do tipo… não me apetece, vou lançar, quem quiser fala comigo.

Eu e o Noah [Panda Bear, produtor d’A Flor da Urtiga e membro dos Animal Collective] só queríamos mostrar aquilo. Como ele está na Domino Records, ele espera sempre muito tempo, ele dizia “que liberdade que tu tens de lançar logo”. Nunca vou poder estar à espera daquilo que eu entrego ser equivalente ao reconhecimento que se tem, porque isso é frustração garantida. O que me interessa é poder continuar a fazer aquilo que faço, que é fazer canções e não ficar agarrada ao passado. Eu celebro sempre o passado, porque me identifico com aquilo, porque sei que me pertence a mim. Não digo que o meu tempo áureo foi aquele. Para mim, é sempre para a frente. Tenho tido muitas oportunidades: residências, a Culturgest outra vez.

Agora, numa segunda fase da vida.

Está toda a gente ainda a perceber o que é que isto é. É fixe estarmos a descobrir todos juntos.

É péssimo não conseguir evitar isto, mas… Paredes de Coura e a falta de mulheres e pessoas não-bináries. O “Balúrdio” é a senha para a revolução, não é?

A cena é que não vai acontecer, porque o problema não é haver falta de mulheres — o problema é haver demasiados homens. Quando são os homens a programar, os homens preferem ver homens. Infelizmente, é essa a nossa realidade: eles preferem ver homens! Quando aconteceu isso e todo o movimento de taggar mulheres e pessoas não-bináries, como se fôssemos nós a [ter de dizer] “estão a ver? Existem!” Eles sabem que existem! Mas eles ativamente preferem ver homens. O meu agente mandou a proposta. Eles sabem que existem, só que eles preferem ver homens, isso é que é o problema. Não é haver falta de mulheres, é haver demasiados homens.


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