Tem apenas 22 anos, mas desde a adolescência que Mari Froes se tem vindo a afirmar como uma das novas promessas da Música Popular Brasileira (MPB), construindo canções que recuperam esse imaginário mas que também o transportam para a modernidade. Temas como “Vaitimbora” e “Figa de Guiné”, que ganharam versões mais electrónicas numa colaboração com os franceses Trinix, revelaram-se grandes argumentos para consolidar o fenómeno em seu torno.
Mari Froes arrancou a digressão europeia na Casa Capitão, em Lisboa, e revelou no concerto que tem estado a preparar o primeiro longa-duração, após alguns EPs e muitos singles. Nos bastidores, logo após sair do palco, sentou-se para uma entrevista com o Rimas e Batidas onde desvendamos um pouco desse aguardado álbum de estreia e reflectimos sobre o percurso trilhado até aqui.
Acabaste de sair do palco. Como foi o concerto para ti?
Foi emocionante, fiquei surpreendida com a reacção do público, achei todo o mundo muito envolvido… Estou mesmo com a sensação de missão cumprida, entregámos exactamente o que a gente estava a planear com tanto carinho e é isso, estou feliz demais.
E tens sentido, ao longo dos anos, este carinho das pessoas em Portugal e também dos muitos brasileiros que, obviamente, vivem aqui?
Sim, das outras vezes que eu vim, já cá estive duas vezes, sempre senti muito carinho da galera de Portugal. Sempre foi um dos lugares que eu olhava que ia fazer show e ficava: “Nossa, que legal, aqui tenho a certeza de que vai ser bom.” E cresceu bastante, está bem diferente mesmo, dá para perceber que o negócio expandiu.
Durante o concerto, disseste que estás a preparar o teu primeiro álbum. Para quando é que está previsto?
Olha, ele está previsto para muito, muito em breve, para o ano que vem, já está na fase final de produção e tudo mais.
Vai seguir a linha das últimas canções que lançaste? Neste concerto tivemos a oportunidade de ouvir três temas inéditos.
Sim, vai seguir essa linha, com certeza. É um álbum muito percussivo — inclusive o Danilo, que tocou hoje, foi quem fez a maioria das músicas do álbum. Então é isso, vai ser bem brasileiro, bem percussivo, MPB com pitadas de tudo, porque eu gosto de misturar géneros.
E há quanto tempo é que começaste a trabalhar no álbum?
Comecei no início deste ano, a meio de Fevereiro, foi quando comecei a gravar.
Ainda és bastante nova, mas tendo em conta a música que já lançaste, os concertos que já fizeste, a quantidade de coisas que já concretizaste, tudo isso também se traduz numa pressão extra para este primeiro álbum? De quereres apresentar um disco que te represente enquanto artista e que diga um bocado ao que vens?
Sim, existe essa pressão, ainda mais porque é o primeiro disco. E, claro, quero entregar de todo o meu coração um trabalho em que acredito muito, então estou sendo bem detalhista, bem perfeccionista nele, e estou amando como está ficando. Estou muito ansiosa para a galera ouvir.
Ouvimos, neste concerto, a inédita “19 Verões”. Essa canção é um bom exemplo de uma experiência destes primeiros anos de carreira que te inspiraram a escrever e a compor? Essas experiências e histórias vão moldar este disco?
Sim, este álbum fala muito sobre o momento em que estou agora na vida, de expansão, de crescimento, sendo muito jovem mas também vivendo todas essas coisas incríveis que a música me permite viver. Intensamente. O álbum com certeza tem influências de todos estes shows, todas essas coisas, inclusive a “19 Verões”, que tem uma parte em que falo das ladeiras, e as ladeiras são as de Lisboa, que me inspiraram. Então tem esse detalhe também. Muitas viagens que estão reflectidas nas letras.
E em termos musicais, como tem sido o teu processo habitual para criar uma canção?
Começo sempre com o violão, fazendo uns acordes, meio viajando, e depois faço uma melodia por cima, e a letra vai vindo aos pouquinhos, aparecem umas palavras-chave e a letra vai surgindo. A letra para mim é o mais delicado, porque é aquilo com que tenho mais cuidado com o que exactamente estou querendo passar. Mas geralmente é assim.
Músicas como a “Vaitimbora” e a “Figa de Guiné” ganharam grande projecção com os remixes ou as versões mais electrónicas. Gostas dessa fusão de géneros, de teres uma base mais tradicional mas depois os temas poderem viajar por outros caminhos, estéticas e velocidades?
Sim, eu acho que essa é a beleza, a maior que existe, poder misturar tudo. Eu sou uma pessoa que escuta muita música antiga, gosto bastante, só escuto gente velha. Mas gosto muito de fazer essa mistura, inclusive de trazer para a actualidade essas músicas e estilo, meio que repaginados. Deixar isso mais actual para a nova geração escutar.
É a vantagem também de fazer MPB e samba em 2025. Muitas pessoas têm-te apontado como uma promessa e uma nova voz da MPB. É um chapéu relativamente lato, mas que também carrega um legado e uma herança. Revês-te nessa posição, ou preferes não te rotular dessa maneira, até por talvez no futuro quereres explorar outros sons e abordagens?
Eu vejo que gosto bastante de MPB, gosto muito de escrever e cantar MPB. Mas eu nunca me limito a um género só. Acho que a música é mais ampla do que isso. E gosto de ter essa liberdade de misturar as coisas. No show mesmo, “Coco Caramelo” ficou rock. Então teve samba, teve rock, teve uma coisa mais electrónica, teve MPB. Tem essa mistura toda e eu acho que essa mistura toda me representa.
E de certeza que tens muitas influências que ainda não exploraste na tua música. Imagino que algumas já estejam no disco.
Exacto, tem sim, tenho muita coisa.
E em termos de letras, de temáticas, há coisas que ainda não tinhas propriamente abordado mas que estarão no álbum?
Esse tema das viagens, da “19 Verões”, é um tema que eu nunca tinha escrito. Nunca tinha escrito uma música sobre isso, sobre estar longe de casa. E a “Coco Caramelo” escrevi nos Estados Unidos. Então faço referências ao deserto, porque eu estava literalmente no deserto. Então estou abordando muito as minhas vivências, tudo o que eu estou vendo, ouvindo, sentindo.
Como é que perspectivas esta digressão europeia que arrancaste em Portugal?
Eu espero que seja lindo, que as pessoas gostem, que elas se conectem. Que eu consiga trazer alegria para as pessoas e essa sensação de pertença. Tenho-me surpreendido ao longo dos anos com este carinho de pessoas em todos os países. Em Portugal é mais normal por causa da língua, da nossa relação cultural. Mas com outros países é diferente, eu fico chocada toda vez. Principalmente quando vou para cidades em países que para mim são mais improváveis. Para a Alemanha, por exemplo. Quando fui para a Alemanha cantar e as pessoas conheciam a minha música… “‘Pera aí, vocês são alemães.” Então acho que é uma grande aventura e é muito chocante. Impressiona-me muito isso.