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Fotografia: João Hasselberg
Publicado a: 18/03/2023

Jazz e soul com toque de cetim.

Margarida Campelo: “Este disco é um espelho muito fiel da música que cresci a ouvir”

Fotografia: João Hasselberg
Publicado a: 18/03/2023

Margarida Campelo dedica Supermarket Joy à sua mãe, Isabel Campelo, cantora que credita como uma influência primordial e como a pessoa que lhe colocou no caminho boa parte das suas referências, que passam por um lado algo smooth do r&b, da soul e de algum jazz dos anos 80. Coisas que se sentem nos arranjos que imaginou para este disco que produziu com a colaboração próxima de Bruno Pernadas.

Até aqui sentíamos a presença de Margarida Campelo de forma mais ou menos discreta em múltiplos projectos: do Real Combo Lisbonense aos amplos ensembles dirigidos por Bruno Pernadas, dos Cassete Pirata e Minta & The Brook Trout até Joana Espadinha. Agora, a teclista, cantora, compositora e arranjadora perde a “vergonha” e coloca-se no centro de uma série de canções que soam frescas, originais e tão leves como a mais bem-vinda das brisas num dia quente de verão, que se enfrenta de cocktail-multi-colorido-e-decorado-com-chapéuzinho-de-palha na mão. Estão, certamente, a ver o filme…

Da música que escutou na infância aos estudos formais de voz e piano, dos projectos em que se integrou até ao enfrentar de um deadline que a levou a dar o salto para a frente, esta é uma conversa tida numa loja de discos – a Collect – para onde, um dia destes, convocou uma série de amigos para a acompanharem na escuta do seu álbum de estreia. Que soa assim…



Podes começar, por favor, por te apresentar? Imagino que já tenhas contado esta história mil vezes, mas como é que a música entrou na tua vida?

Na verdade, nunca falei realmente sobre mim…

Pois, e essa é outra parte da conversa – já lá iremos…

Bem, a música nunca não esteve na minha vida, na medida em que a minha mãe é cantora e o meu pai é engenheiro de som. Ou seja, nem que fosse pela rotina de acompanhar a minha mãe a um ensaio ou ir ter com o meu pai ao estúdio, sempre estive em contacto com o processo de fazer música. Por outro lado, lá em casa sempre se ouviu muita música. Por causa de tudo isso, talvez, eu sempre tive vontade de aprender música e a minha mãe fez questão de que eu fosse aprender a tocar um instrumento. Ela nunca se dedicou a sério a essa parte e fez questão que eu tivesse essa aprendizagem porque ser “só” cantora – e meto muitas aspas nesse “só” – pode ser problemático, em termos de trabalho – tendo mais competências, aumentam as probabilidades de te safares no meio.

Como é que aconteceu essa formação?

Comecei com aulas privadas de piano. Quando eu tinha uns 13 ou 14 anos quis fazer exame de admissão ao Conservatório Nacional, mas como comecei a estudar piano já “tarde” – também com aspas, mas vá lá, “tarde” para os parâmetros da música clássica -, não entrei. Quando fiz 15, e porque tinha muito essa vontade de ser admitida numa escola, segui o exemplo da minha irmã, que é um ano mais velha e tinha conseguido entrar em voz. Nesse caso é diferente: as mulheres são admitidas a partir dos 16, os homens dos 18, por causa de questões fisiológicas, da formação da voz. Eu também sempre quis ser cantora e, por isso, fiz o exame e entrei, em canto lírico. E aí, sim, tive o meu primeiro contacto com o ensino formal de música: teoria musical, história da música, acústica, coro… Fiz o Conservatório e adorei, foi muito importante para mim. Isso aconteceu enquanto eu fazia o liceu. Paralelamente, e enquanto ainda estava no Conservatório, inscrevi-me no Hot Clube e entrei em Piano Jazz. Estive lá dois anos. Depois concorri à escola Superior de Música de Lisboa e entrei em Piano Jazz, também. A partir daí, fiz a minha formação toda em piano. Eu queria mesmo saber, desenvolver as minhas apetências enquanto pianista, mesmo sem ter grandes ambições em ser pianista de jazz. Queria saber harmonia, essas coisas, e ligar-me mais a essa parte do que propriamente estudar canto. Se calhar, deveria ter estudado mais essa parte também, mas achei que mais facilmente alcançaria o que pretendia por mim mesma enquanto cantora do que enquanto pianista. Aí seria importante ter uma formação mais aprofundada.

E estudar clássica e jazz ao mesmo tempo não é um bocado como estar inscrito em simultâneo no futebol e no basquete?

Bem, penso não existir nenhum pianista de jazz sério que não tenha estudado clássica. Há-de haver uma ou outra excepção, claro, mas essa é a regra: porque a técnica do piano é clássica e não dá para fugir dessa parte. E estou a falar de jazz clássico, claro. Na música improvisada as coisas já serão diferentes. Já no canto, as coisas são diferentes: levei muito na cabeça do meu professor de canto clássico por andar ao mesmo tempo a estudar jazz. Porque, nesse caso, não é mesmo fácil conjugar diferentes técnicas, ter uma boa colocação de voz no canto lírico e ainda assim desenvolver recursos diferentes para ir cantar jazz. Isso envolve até questões físicas. Claro que também aí há excepções… Sei lá, a Sarah Vaughan tinha um vozeirão e percebia-se que tinha estudado canto lírico. Mas a verdade é que eu nunca tive grande aptidão para o canto lírico: a minha voz teve sempre muito ar, era mais “cá para baixo”, não era uma daquelas cantoras que consegue naturalmente uma colocação muito operática. Tinha que trabalhar muito…

O teu registo, qual era?

Soprano, como a maior parte das mulheres. Mas não trabalhava muito e o meu professor, que sabia que eu também cantava jazz, achava que a culpa era do jazz. “Tens que escolher”, disse-me ele. E eu: “ok!” [risos]. Isso foi no último ano – não cheguei a fazer a audição final.

Escolha feita… Bem, até aqui conhecíamos-te, sobretudo, como integrante de projectos colectivos ou como música de sessão que responde a solicitações pontuais de outros artistas. E é curioso, porque há outros músicos que víamos na mesma condição – lembro-me, de repente, do YANAGUI ou do Fred Ferreira – e que recentemente também se chegaram à frente, por assim dizer. A ti, o que é que te “empurrou” para este novo caminho?

De facto, eu tenho meio que dedicado a minha vida profissional a tocar música de outros, não é? E tenho a sorte de poder tocar música que adoro. Actualmente, já não tenho que dizer que sim a todas as solicitações e escolho mesmo participar em projectos de que gosto muito. Cheguei a um grupo de pessoas que são minhas amigas e que, além disso, fazem música que eu adoro e, nesse sentido, sou muito abençoada. Mas a música que eu tenho na cabeça e que por vezes tenho vontade de ouvir na rádio, nem sempre é a que eu ando a tocar. E senti que, até para responder melhor a essas solicitações, precisava de pôr a música que tenho dentro cá para fora, senão iria passar a vida a tentar enfiá-la nos projectos dos outros e a verdade é que nem sempre cabe. Isso deixava-me frustrada, por vezes. Concluí que essa música que eu queria ouvir só caberia mesmo numa coisa feita por mim. E tomei essa decisão, na realidade, porque arranjei um deadline para o fazer. Tenho muito trabalho, pouco tempo livre, e há anos que eu andava a adiar essa vontade. Mas durante a pandemia concorri a alguns apoios, ganhei-os e isso deu-me um deadline.

Há um risco associado a esse passo, não há? Até porque, como explicaste, tinhas até aqui uma agenda preenchida…

Bem, por acaso isto até calha numa altura em que os projectos com que colaboro estão um pouco mais parados. Até ao ano passado não parei, a tocar com o Bruno Pernadas, Cassete Pirata, Joana Espadinha, etc. Parece que o universo se uniu, permitiu que essas bandas parassem um bocadinho e atribuiu-me este tempo só a mim. Essas agendas ainda não colidiram, há-de ficar um pouco mais complicado lá mais para a frente, mas acredito que vai ser possível fazer tudo.

Mencionaste aí três projectos que devem exigir coisas dferentes de ti, que acciones diferentes capacidades. Quando estás com esse modo colaborativo ligado, como é que doseias a artista que há em ti, em cada caso?

Nem sempre é fácil, devo dizer. Sobretudo quando estamos em fase de montar novo reportório – pode ser muito intenso. Eu toco de cor, gosto de tocar de forma livre e isso implica absorver todo esse reportório novo, e nem sempre é fácil. O caso do Bruno, por exemplo, é sempre material muito complexo. Depois, quando a coisa fica rodada, acaba tudo por ser muito natural. Até porque, mesmo não sendo projectos meus, eu assisto a todo o processo de composição e gravação e isso permite-me ir pondo coisas minhas, tornando tudo mais natural. Quando me é pedido “faz isto”, já sei que vou fazer à minha maneira – tenho esse espaço em todas as bandas.

Bem, e agora tens um disco cheio da tal música que tinhas dentro a cabeça e que gostarias de ouvir tocada nas rádios – Supermarket Joy. Diz-me então: que música é esta?

Para começar, penso que é um espelho muito fiel da música que eu cresci a ouvir. E a minha mãe é especialmente responsável por isso: Michael McDonald, Fleetwood Mac, Anita Baker, Luther Vandross, Stevie Wonder, claro – um clássico para toda a gente… Mas, pronto, sinto ter, desde criança, algumas referências que não são comuns e que as pessoas da minha geração se calhar não mencionam. Sinto que essas referências moldaram a forma como eu faço música, como eu canto… E são tudo coisas que eu continuo a ouvir: é para esses clássicos que me volto sempre que procuro coisas que mexam muito comigo. E essas referências não estão assim tão presentes na música que eu faço com outras pessoas. Estarão outras coisas que eu adoro e outras ainda de que aprendi a gostar – o indie rock não é algo que me tenha acompanhado desde sempre, não é uma referência de adolescência, certamente, aliás, tal como a música portuguesa. Por isso, fazer música com estes projectos todos também me permitiu perceber como é isto de fazer música em português, pensar em português. Tentei, por isso mesmo, aprender ao máximo com essas experiências, como funciona a escrita de letras, por exemplo. Trabalhar com Cassete Pirata, Joana Espadinha, Bruno Pernadas, Minta & The Brook Trout ajudou-me imenso a arranjar competências para fazer este disco. E desde logo ensinou-me como e quando pedir ajuda – e eu pedi: à Francisca [Cortesão], à Joana, ao Pernadas… Bem, ao Bruno pedi mais do que ajuda [risos]. E todos disseram “claro que sim” quando eu precisei de perceber como é que ia conseguir por isto de pé.

Colaboraste na parte das leras com a Ana Cláudia e a Beatriz Pessoa. Como funcionou esse processo?

Foi muito curioso, sabes? Até pensei se deveria revelar isto ou não, mas, pronto, acho tão curioso que aqui vai: as músicas foram pensadas em inglês, porque até há uns tempos eu nem sequer conseguia conceber que estas músicas pudessem resultar em português. As referências são todas anglo-saxónicas e eu pensava, “claro que isto em português não resulta”. Eu fiz as músicas e meti-lhes alguns sons em português, para funcionarem como referência, com partes de letras – muito más, devo dizer. Só para dar uma ideia das métricas e dos sons: sabia que iria, nalguns casos, precisar de encontrar palavras que terminassem num determinado som, em “u” ou “a”. Tinha tudo delineado, só faltava mesmo a letra final. Bem, havia muita gente a insistir que eu fizesse isto em português e eu pensava sempre, “não, que estupidez, isto é r&b, soul, não vai dar para fazer em português”. E há um dia em que decido então experimentar fazer uma das músicas em português, penso que foi logo com o “Faz Faísca & Chavascal”. Para isso pedi ajuda à Ana Cláudia e à Beatriz, que foram lá a casa e fizemos essa primeira experiência. Eu sabia o que queria e o que não queria: queria fugir um bocadinho à coisa lamechas de amor do r&b, “baby, baby…” [risos]; sabia também que não precisava que a letra tivesse um conteúdo muito vincado, uma “mensagem”. Queria apenas que a letra servisse a música, que fosse um outro elemento tão importante como a melodia, a harmonia, a produção. Chegámos então a estas letras que tanto podem querer dizer coisas, como podem não querer dizer nada — são imagens, são divertidas, servem a minha voz e a minha música. E fomos preenchendo os espaços, encontrando as palavras que terminassem como eu tinha pensado. Uma espécie de um puzzle. Foi muito divertido fazer isso, devo dizer. E penso que deu um resultado original.



Tens estado a falar de conteúdo: letras, melodias, harmonias… Como é que chegaste à forma? Aos arranjos, à direcção musical? E a mim, essa parte no teu disco soa-me, à falta de melhor expressão, assim um bocado… sem vergonha [risos].

Acho que o tempo que levei a fazer o disco foi, também, o tempo que demorei para conseguir conjugar todas as minhas referências numa linguagem sólida. E foi um processo algo confuso: fui estudar jazz, mas depois também adoro música brasileira e tantas outras coisas… Não foi nada fácil cruzar tudo isso em música. E ao longo do tempo fui mesmo perdendo a vergonha. Talvez por viver um pouco numa bolha, numa comunidade de músicos que também já perderam a vergonha. Nesse grupo de pessoas, de toda a gente só eu adoro Whitney Houston… Sou a pirosa do grupo, sem vergonha e super-assumida. E por isso concluí: se é para fazer, ‘bora fazer a sério. Depois de atingir essa… clarividência, as ideias que me foram saindo apontaram logo para aqui. O facto de ter a experiência de trabalhar com o Bruno, que é uma pessoa destemida, sem qualquer medo de atirar 20 estilos diferentes para dentro de um disco, que aceita sempre a música que lhe sai da cabeça, conjugando tudo de forma sólida, ajudou-me muito. E saber que ele ia estar no processo também me tranquilizou.

E foste fazendo maquetes, para teres referências para lhe mostrar? Ou estava tudo apenas na tua cabeça?

Não, não… fiz maquetes para todas as músicas, sozinha em casa. O Bruno ia ouvindo e fazia algumas sugestões. Tinha tudo no meu computador e algumas já soavam bem próximas do que agora temos aqui. Na pré-produção, antes das gravações finais, fez-se muito corte e costura, escolheram-se sons… Muitas das coisas do disco ficaram das maquetes, o que fomos para o estúdio gravar foi aquilo que precisava de ter um bom som, uma boa captação: baterias, baixo eléctrico, uma ou outra guitarra, piano e Rhodes. O resto — coros, sintetizadores, algumas das baterias programadas — foi tudo feito em casa. Por isso, algumas das minhas maquetes já soam como um disco finalizado. É também assim que o Bruno faz música.

Tu e o Bruno fizeram o “heavy lifting”, não é? Mas chamaram outros músicos para coisas concretas…

Sim, até baterias fizemos, as programações, baixo eléctrico, percussões orgânicas. Até solos de saxofone tínhamos em MIDI. Depois foi só pôr “em bom”…

O preset MIDI para esses solos de saxofone era “Kenny G”? [Risos]

“Michael Brecker” [risos]. Bem, mas chamámos músicos em que temos confiança absoluta, daqueles que em estúdio fazem o que for preciso. E o António Quintino e o João Correia são dos melhores músicos que temos em Portugal, são feras, e foram mesmo capazes de entender o som que queríamos… Há também o Tomás Marques, nas flautas e saxofone, e a minha irmã Joana fez alguns coros, tal como a Ana Cláudia.

Obrigaste-os a vestirem-se de uma determinada maneira, no estúdio?

[Risos] No estúdio não, mas no palco vai ter que ser…

Fora de brincadeiras, percebe-se bem que o cuidado posto nos arranjos também se manifestou na parte visual do disco, nomeadamente nos videoclips que lançaste até aqui. Quase parece que os clips deram até mais trabalho do que o disco…

[Hesitando…] Não… Este disco deu mesmo muito trabalho, as misturas e a pós-produção foram uma loucura, porque é um disco com muita coisa a acontecer: havia faixas sem fim, com teclados e coros – gravo coros mesmo à bruta. Foi, por isso, um disco complicado de terminar. Os vídeos deram, de facto, algum trabalho, sobretudo à Joana Linda, que faz tudo, produz, vai buscar o guarda-roupa… Ela tem 20 mãos e enfia 36 horas de trabalho num dia só. As ideias foram todas dela e sim, deram muito trabalho.

Puxei essa conversa porque, de facto, sente-se que houve um cuidado extremo nas roupagens. E não me refiro apenas ao guarda-roupa nos vídeos, mas também na escolha dos sons e das texturas, que parecem sempre servir a música e soam autênticos: não há um som de teclado que pareça deslocado, que seja, sei lá, mais “digital” ou anos 90… Isso resulta de uma procura consciente?

Nem por isso… As escolhas foram muito naturais e sempre procurámos o que achávamos que iria fazer sentido. Seguimos as indicações do universo que eu tenho em mim e que, na verdade, o Bruno também tem. “É para soar a anos 80, vamos lá”. Ele é mesmo destemido. Mas com isso também não vou dizer que estivéssemos a tentar que isto soasse vintage

Anos 80, mas vistos do conforto de 2022…

Exacto. Foi tudo muito sincero, foi o que saiu. Pode ter referências lá de trás, mas não deixa de ser actual.

Realmente, nesse sentido, a tua música soa contemporânea, pois surge num momento em que o Thundercat, Robert Glasper, DOMi & JD Beck e tantos outros estão a explorar uma era de inspiração semelhante nos seus projectos… “fusão” foi palavra feia durante muito tempo, mas perdeu esse estigma.

Sim, sinto que este disco tem um timing muito feliz. Não sei se foi algo consciente, mas se calhar até foi. Se calhar, eu ter ouvido os discos do Thundercat, os revivals com o Michael McDonald e o Kenny Loggins, as coisas da Solange, tudo isso ajudou-me a pensar que talvez as pessoas até pudessem gostar daquilo que eu há muito queria fazer. Lá está, ajudou-me a perder a vergonha. Muita gente a quem eu ia mostrando as maquetes, as ideias, dizia-me isso: “este som agora está super-actual”. E fui percebendo que o timing era feliz. Meio que sem querer…

Para terminar: há já um primeiro concerto marcado para 11 de Maio no B. Leza: como é que vais resolver isto em palco?

Bem, a banda já está escolhida: O João Correia, o António Quintino e a Raquel Pimpão, aka Femme Falafel. Decidi ser económica na formação, por razões óbvias. Tenho na cabeça ideias visuais, uma ideia de desenho de luz… Penso que a música pede isso. Vamos ver… Ainda não está nada definido. Mas vou ter convidados no concerto de estreia: um deles é óbvio – o Bruno. Vamos também ao Primavera Sound no dia 8 de Junho. E depois haveremos de levantar voo…


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