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Publicado a: 10/02/2017

Maresme: ao encontro da costa dourada

Publicado a: 10/02/2017

[TEXTO] Nuno Afonso [FOTOS] Direitos Reservados

Durante anos, Pedro Magina fez parte de uma das forças musicais mais singulares desde que há memória por cá. Adoptando a língua materna com uma plasticidade, espontaneidade e inteligência ímpares, ele e André Abel (actualmente nos Tropa Macaca), deixaram uma herança com os Aquaparque de valor ainda a ser justamente considerado em tempos futuros. Brindou-nos igualmente com uma discografia intermitente a solo, mas sempre com motivos mais que suficientes para o acompanhar de perto. O último “11” tratou pois de solidificar, e até aprofundar e expandir, os passos de que anteriormente vinha a descortinar na sua fase 2.0. Agora, a residir na vizinha Barcelona, revela-nos um novo capítulo, de paisagens distintas, todavia com o mesmo sol a abençoar uma notável noção pop, plena de detalhes charmosos. É quase um luxo auditivo nos dias que correm, onde o tempo definitivamente parece entrar num merecido stand by. Poucas semanas do lançamento do álbum Golden Coast, trocámos correio com Magina sobre a estreia de Maresme.

Poucos motivos parecem justificar uma mudança para um país estrangeiro, embora geralmente o factor económico, profissional ou emocional pesem, quase sempre, na decisão. Ora foi na cidade catalã, durante uma digressão com os Gala Drop, que tudo aconteceu: “reencontrei uma amiga italiana pela qual sempre tive um enorme crush, que veio a ser muito mais do que isso e que levou a miúda a Lisboa, uma cidade que ela sempre adorou”, adiantando logo de seguida que “essa miúda é a minha mulher”. A mudança geográfica e a posterior paternidade trouxeram-lhe raízes com o local que aos poucos se tornou o seu lar. “Já aprendi a esquivar-me à superficialidade que Barcelona estupidamente transmite lá para fora e é incrível”, confessa.

Para além do alargamento familiar, foi lá onde também acabou por conhecer o actual elo de criatividade, Cristian Subirà, dando origem a Maresme. O músico recorda o momento: ” escrevi ao Cristian e convidei-o a fechar a noite [numa apresentação de Magina]. Curti muito o concerto e os discos dele”. Estava tudo então alinhado para que essa admiração mútua se transformasse em algo mais concreto como “uma jam prolongada que deu origem ao nosso primeiro disco, Golden Coast. E descreve o processo criativo de ambos como um reconhecimento e aproveitamento de cada parcela: “Ambos sabemos aquilo em que somos bons e a distribuição de tarefas foi sempre bem definida desde o princípio. Ele é bastante bom ritmicamente e achamos que eu tenho um maior sentido melódico, daí que não é difícil compor quando encontras este equilíbrio”.

Golden Coast reflecte de resto essa partilha de ideias em forma de canções aquosas, de tons vívidos e formas definidas presentes nas obras de Sakamoto ou Jah Wobble, duas referências assumidas. “A ideia que considerámos desde o início foi a de “olharmos” para alguns artistas que na década de oitenta tentaram construir pontes entre pop e outros estilos: electrónica, funk, easy listening, new age ou inclusive esse tag terrível que é a ‘world music’, explica. No entanto, e para alguém habituado a trabalhar as fronteiras da esfera pop, levando-as a paisagens pouco óbvias, qual será então a novidade deste novo projecto em relação a esse percurso anterior? “Basta que trabalhe com pessoas distintas para que seja diferente. O modo como comunicamos é obrigatoriamente diverso”, clarifica sem rodeios, resumindo mais adiante que “Maresme é algo que se vinca bastante pelo gosto partilhado de duas pessoas pela música ambient, new age e o leftfield pop dos 80s“.

Embora paire um toada reconhecível numa época relativamente específica, a ligação da banda aos sons contemporâneos, de diversas frentes e origens, faz-se notar pela ligação de Cristian à plataforma norte-americana Dublab. Ele responde em discurso directo: ”O facto de participar nesta comunidade ajudou-me a conectar com muita gente, de muitas partes, e é ainda hoje uma fonte inesgotável de inputs”, reconhece. Um dado curioso que acaba por contrastar com a posição do português: “raramente ouço música actual, a não ser que sejam amigos a recomendar”.

Mas se a lógica de composição se baseia nesse consciente e equilibrado “crossover de pontos de ligação entre a música que tentamos criar nos nossos projetos a solo”, como refere, em palco o duo ganha a dimensão de quarteto. Dashiell Fernández (El Guincho, Dead Man on Campus) e Nuno Pessoa (Chullage, Coldfinger, etc) juntam-se ao núcleo dos Maresme, definido como: “um processo muito orgânico. Especialmente com base no descarte e na procura de um discurso onde nos sintamos confortável”. É pois nesse formato de banda alargada que se apresentam já no próximo mês no festival Emergência e em Junho, no encerramento do afamado Primavera Sound Barcelona (num cartaz de sonho ao lado de luminárias como Aphex Twin, Run The Jewels, Skepta ou Flying Lotus). Face às expectativas de estar presente num evento estelar como esse, Pedro encara o convite com a tranquilidade e a sensatez expectáveis de quem se encontra nesta realidade há algum tempo: “não é falsa modéstia, é que realmente tanto eu como o Cristian temos outras prioridades na nossa vida e já não somos nenhuns putos. Além de que temos um background fixe (ele tocou nos Coconot com o El Guincho ) e isto não tem o mesmo impacto que teria se tivéssemos 20 anos ou pouca experiência”. Não deixa contudo de reconhecer “que é um evento com uma promoção incrível e com uma qualidade inegável, mas somos 1 ao lado de 10000 nomes bastante conhecidos, quem é que queremos enganar?”. Quanto a uma possível passagem por Portugal, afasta para já a possibilidade: “Era fixe, mas para já não. Talvez quando saquemos o disco”.

Golden Coast tem lançamento oficial previsto para dia 30 de Março pelo selo Foehn. Será certamente um dos nossos portos favoritos para a quadra primaveril que, pouco a pouco, se aproxima. Nada melhor para ilustrar este discurso de apresentação de Maresme senão um vídeo, que podem ver mais acima, em rigoroso exclusivo para o Rimas e Batidas.

 


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