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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 31/05/2023

O rapper e artista plástico da Serra das Minas estreia-se com o primeiro livro.

Marcos Best: “O livro representa uma altura da minha vida em que tive realmente uma ferida grande”

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 31/05/2023

Marcos Braz, conhecido no rap como Marcos Best, assume-se cada vez mais como um artista multidisciplinar. Mestre das rimas e das telas, lançou neste mês de Maio o seu primeiro livro, Uma Ferida Chamada Marcos, que concretiza um sonho antigo de lançar uma obra literária. 

Trata-se de uma edição de autor, uma compilação de diversos textos escritos pelo artista da Serra das Minas ao longo dos anos, e que refletem o seu lado mais melancólico e obscuro, expondo como nunca antes as suas dores e sentimentos mais profundos. 

O livro pode ser encomendado através das redes sociais do artista e foi o pretexto para uma entrevista no Rimas e Batidas que também passou pelas artes plásticas e pelo porquê de já não se encontrar tão ativo na música.


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Como é que surge a ideia de escreveres este livro? Era uma vontade antiga?

Já há algum tempo que queria fazer um livro. Não sabia é que seria este e também não pensava que fosse para já, sempre pensei que fosse algo mais para a frente. Inclusive já tinha começado a escrever algumas cenas, mas seria mais tipo prosa. Entretanto, numa das quarentenas, fui arrumar os meus cadernos e descobri bué textos antigos mas coisas com valor e das quais sentia orgulho em ter escrito, e queria partilhar com as pessoas. Comecei a partilhar alguns desses textos no Instagram e o feedback era sempre bué positivo, até me sugeriam compilar aquilo num livro. E eu achei essa ideia interessante. Até porque, nessa altura, lembrei-me também de um livro que me marcou muito que se chamava Maktub, do Paulo Coelho, que li quando era mais novo. Era também uma compilação de vários textos pequeninos. Então comecei a selecionar. São textos, poemas, pensamentos, trechos de música que nunca lancei e que acabei por lançar assim.

Podemos dizer que é uma espécie de um best-of do teu trabalho até agora?

Não…

Imagino que haja boas rimas, de músicas tuas, que não te tenha feito sentido incluir aqui.

Sim, e tenho coisas escritas que para mim são muito boas que talvez hei-de editar mais tarde, mas que não cabiam ali. Porque acabou por se criar um conceito, que é a ferida. Apesar de sentir que trabalhei com muita liberdade, tentei respeitar o conceito. Então havia muita coisa que ali não cabia. 

E foste definindo esse conceito à medida que ias compilando os textos?

À medida que fui compilando fui encontrando uma certa coerência nos textos e começou-me a fazer sentido seguir aquela linha. Este é um livro que nunca teve a pretensão de o ser. Foi algo que se foi criando a si próprio, o conceito veio muito do processo, enquanto as cenas se encaixavam.

E que ferida é esta, que é o grande tema que une estes textos?

À medida que fui lendo os textos, fui selecionando o que fazia sentido e o critério foi muito básico… Tenho ali textos com mais de 10 anos, o mais antigo é de 2009 e o mais recente é de 2022. Havia muita coisa de que eu gosto mas já não me identifico, já não sou eu. Coisas que fizeram sentido naquela altura mas com o tempo deixaram de fazer parte de mim. Esse foi o primeiro critério, ver aquilo com que ainda me identifico, ou aquilo que hoje já não sou mas ainda faz parte da minha história e foi algo que me marcou e me tornou naquilo que sou hoje. E à medida que fui lendo os textos percebi que aquilo era um reflexo dos meus últimos 10 anos de vida. É muito autobiográfico, apesar de tocar em temas com que toda a gente se vai identificar. E notei ali muita dor, muita frustração, muitas expectativas frustradas, uma luta constante para querer superar algo, para tentar descobrir quem eu sou e o que faço aqui… Isso remeteu-me muito para a questão da ferida. Não porque a minha vida tenha sido um mar de sofrimento, mas porque em certa altura mergulhei mesmo naquela dor e tentei perceber o porquê de a sentir, e o que precisava de fazer para a superar. E daí nasceu Uma Ferida Chamada Marcos, que é muito minha e precisava de ser vista, que lhe prestassem atenção, que olhassem com amor e carinho, que não a deixassem de lado, ignorada. Assim só se iria propagar e crescer mais. O livro representa uma altura da minha vida em que tive realmente uma ferida grande mas muito através do livro, que nasceu sem eu querer, através daqueles textos todos, foi-se trabalhando e foi-se curando. É um exercício de autoconhecimento, de fragilidade… Eu exponho-me muito ali, mostro-me vulnerável, mas foi um exercício necessário para que a ferida deixasse de o ser.

Muitas vezes os músicos que escrevem ou compõem descrevem esse processo como terapêutico. Neste caso também foi para ti?

Foi, muito. E foi engraçado perceber que, na altura, não tive a noção do quão terapêutico foi. Revisitando os textos agora, compilando-os, tratando-os de outra forma e dando-lhes uma nova roupagem, é que percebi que aquilo passou. A terapia foi esta: escrever e deitar cá para fora. Para mim foi muito bonito.

Acima de tudo, és músico e agora lançaste o livro, mas são vertentes relativamente indissociáveis. Mas sentes que te expões mais quando cantas a letra de uma música ou quando partilhas um texto destes num livro?

Sinto-me muito mais exposto com o livro, embora também me sinta mais protegido. Estou a falar na primeira pessoa mas não está ali a minha cara… Quando se vê um videoclip, a minha cara é a imagem de apresentação, não é? No livro não. E sinto uma liberdade muito maior a escrever. Talvez por também ser o meu primeiro livro, foi feito de uma forma muito inocente, despreocupada, sem grandes expectativas. E acabei por escrever sem pudor, sem medo daquilo que viria daí. Então expus-me muito mais. Na música, principalmente nos últimos anos, já pensava um bocado na questão do mercado, de como é que o meu público vai reagir àquilo que vai ouvir… Então acabava por me censurar um pouco mais. Apesar de eu não ser um artista que tenha esse hábito, é inevitável, acabava por fazê-lo. No livro não, expus mesmo as minhas dores todas da forma como eu sentia. Tenho textos onde digo que tinha comprimidos na mesa de cabeceira, alusivos a um estado de espírito… A uma depressão, vá, falemos das coisas. Não era algo que eu fosse pôr numa música. Se nas músicas já sou muito cru, no livro sou ainda mais.



E o livro também pode ser uma forma para que alguém que oiça e goste da tua música tenha mais acesso a ti enquanto pessoa.

Sim, e é positivo, mas por outro lado estou muito exposto e muito mais humano. Mostro as minhas fraquezas. Até porque muitos dos textos não foram escritos com o intuito de serem partilhados. E agora acabaram por ser, porque me sinto bem com isso. 

Tu começaste a fazer música há quase 20 anos, e sempre evidenciaste que tinhas esse background literário. Ou seja, sempre tiveste referências de literatura acima da média quando se fala de rappers em Portugal. Daí o desejo antigo de um dia quereres lançar um livro?

Sim, vejo isso como um elogio, e isso fez-me querer escrever… Sempre o quis fazer. Sempre pensei que o iria fazer, um dia, quando deixasse de fazer rap. Não quer dizer que já deixei de fazer rap, mas sempre me vi assim, a mais tarde escrever livros. Isto aconteceu mais cedo do que estava à espera, também não quer dizer que agora vá disparar livros todos os anos, mas é algo que vai fazer cada vez mais sentido para mim. Experimentar outras fórmulas literárias, também…

Gostarias de, um dia, escrever ficção? Ou vês-te a continuar mais neste registo autobiográfico?

Gostava de escrever ficção. Mas ainda me sinto muito despreparado para isso. Mas gostava muito. Até porque sinto que vivi muitas histórias. Se calhar toda a gente sente isso, é um pouco natural, mas mesmo em conversas com amigos às vezes começo a falar e a contar histórias por que já passei e de repente parece que já vivi… Tenho 36 anos mas parece que já vivi o dobro, de tantas histórias que tenho. E gostava de pegar nas coisas que vivi e criar uma ficção à volta disso. Vai sempre ser um pouco autobiográfico, mas passar isso para o lado da ficção. Gostava muito. Acredito que existe muito espaço para isso. Quem viveu nos subúrbios nos anos 90 e 2000 começa a ter mais voz agora e acho que culturalmente vai ser uma cena muito enriquecedora e é algo que faz falta e existe esse espaço, de essas histórias serem contadas e da forma como nós a vivemos, com a nossa linguagem, até com o nosso calão. É algo que vejo a acontecer no Brasil ou em Angola… Leio muito o Ondjaki e gosto tanto de ler aquilo. Leio e estou a ouvir as palavras como se estivesse a falar com um kamba angolano aqui mesmo ao meu lado. Acho que isso faz falta e vai ser enriquecedor. 

Para usar o título do teu álbum icónico, poderão ser Krónicas de G’z, histórias reais de pessoas dos subúrbios que podem ter mais voz daqui para a frente. O que é que as pessoas te têm dito do livro? Algumas conhecem-te mesmo, claro, mas outras só através da música.

Em primeiro lugar causou uma surpresa muito grande, porque ninguém estava à espera. Também não partilhei com quase ninguém e causou aquele efeito surpresa, que eu queria que acontecesse. Sinto as pessoas com muita dificuldade em separar o rapper do escritor ou do poeta ou do que for.

Para ti é importante separares as coisas?

Não é importante, até porque nem dá, mas gostava de receber um feedback mesmo do livro. E estou a ter esse feedback de pessoas que não me conheciam como rapper. Houve algumas pessoas, sobretudo mais velhas, que compraram o livro e me estão a dar esse feedback. Agora, quem já me conhece enquanto rapper dá-me um feedback como se estivesse a falar do Krónicas de G’z e gostava mesmo de perceber o que as pessoas pensam daqueles textos específicos. E estou a sentir a minha carreira a consolidar-se enquanto artista. Porque eu fazia rap, comecei a fazer artes plásticas também… Neste momento, a minha fonte de rendimento são os quadros que eu pinto. Estou a viver da arte, mas de onde vem o dinheiro é dos quadros, porque de momento não estou a dar concertos. E com os quadros comecei a ver as pessoas a verem-me de outra forma, artisticamente. E agora parece que o livro veio agigantar-me um pouco, senti um respeito muito maior.

Estás a explorar expressões muito diferentes… Claro que, na música, enquanto rapper, tens muito a questão da palavra, e aqui também no livro, mas as artes plásticas são outro mundo. Quando pintas um quadro, sentes que és o Marcos Best, o rapper? Ou aí é mesmo uma coisa mais à parte?

É um pouco mais à parte, faz-me regressar mais… Antes do rap eu pintava telas e desenhava bastante, gostava muito de o fazer. Inclusive o meu desejo era seguir para artes na escola. Acabei por não o fazer, mas o meu desejo era esse. Entretanto, quando comecei a fazer rap, aquilo aconteceu tudo muito rápido. Lancei um projeto em 2006 e comecei logo a dar concertos. As coisas cresceram, para aquela altura. Comecei a ter dois concertos por semana, de norte a sul, então deixei os desenhos de parte. E agora recentemente voltei a pintar, na pandemia, em 2020. Comecei a partilhar os quadros no Instagram e as pessoas quiseram comprar. E resolvi deixar o trabalho e dedicar-me só a isto. Este é o terceiro ano que estou a viver assim e está a correr muito bem. Mas, respondendo à tua pergunta, faz-me voltar mais atrás do que o rap. Continuo a ser o Marcos Best, mas sinto que era o Marcos Best antes do rap porque eu já o era. Passava a noite toda a desenhar e a pintar no quarto, era uma cena muito fixe.

Desde que deixaste o trabalho normal para te dedicares por completo à tua arte, suponho que tenhas mais disponibilidade mental e artística. Porque, muitas vezes, quando tens um trabalho das oito às cinco, estás ocupado, tens menos tempo, tens mais stress, não te deixa com tanta disponibilidade mental para explorar a arte. Neste momento sentes-te mais livre nesse sentido?

Muito mais. É mesmo isso que estás a dizer. Não tendo aquele que era o meu trabalho principal, o meu foco agora está todo na criação. E até nisso faz-me lembrar muito aquela altura em que eu desenhava em casa, porque não tinha um trabalho nessa altura, então tinha muito mais tempo para criar e imaginar e agora voltei a ter. No primeiro ano foi um bocado complicado ter essa disposição. Tinha tempo, mas a minha mente ainda estava formatada para ter de ir trabalhar, então tive de desconstruir um pouco isso… E mesmo este livro parte muito daí, do tempo que tenho. Posso estar a pintar e ao mesmo tempo estar a tratar do livro. Posso pensar numa exposição que quero fazer. As coisas acontecem quando têm que acontecer, mas é algo que já deveria ter feito há muito tempo. Na altura do Krónicas podia tê-lo feito e não tive coragem. Até porque não tínhamos muitos exemplos de rappers cá em Portugal a viverem da música e a deixarem o seu trabalho. Eram muito poucos, então tive esse medo. Mas agora quando tive esta oportunidade com os quadros não quis cometer o mesmo erro e avancei e foi o melhor que fiz.

Sentes que a ferida que o livro aborda tem mais a ver com questões interiores tuas ou seja, psicológicas, emocionais — ou também acreditas que tem muito a ver com o teu contexto social?

Sinto que, em parte, é algo ao qual não consigo fugir muito enquanto ser humano. Porque acho que já nasci um bocado virado para a melancolia, então é algo que acabo por sentir, se calhar com maior intensidade. E às vezes perco muito tempo nos pensamentos, é algo que é mesmo meu. Sinto que, com um arranhãozinho, consigo transformá-lo numa ferida gigante [risos], por ter tendência para a melancolia e para a saudade. Mas, por outro lado, também tem muito a ver com o contexto onde cresci e com a minha carreira na música, com muitas frustrações nessa parte… É um misto de tudo. Os textos têm uma grande parte de revolta que têm a ver com onde cresci, de ter que superar muitas barreiras que na minha óptica… Eu não comecei do zero. Aliás, não sou só eu, há muita gente assim. Nós não começámos do zero. Sinto que começámos do -10. Tive que batalhar por aquilo que supostamente já deveria ser garantido. E depois também senti muita revolta com a indústria da música.



E aproveito para te perguntar sobre a música em si. Nos últimos anos, tens lançado alguns singles, mas não tens dado concertos e, como disseste, tens estado algo mais afastado. É intencional, é uma fase, pretendes voltar em breve a estar mais ativo?

Neste momento, foi intencional. Ainda lancei algumas músicas mas sem divulgar muito e só no Spotify. E eu senti que precisava de parar porque estava a perder muito a minha linha, estava a deixar-me levar muito pelas expectativas e pela cena dos números. E a música começou a ser mais um peso do que algo de que eu desfrutava e me fazia rir. Estava a retirar mais frustração da música do que ânimo. Então decidi mesmo parar. Mas essa pausa não foi definitiva. Eu quero voltar, mas gostava de voltar um bocado diferente, com uma estrutura nova, fazer as coisas de uma forma um pouco diferente das que eu fiz nos últimos anos… Ainda sinto que tenho coisas para dizer e fazer na música. 

A questão de agora conseguires seres auto-suficiente com a tua arte não te dá a segurança de poderes fazer simplesmente a música que queres? Porque, obviamente quando um músico procura dar o salto porque tem um trabalho normal de que não gosta assim tanto, e o que ele quer mesmo é viver da música, se calhar pode ceder mais à tentação de fazer música para as massas, para os números, porque é o caminho mais fácil para fazer mais dinheiro. Mas, no teu caso, sendo que já consegues viver da tua arte, imagino que te poderias sentir mais livre para fazer música…

Isso é verdade e vários artistas disseram-me isso na altura em que comecei a fazer os quadros e as coisas começaram a correr bem. O que acontece é que, neste momento, não sei bem que música é que quero fazer. Porque identifico-me com o boom bap, mas gostava de fazer algo mais sofisticado. Mas, por outro lado, não me identifico muito com a música que está… Identifico-me em certa parte, vá. Estou um pouco perdido nesse sentido. E quando voltar quero que seja com uma estrutura diferente, a saber que tipo de música quero fazer. Não me vejo a fazer outra vez músicas longas com bué conteúdo, letras muito longas. Mas ao mesmo tempo quero manter uma certa profundidade. Então ainda estou a tentar descobrir ao certo qual a fórmula da música que quero fazer, qual a roupagem. 

Sobre a tua relação com a escrita, agora como tens o livro percebemos que um texto tanto pode ser uma letra de uma música como pode viver por si próprio, enquanto texto. É algo que vais sempre fazendo no dia a dia, sentes essa necessidade?

Sim, vou sempre escrevendo. Não tenho escrito muito rap, mas escrevo sempre textos. 

E quando começas a escrever, até pela forma, já sabes logo se é rap ou se pode vir a ser?

Normalmente sei. Quando escrevo rap sento-me mesmo para escrever um rap. Mas já aconteceu várias vezes eu começar a escrever um texto e pegar naquilo para depois o transformar em música. Também acontece. Até porque os meus textos são algo muito fugaz, é uma cena que aparece e eu passo aquilo para o papel. A ideia está aqui, começo a apanhar aquilo, a pôr num papel, vem outra cena e é muito assim. E quando quero fazer rap é como se tivesse aquele ritual todo, de me sentar e de pôr um som a tocar, alguma coisa que me inspire. Existe uma certa diferença.

Trabalhas estas três áreas artísticas. Ainda existe mais alguma expressão que um dia gostasses de explorar?

Eu gosto, mas acho que isto nunca vai passar de um gosto. Até porque quero mesmo manter a cena assim crua. Mas gosto de fotografia. Volto e meia gosto de tirar fotografias, principalmente a preto e branco, mas não vai passar disso. É mesmo algo que quero que fique assim rough, mas é algo que me faz sentir bem e onde também coloco a minha criatividade. Se me meto em mais alguma cena neste momento, também não aguento [risos]. Mas sinto essa necessidade de criar e durante muito tempo aprisionei-a. Limitei-me ao rap. Mas já há muitos anos, estava com o Ary, dizia que queria fazer um livro e isso soava um bocado estranho. Mas já tinha essa vontade, mesmo de desenhar. Sinto muito essa necessidade de criar, inventar. Trabalhei com miúdos nas escolas durante muitos anos, e nem que fosse fazer cabanas… Eu apanhava canas aqui ao pé da minha casa, cortava-as, metia-as no carro e fazia-as na escola… Essa vontade de criar e fazer cenas é algo muito meu. 

E a tua ligação à escrita e às palavras veio de algum sítio em particular? Houve alguém que te incentivou a isso, ou foste tu próprio que tiveste esse gosto desde muito cedo?

Olha, a primeira recordação que tenho de poemas foi de ver uma caixa que a minha mãe tinha guardada com as cartas que o meu pai lhe escrevia. O meu pai vivia em Lisboa e a minha mãe na Madeira. Então eles namoravam através de cartas. E eu gostava muito de abrir aquela caixa e ver as cartas, as fotografias… Isso vem muito do lado do meu pai. Eu soube recentemente que o meu avô paterno escrevia muitos poemas. Cresci também numa casa cheia de livros. O meu pai foi pastor de uma igreja evangélica, até aos meus oito anos, então ele estudou teologia e tinha muitos livros e eu estava sempre agarrado a eles. Mesmo quando não sabia ler, eu gostava dos livros. Sempre que ia a casa do meu avô, ele tinha carradas de livros, sempre gostei muito. É a primeira recordação que tenho e isso fez toda a diferença. Mesmo na escola escrevia textos e volta e meia a professora mandava-os para o jornal da escola. Eu escrevia aquilo sem querer que aquilo fizesse parte de alguma coisa, mas várias vezes os meus textos iam para o jornal da escola e isso aconteceu pelo menos em duas escolas diferentes onde andei não era só a professora que gostava muito de mim [risos].


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