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Fotografia: Adriano Ferreira Borges / gnration
Publicado a: 11/07/2023

Movido a rock, punk e jazz.

Marc Ribot’s Ceramic Dog no gnration: o combóio mistério

Fotografia: Adriano Ferreira Borges / gnration
Publicado a: 11/07/2023

Um quarto. Um compartimento. Exíguos, ambos. Escuros. O negro de uma gare. A madruga que se veste. Meia dúzia com destinos não definidos. Nem partidas, nem chegadas. Esperas. Talvez.

O concerto de Ceramic Dog, de Marc Ribot: qualquer que sejam os músicos que acompanham o compositor e guitarrista nova-iorquino e o álbum que apresente, aferra pé em monólitos graníticos — a carga autobiográfica e um corte transversal entre estilos — rock, punk e jazz. Há que saber escala-los.

gnration, no âmbito do julho é de jazz, com Shahzad Ismaily (guitarra, baixo, eletrónica) e Ches Smith (bateria). Fixar o olhar no prato da bateria. Alto quanto baste. Farol/forte. Um guia seguro do que se pode antever e, sobretudo, entrar para uma hora de concerto. Com eles, meia-dose não consta. De corpo inteiro. Libertação e cura. Total. A apresentação do mais recente trabalho do trio, Connection (2023, Knockwurst Records) é feita a passo ritmado, firme, diligente. Convicção e expressão.

Compartimentos. Canções que acompanham. E nós com ele. O universo autoral é chamamento nocturno. O abraço abraçado que eterniza-se. O corredor que será infindavelmente curto para a extensão das suas/nossas memórias. A tensão entre os ritmos, os discos ouvidos e referências de rotação, sobre o próprio eixo ou de translação, múltiplas — Gang of Four, Captain Beefheart, Iggy Pop, Aloysius Parker, Jun e Mitzuko em Memphis, pronto-socorro e cabines de camiões em ultrapassagens constantes, Clarice Lispector que lê ao ouvido — “Ouve-me então com o teu corpo inteiro“, Trans-Pecos.

Lispector, sempre ela: “Não se compreende música – ouve-se”. Suor amargo. Jazz é isto. Rock também. Punk ao abandono. Grafiti num muro da cidade — “O vírus é o capitalismo”. Mensagens no intervalo de cada tema ditas por Marc Ribot ou nunca afirmadas. Estamos em crer. Acreditamos.

Um quarto. Um compartimento. Exíguos, ambos. O regresso, com manjerico acarinhado na dobra do casaco, contra o vento, com a convicção que o caminho é marginal, na intersecção entre estilos, revivificando o jazz. Aviva. “Soldiers in the Army of Love“, “Ecstacy”, “Heart Attack”.

Na permanente irresolução entre autor e personagem corremos em direcção.

Este fim-de-semana, dias 13 e 14, o julho é de jazz recebe concertos de João Lencastre “Free Celebration” e Kaja Draksler + Susana Santos Silva, respectivamente.


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