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Manuel Reis (1946-2018)

[TEXTO] Pedro Tenreiro [FOTO] Luísa Ferreira

Não posso dizer que tenha feito parte do círculo de amigos de Manuel Reis.

A nossa relação foi de carácter profissional e mais regular durante o primeiro ano do Lux, quando ocupava a cabine do bar, duas quintas por mês, e ele me recebia sempre de forma afável e cuidadosa, fazendo questão que me sentisse em casa.

Para alguém com o seu percurso, com o peso que teve na dinâmica da cidade e na afirmação das várias gerações de criadores que lhe deram vida em áreas tão diversas como a música, as artes plásticas, o design, o teatro ou a dança, era admirável a forma como nunca se sobrepunha às suas realizações e se mantinha sobriamente na retaguarda, mesmo que sempre presente.

Mas a minha admiração pelo Manuel Reis começa muito antes de o conhecer pessoalmente.

Enquanto tripeiro ferrenho e moderadamente bairrista, sempre olhei para aquilo que se passava nos seus espaços como um permanente desafio que importava, pelo menos, tentar igualar.

Lembro-me que, em plenos anos 80, não havia quem fosse passar uns dias a Lisboa que não falasse das suas idas ao Frágil, mesmo quando não tinham acontecido.

A nível musical e enquanto jovem DJ irreverente, com tudo para provar, fazia questão de tentar ir mais longe e estabelecer espaços como o No Sense ou o Lux (sim… no Porto existiu um Lux, uma década antes!) como referências equiparáveis, através de misturas ambiciosas em que os Talking Heads, os Comateens ou os A Certain Ratio se cruzavam com Trouble Funk, Prince, Fela Kuti, Manu Dibango, Kid Creole, James White and The Blacks, Mantronix, Roxanne Shanté, Run D.M.C., Farley Jackmaster Funk, Mr. Fingers ou Marshall Jefferson, numa procura constante dessa modernidade que parecia ter uma casa no Sul.

Anos mais tarde, quando abri o Pitch e assumi a sua programação durante o primeiro ano, tentei que ela fosse tão ambiciosa como a do Lux.

As conversas com o meu sócio João Cari, percebendo a diferença de escala entre as duas cidades, reflectiam sempre o mesmo desejo: o Lux é o grande super clube de Lisboa, vamos fazer o pequeno grande clube do Porto, com a mesma ambição, o mesmo cuidado e a mesma atenção ao detalhe.

A trezentos quilómetros de distância, provavelmente sem que se tenha apercebido, Manuel Reis estabelecia a fasquia que importava atingir, porque as suas realizações se transformaram sempre em modelos que nos incentivavam a tentar chegar mais longe.

Confessar isto é a melhor homenagem que lhe posso prestar…

 


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