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Publicado a: 01/08/2018

O Mago sobre “Terrorismo Mediático”: “Quis satirizar o conceito que temos de terroristas”

Publicado a: 01/08/2018

[TEXTO] Hugo Jorge [FOTO] Direitos Reservados

Novo capítulo da Crónica d’O Mago, novo momento de reflexão. A rubrica do rapper das Caldas da Rainha mantém a tónica nos temas sociais e desta vez dedica as 16 barras ao “Terrorismo Mediático”.

Licenciado em Comunicação Social, o Mago sabe do que fala e, por isso, não hesita em apontar o dedo aos terroristas do espaço mediático. Eles andam aí, nos jornais e nas televisões, armados de desinformação e espalhando o terror. “O objectivo não é esclarecer, é ser o primeiro a lançar a bomba e conseguir ter a atenção voltada para si, e tudo isto vai criando a cultura do medo”, diz-nos.

O segundo capítulo da Crónica d’O Mago, uma rubrica em que cada episódio é uma música, foi o pretexto para esta entrevista onde se fala sobre Correio da Manhã, informação, entretenimento e, claro, música.

 


https://www.youtube.com/watch?v=9YyexXnDTz8


Quando falas de terroristas mediáticos estás a falar de quem?

Falo de quem utiliza os meios de comunicação para espantar a população. Os media nunca se dedicaram tanto ao sensacionalismo como agora, estão obcecados com atentados, guerras, tragédias e tensões, sejam estas políticas, desportivas ou outras.

É claro que o jornalismo de impacto tem maior tiragem e audiência, e essa visibilidade é tentadora, quer pelas vendas directas, quer pela valorização do espaço publicitário. Também é verdade que a concentração mediática é sufocante, que os grandes grupos se movem pelos lucros e que as redacções estão cada vez mais vazias. Há menos jornalistas a fazerem o trabalho de mais e não há tempo para pesquisar ou dinheiro para investigar o que se comunica.

Aí muitos directores, editores e repórteres cedem ao sensacionalismo e transformam-se em terroristas mediáticos que vivem de notícias que impressionam a população, mas que comprometem a qualidade da informação. O objectivo não é esclarecer, é ser o primeiro a lançar a bomba e conseguir ter a atenção voltada para si, e tudo isto vai criando a cultura do medo. O que quero dizer é: terrorista é todo aquele que espalha o terror.

O Correio da Manhã é um deles? É o maior terrorista?

O Correio da Manhã é a representação perfeita do terrorismo mediático. É aquele jornal que se posiciona como tal e que não tenta disfarçar, muito menos corrigir. Não tem o menor objectivo de servir o interesse público, de informar ou de esclarecer, trata-se de uma publicação na qual se nota exclusivamente o intuito de gerar negócio. E simplesmente não tem limites.

É o que mais vende? Sim. E podem dizer que é isso que a população quer. Mas a indústria bélica também é uma das mais lucrativas do mundo e não é isso que a torna legítima do ponto vista humano. Os portugueses são um povo curioso e como tal procuram bastante informação, embora muitas vezes falte critério para seleccionar a qualidade daquilo que consomem. E não será que os próprios órgãos de comunicação deveriam ter a responsabilidade de garantir a qualidade do serviço que prestam?

Não defendo que entremos numa auto-censura e que estes temas virem tabu. Simplesmente não tem sentido ruminar um acontecimento sem aprofundar os temas. E duvido que a maioria dos jornalistas do Correio da Manhã ou CMTV sintam orgulho no seu trabalho.

Para as pessoas/consumidores que estão “presos” à tal cultura do medo, há solução?

Se há solução ou não, depende de cada caso. O que é que cada um está disposto a fazer para mudar? Cada vez que compras, alimentas. Cada vez que visitas uma página, aprovas. Esses são os teus votos para eleger o que será feito a seguir para te ser vendido.

Estamos num momento em que a informação não tem fim, fala-se muito de um tema, alarma-se, espreme-se e depois esquece-se. A sobre-informação e a desinformação podem ser usadas como novas formas de censura, e mesmo com muitos dados podemos continuar igualmente ignorantes. Mas a verdade é que não podemos deixar de nos informar, o que precisamos é de fontes diversas e fidedignas.

Por exemplo, dar prevalência aos meios de referência em detrimento dos sensacionalistas vai reduzir essa intoxicação de ruído e banalidades. Recorrer a diferentes jornais e até mesmo a peças internacionais, se for o caso, permite criar uma perspectiva mais completa e esclarecida. O mesmo acontece ao procurar jornais com diferentes posicionamentos políticos, obtendo assim mais dados e criando a sua própria compreensão daquele tema. Também será muito útil explorar projectos de jornalismo independente.

Terminas dizendo que o quarto poder parece mais interessado em entreter. Mas não está a acontecer o mesmo com a música, nomeada com o hip hop, em que os ouvintes preferem ser entretidos a serem informados?

Sem dúvida que sim. E é mau o público não procurar mais o esclarecimento e anular-se com distracções e “infortenimento”. Mas quanto à música, vejo-a de forma diferente. É uma linguagem de emoções e funciona perfeitamente na ausência de palavras, portanto pode servir de puro entretenimento e não há mal nisso.

Parece que samplaste um sitar. Foi propositado? Fala-me um bocado do instrumental escolhido.

O instrumental é da net, mas sim, escolhi-o pelo seu ambiente. Apesar do sitar ser um instrumento indiano, o beat é samplado da banda sonora do Príncipe da Pérsia e sinto nele um ambiente árabe. E a razão dessa escolha é simples: é muito frequente ouvirmos falar de mais um atentado, mais um bombista ou mais um ataque terrorista, e imediatamente projectamos nas nossas mentes imagens de sangue e sofrimento com um árabe lá no meio. Cada vez mais assumimos, mesmo que inconscientemente, que os árabes são terroristas.

Censuramos hipocritamente o racismo e vários tipos de discriminação, mas na hora da verdade deixamos que nos incutam que um povo em específico é a fonte do mal que há no mundo. Foi por isso que escolhi um instrumental com esse ambiente — quis satirizar o conceito que temos de “Terroristas”, que é criado precisamente por quem faz terrorismo nas nossas mentes.

Já tens ideias para o próximo capítulo? Quando vais lançá-lo?

Sim, a música está gravada e só falta fazer o videoclipe. É uma faixa de punchline chamada “Primeiro Assalto” em que metaforizo os skills de rimas com estilos e técnicas de artes marciais, que são duas das minhas paixões.

Quanto ao lançamento ainda não sei para quando será, os vídeos têm sempre mais condicionantes e são mais demorados. Quero fazer tudo com calma e desfrutar do processo.

Vais continuar a explorar temas com impacto social?

Não em exclusivo, até para que a Crónica d’O Mago possa ser dinâmica e surpreendente. Mas naturalmente que depois do terceiro episódio virão mais temas pertinentes e acutilantes.

 


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