[TEXTO] Alexandre Ribeiro [FOTO] Deck 97
“Casa De Oportunidades” é o primeiro single do álbum de estreia de Macaia. O instrumental é da autoria de The Cratez e o vídeo é captado e editado por Vasco Loja.
Mais conhecido pelas suas participações com Mundo Segundo, o seu mentor, Cálculo, Azagaia, Porte, Kappa Jotta ou Dekor, Emanuel Macaia, natural de Abrantes, atira-se a solo para novos territórios, explorando a sua voz e escrita soulful, que é bastante influenciada pela educação num meio evangélico.
Com hip hop na guelra, o cantor prepara-se para dar um passo importante para a sua emancipação artística. O single de estreia, a carreira a solo, a mentoria de Mundo Segundo e as suas influências foram algumas das temáticas abordadas na conversa de Macaia com o Rimas e Batidas.
“Casa de Oportunidades” é a porta de entrada para o teu primeiro disco a solo. Fala-nos um pouco sobre o processo de criação da faixa, desde a escrita até à produção do instrumental.
O instrumental é de uns produtores alemães que eu conheci através do Mundo Segundo. Regra geral, eles têm uma sonoridade até bastante comum mas houve beats que eu ouvi e pedi logo em casamento. A escrita nem sei bem explicar. Acho que sem esta letra o álbum não faria sentido porque toda a minha vida foi uma luta para ter oportunidades e honrá-las quando as mesmas me aparecerem. É importante para mim perceber que nem toda a gente vai ter o mesmo sucesso, mas que toda a gente vai ter oportunidades. Nem que seja uma. E quando essa chega, se não procurarmos maturidade suficiente para estar lado a lado com a mesma, perdemos o direito de reclamar. Acho que foi algo que fui escrevendo, sem pressas, ao longo do tempo que pensava especificamente neste ponto da minha vida (oportunidades).
O papel de segundo homem ou de convidado tem sido algo recorrente na tua carreira. Este protagonismo, por assim dizer, é algo que desejavas há muito tempo? Estas canções já estão a ser pensadas há anos?
Claro. Eu antes sequer de pensar participar na música de outrem sempre quis fazer algo meu. Só nos últimos cinco anos é que decidi mesmo levar isto super a sério e hoje é a minha prioridade máxima. Mas eu já vivo a música há anos e já imagino um álbum meu, à minha medida, desde os tempos em que gravava em casa de um amigo com o portátil aberto por causa do microfone e da câmara, dentro do guarda-vestidos com almofadas e cobertores à volta. Já faz muito tempo com este desejo.
O Mundo Segundo é uma figura importante na tua carreira. Deu-te algum conselho que consideras essencial para esta nova fase? Consideras o Mundo um mentor?
Deu e não só. Deu conselhos profissionais mas principalmente pessoais. O Mundo Segundo é uma pessoa mesmo muito amiga dos seus. De certa forma acolheu-me e introduziu-me na família dele e isso fez com que tomasse conta de mim. Não que me desse tudo de mão beijada mas fez com que eu sentisse ainda mais necessidade para me preparar da melhor maneira possível. Seja como músico, seja como pessoa. É, sem dúvida, um dos meus mentores.
Tendo em conta que se fala de hip hop, neo-soul, soul e groove no press release, como é que este single se encaixa no resto do alinhamento do disco? Isto é o mais próximo do r&b mais moderno que vais estar ou vamos ter mais deste género?
Na verdade, o disco tem o que eu gosto e quero fazer neste momento. Eu cresci no meio evangélico, estou habituado a harmonias complexas e preenchidas. Gospel puro. Mas também cresci a ouvir o hip hop de Los Angeles. G-funk, jazz, soul. Eu ouço e gosto disso tudo. De certa forma tentei pôr os sentimentos que tenho neste momento em formato áudio. Têm de esperar que o disco saia para ouvirem.
Para alguém que está a entrar em terrenos tão pouco pisados em Portugal, com raras excepções, obviamente, como é que olhas para o cenário r&b/soul português? Consegues reconhecer outros artistas que estão a percorrer o mesmo caminho que tu?
Esse cenário actual não me assusta principalmente porque eu não sou só isso. Eu sou muito mais do que r&b ou soul. Por mais que eu ame cantar. Mas mesmo para as pessoas que o fazem aqui em Portugal, acho que só têm de trabalhar para elas e não para os outros. Ter as pessoas certas e os objectivos traçados. É mesmo honrar as oportunidades.
Quem são as tuas principais referências, a nível nacional e internacional? Parece-me que o hip hop tem um papel importante na tua escrita e entrega…
Eu adoro esta pergunta [risos]. A nível nacional as minhas influências são os Dealema. A nível internacional são o Justin Timberlake e o J. Cole.
São estes três por várias razões, mas principalmente pela maneira como eles moldaram a minha personalidade. Quem ouve Dealema, e me conhece, sabe que eu sou “dealemático” em muitas coisas [risos]. Não tenho mesmo problemas e faço questão de mostrar “quem fui, quem sou, de onde vim, para onde vou, com quem estive e com quem estou” mesmo que faça parte da minoria.
O Justin Timberlake é o artista mais completo pra mim. Para a geração anterior se calhar foi o Michael Jackson mas para mim, o Justin é fera. Em criança imitava-o em imensas coisas, sabia as melodias das músicas deles, desde os coros aos adlibs. Mesmo sem saber inglês nenhum na altura.
E o J. Cole é o melhor poeta de sempre. A escrita dele faz com que eu seja o seu irmão mais novo, o que faz com o que Harold seja meu irmão [risos]. A música dele, para mim, é uma das melhores definições de hip hop nos dias de hoje. Hip hop é educação. Seja em que área for, eu acredito que hip hop é educação e o rap do Jermaine parece aquelas aulas com os professores que os alunos gostam e até cumprimentam nos corredores da escola! Por isso de certa forma tenho muito hip hop em mim.