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Fotografia: Deck97
Publicado a: 13/01/2020

Papillon, Ana Rodrigues, Ace, Kid Simz e Zana Macaia são alguns dos nomes creditados em Subimos Todos.

Macaia: “O álbum é um presente para os meus”

Fotografia: Deck97
Publicado a: 13/01/2020
Editado em Outubro do ano passado, Subimos Todos é o primeiro disco de Macaia, cantor que se estreou dessa forma a solo depois de ter deixado a sua marca em várias canções de outros artistas nos últimos anos. O registo, com beats de Ace, Kid Simz e do próprio artista, entre outros, desdobra-se em diversas sonoridades, do hip hop ao gospel, um género pouco explorado em Portugal mas que faz parte do “ADN” do portuense. Antes de se lançar a 2020, falámos com o músico sobre o propósito e a construção deste longa-duração em nome próprio.

Na “Casa de Oportunidades” cantas que o Subimos Todos foi uma conquista: “Mano eu consegui, não baixei os braços”. Já tinhas este disco pensado há muito tempo? Não, de todo. Este álbum foi uma fase da minha vida. Comecei a gravá-lo com o Mundo [Segundo], era para ser ele a compor os beats mas acabou por ser o produtor-executivo. Em 2017 gravei a primeira música, e depois fui gravando consoante a minha disponibilidade. Algumas cenas já tinha escrito, outras não, não foi nada programado. Eu tinha um álbum quase completamente desenhado na minha cabeça, mas, quando comecei a trabalhar com o Mundo, acabei por fazer uma cena muito diferente da que tinha imaginado. Eu tinha começado a trabalhar com o Reis [produtor], mas as ideias que tive com ele deixaram de fazer sentido. Elas poderão vir a fazer sentido num álbum a posteriori, mas neste momento não. Voltando ao teu propósito, dizes que este álbum tem o de “incentivar as pessoas a aproveitar todas as oportunidades que a vida traz”. Ao mesmo tempo, falas de relações (“Foram Tempos”), saudades de casa (“Areia Vermelha”), entre outros temas mais biográficos. Na verdade este álbum não é para mim. Não o fiz para ser “o meu primeiro álbum”, não foi esse o meu mindset. Eu fiz este álbum para passar a mensagem de que com relações, trabalho, espiritualidade, etc., o simples não chega. Às vezes as pessoas acreditam que o mínimo chega, isso vê-se muito em Portugal. Pensam, “eu só vou trabalhar melhor se o meu patrão estiver na loja comigo”, “eu só vou trabalhar melhor se receber mais”, e não é suposto a vida ser assim. É suposto tu dares sempre o teu melhor. Em relações, por exemplo. As pessoas dizem muitas vezes que é normal cansarem-se umas das outras e as coisas não resultarem. Isso é normal, mas também devia ser normal tu seres corajoso o suficiente para assumires um compromisso e ultrapassares os limites que a sociedade te impõe. Tens que estudar a tua vida e o teu quotidiano e ver onde está a oportunidade para seres melhor. É curioso dizeres que o álbum não é para ti. Em teoria, não fazemos arte por nossa causa? O álbum faz sentido para mim, obviamente, mas é mais um presente para os meus. Não é à toa que se intitula Subimos Todos. Eu não consigo alcançar nada na minha vida sozinho e, mesmo nas questões de que estamos a falar, não cheguei a estas conclusões sozinho. Imagina que eu sou produtor, e quero ser o melhor produtor de sempre. Para ser o melhor produtor de sempre tenho que estudar os melhores produtores actuais, no mínimo. E na vida é um bocado assim, se queres ser o melhor tens que aprender a sê-lo com alguém melhor do que tu em qualquer matéria (orgulho, gestão do dinheiro, tudo e mais alguma coisa) e usares esse conhecimento. Eu percebo que seja difícil admitir isto, de que temos sempre que melhorar ou que temos que ir contra o que 99% das pessoas diz, só que eu acho que a vida pode ser mais do que isso. A dica do álbum é essa. Isso parece-se relacionar com a tua espiritualidade, que já referiste. Achas que este álbum é religioso nesse sentido? Ou seja, tem objectivos morais, de passar valores? O álbum é o reflexo da minha vida como alguém que tem Deus como o seu ponto de partida e o seu ponto de chegada. Não faço propaganda nem é uma bandeira que estou a levantar, mas [o álbum] tem a essência de alguém que segue Deus. Produziste algumas das músicas do álbum (“Intro”, “Meu Amigo” e “Cego, Surdo e Mudo”). As restantes têm o trabalho de diferentes produtores. Como funciona a produção aqui — tens a ideia da música antes do beat ou compões em cima do beat que te dão? Não há fórmula. Há pessoas que antes de se deitarem visualizam o outfit do dia seguinte. Eu não sou assim, nem com a roupa nem com as músicas. Há músicas para as quais tenho a letra pronta, há outras em que tenho o beat. Cada caso é um caso. Há dois elementos musicais que percorrem e decoram o Subimos Todos. O primeiro é o piano. Tiveste formação de piano clássico, tens o 5º grau. Não o consegues desligar de ti enquanto produtor? Não, e às vezes isso é mau. Eu toco piano desde os quatro anos, quando estou a produzir ele é a minha muleta. Neste projecto até tentei usar o piano como se fosse um adereço e não a base. Acho que o piano está sempre presente, mas em algumas músicas está mais dominante e noutras é só mais uma track. Sim. Varia também do input dos produtores, do que eles querem fazer com ele [o piano]. A par do piano, o álbum é acompanhado por coros, teus ou de amigos, que tanto se sobrepõem como se subpõem à tua voz. Querias ter estes coros desde o primeiro momento? Sim, desde o início. Regra geral, eu componho as músicas imaginando várias vozes em certos momentos. Eu cresci na igreja, para mim o coro está no ADN. Sempre que existir espaço, eu gostaria de usar coros. Também gostaria de os ter ao vivo. Como tomaste a decisão de usar coros da tua voz em certas malhas e um coro gravado noutras? Quando quero mais massa sonora, mais corpo, prefiro um coro gravado. O take pode ficar bonito só com a minha voz, mas não tem o mesmo peso que um coro de várias vozes, porque o timbre não é único. Para além disso, sempre que posso, tento introduzir os meus amigos em cenas minhas. Lá está, é o Subimos Todos. Não faz sentido fazer as coisas sozinho. O álbum termina com uma gravação amadora que resume todo o propósito do álbum. O que é este “Outro”? É a gravação de uma amiga minha que escreve poemas. Ela tem uma página no Instagram. Na fase final de produção, estava a ler a página, descobri este poema e não consegui acreditar, porque parecia quase a assinatura do álbum. Liguei-lhe e disse que precisava do poema para acabar o disco. Ela foi ao estúdio onde eu trabalhava, gravou mas a cena ficou demasiado profissional. Então pedi-lhe para gravar um áudio no WhatsApp. Ela gravou e foi o que eu acabei por usar. Quais são os teus planos para 2020? Os meus planos são arranjar concertos e lançar outras cenas, mais enquanto produtor do que cantor. Um EP que ajudei a produzir de r&b/ neo-soul, um projecto de vinil e outras coisas minhas, ainda não sei em que formato. As novidades estão aí, mais perto do que se possa imaginar.

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