LP / CD / Digital

Mac Miller

Swimming

Warner /2018

Texto de Alexandre Ribeiro

Publicado a: 13/08/2018

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Dois anos separam The Divine Feminine (2016) de Swimming (2018), os dois últimos álbuns de Mac Miller. No primeiro, o rapper vivia um conto-de-fadas com Ariana Grande; no segundo, o caldo entornou-se e foi tudo por água abaixo. Afinal de contas, o amor até pode ser vivido com bastante intensidade e esgotar-se rapidamente. O problema está nas marcas que deixa. Porém, e esta é uma grande prova de maturidade do artista de Pittsburgh, Pensilvânia, o novo disco não entra em jornadas de vingança ou caminhos tortuosos. Pelo contrário: Swimming é um mergulho nas profundezas do ser, uma tentativa de se equilibrar nos seus próprios pés sem deixar a escuridão entrar. O quão fácil e poético seria fazê-lo…

À primeira vista, o novo conjunto de canções pode parecer mais solitário do que o seu antecessor, mas tudo muda quando olhamos para os créditos. J. Cole, por exemplo, produz “Hurt Feelings”, puxando as vibrações trap-friendly de KOD. Logo a seguir, a indecorosa linha de baixo de Thundercat “alimenta” uma equipa composta por Pomo (que repete a fórmula “gulosa” e funky de “Dang!”), Snoop Dogg, DâM-FunK e Syd (The Internet) em “What’s the Use?”. Flying Lotus deixa a sua aura misteriosa e obscura em “Conversation Pt.1”, faixa que conta com a produção de Cardo e Yung Exclusive, dupla que teve mão em temas como “goosebumps” (Travis Scott), “THat Part” (ScHoolboy Q) ou “God’s Plan” (Drake). John Mayer, DJ Dahi e Steve Lacy também têm uma palavra a dizer. Quando quiserem falar de uma música que provavelmente não receberá a atenção devida, não se esqueçam de “Jet Fuel”. O casamento entre a guitarra de Lacy e o trompete de Daniel Hardaway é um dos momentos mais deliciosos do disco.



Logo de seguida, “2009” é a canção mais honesta de Swimming e em que o poeta é tudo menos fingidor. Abre-nos o coração com um arranjo de cordas e piano que remete para o século XIX e Eric G, um dos artesãos da equipa de 9th Wonder na Jamla Records, arranja forma de encaixar estrategicamente as drums, dando espaço para um daqueles desabafos tão simples que nos fazem sentir o peso do passado e das acções que ficaram lá trancadas:

“It ain’t 2009 no more
Yeah, I know what’s behind that door”

Sim, só isto.

Verdade seja dita, todos os nomes creditados no álbum são “apenas” parte da orquestra conduzida pelo maestro Miller, que pegou em cada um e usou (e abusou) do que tinham para dar — Jon Brion, esta é para ti. A sua voz flui calmamente em cima de cada beat, aproveitando o tempo de antena para divagar sobre riqueza,

“I know I probably need to do better, fuck whoever
Keep my shit together
You never told me being rich was so lonely
Nobody know me, oh well
Hard to complain from this five star hotel”

solidão,

“My regrets look just like texts I shouldn’t send
And I got neighbors, they’re more like strangers
We could be friends
I just need a way out of my head
I’ll do anything for a way out
Of my head”

independência,

“I pay the cost to see apostrophes
That means it’s mine, keep to myself, taking my time”

ou amor.

“Let’s go back to my crib and play some 45s
It’s safer there, I know there’s still a war outside
We spend our nights all liquored up, our mornings high
Can you feel it now?

A Rolling Stone tem razão: este é o disco mais ambicioso da carreira de Mac Miller. Está a unir as rimas com as cantorias como nunca o fez antes (e longe das comparações com o todo-poderoso Drake) e, pelo caminho, deixa vida em cada verso, algo que agarra o ouvinte e obriga à repetição contínua das 13 músicas. O segredo está na falsa simplicidade: existe muito pormenor sónico e de escrita para descobrir.

Mais Here My Dear, de Marvin Gaye, do que 808s & Heartbreak, de Kanye West, ou For Emma, Forever Ago, de Bon Iver, Swimming entra directamente para a lista de álbuns que deves ouvir depois de terminar uma relação, mas que cai bem em qualquer altura. É de fácil ingestão, mas de longa digestão. Mac Miller escreveu direito em linhas que já estavam tortas há alguns anos. Podem ligar as luzes do estúdio: o amor próprio também se canta (e bem).


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