pub

Fotografia: Hugo Lima
Publicado a: 20/08/2023

Fechar os trinta anos de festival com chave de ouro.

Lorde no Vodafone Paredes de Coura’23: a rainha do “Couraíso”

Fotografia: Hugo Lima
Publicado a: 20/08/2023

Não era suposto estar a escrever-vos este texto. Acabei de chegar a casa e era suposto ir dormir depois de mais de oito dias perdido por mais uma edição do Vodafone Paredes de Coura. Estou estafado. Emocionalmente e fisicamente. A minha tenda colapsou e inundou durante o dilúvio noturno de 18 para 19. A minha roupa cheira a cão molhado. De “Couraíso”, houve muita chuva à la Coura e muito pouco paraíso nestes últimos dois dias. Estou triste por já ter terminado.

Mas olhem, aqui estou a escrever-vos! Um mal necessário, pois o camarada Paulo Pena, que até então havia contado as suas aventuras pelas margens do Taboão nos primeiros três dias de festival, não conseguiu chegar ao recinto neste último dia em Coura por problemas técnicos de foro automóvel. Azar gigante, pois esta noite de sábado (dia 19) está já inscrita nos anais da história do Paredes de Coura como uma das grandes noites de sempre do festival. A grande culpada? Uma rapariga neozelandesa de seu primeiro nome Ella. Ou seja: Lorde.

Por onde começar? Podia escrever este artigo como escreveria normalmente uma reportagem. Terceira pessoa, o Rimas e Batidas viu, o Rimas e Batidas contemplou. Porém, vários problemas. Problema #1. Como referido, não era suposto estar a escrever este texto. Logo, não existem notas – apenas memórias. Problema #2. Fui a este último dia de Paredes de Coura com o principal propósito de ver o concerto da autora de Melodrama (2017) e, portanto, estava mais focado nisso que noutra(s) coisa(s). Porém, breves notas sobre o resto: Lee Fields, ao final da tarde, deu um concerto recheado de alegria; continuo a não gostar de Sleaford ModsExplosions in the Sky estiveram próximos de me levar às lágrimas com o pós-rock do icónico The Earth Is Not a Cold Dead Place (2003); Wilco levaram-me às lágrimas com “Impossible Germany”.

Foi o anúncio de Lorde como parte do cartaz da 30ª edição do Vodafone Paredes de Coura que me fez comprar o passe para o festival. Mesmo que não tenha grande apreço por Solar Power (2021), disco que tecnicamente ainda veio a apresentar a Paredes de Coura (ou “Porto”, como fez questão de lembrar várias vezes durante o espetáculo), partilho uma relação de muita proximidade com a restante discografia da artista.

Primeiro, Pure Heroine, disco de estreia lançado quando Ella era ainda uma adolecesnte no já longínquo ano de 2013, que a consagrou como a voz mais excitante de uma nova pop. Para mim, o disco significa (literalmente) crescer. Foi ao som de canções como “Royals” – com a qual abriu o concerto – e “Ribs” – que berrei bem alto ao lado de outros tantos fãs acérrimos – que me fiz gente. Depois, Melodrama. O meu disco favorito de pop de sempre. Um disco que me acompanha desde o momento em que foi lançado e que já me fez chorar e dançar inúmeras vezes. Sinto que me compreende. A pop excelente tem disso. Oferece um conforto especial e renova-nos a esperança. O concerto de Lorde nesta noite de sábado renovou-me. 

Não sei se sou a mesma pessoa que era há um concerto de Lorde atrás. Posso estar a ser ligeiramente enviesado, mas vou afirmar o seguinte: o espetáculo de Lorde no Vodafone Paredes de Coura foi não só o melhor da edição deste ano, como foi o melhor concerto deste ano em Portugal até ao momento. Ponto final. Parágrafo.

Foi um momento de total extâse, libertação, comunhão, todos esses sinónimos e palavras parceiras ligadas num único momento de mais de uma hora de duração que não poupou muitos a lágrimas. A mim, certamente, não poupou. Ouvir “The Louvre” ao vivo? Não merecemos canções pop como esta. Cantar “Liability” lado a lado com outros tantos que, certamente, já se sentiram como peso para outros? Baba e ranho, amigos, baba e ranho. “Supercut”? Só não é a melhor canção pop de sempre porque há umas quantas da Kate Bush que existem. Mas naquele momento, foi. Com Lorde, dançamos. Eu e outros tantos. Ela pediu. Com Lorde, choramos. Eu e outros tantos. Ela não pediu. Mas emocionou-se ela também.

Mesmo antes de “Liability”, Lorde contou-nos uma história sobre o seu primeiro concerto em Portugal. Foi no Rock in Rio, em 2014. Digressão do Pure Heroine. Contou que foi dos primeiros concertos que deu onde sentiu que havia algo de diferente. Que havia um amor diferente, que se sentiu compreendida. Em Coura, do público para Lorde (até ramos de flores voaram), de Lorde para o público, preenchido por pessoas de várias faixas etárias, houve muito amor. Há sempre. É um local único. De compreensão. O que Lorde não sabe é o seguinte: se ela se sente compreendida por quem canta a altos pulmões as suas canções, o que sentimos nós, meros mortais, a cantá-las? Não sei explicar. Sei que chorei. Sei que outros tantos choraram.

Escutando músicas novas (“Silver Moon” e “Invisible Ink”) ou canções mais antigas (“400 Lux” ou “Buzzcut Season”), aconteceram coisas mágicas à beira-rio. Lorde emocionou-se. Todos nós, ali a vê-la dançar, aparentemente feliz, também nos emocionámos. Eu certamente me emocionei – não fosse todo este recital de pop terminar com “Green Light”, canção fantástica que abre Melodrama, preenche corações, e faz-nos soltar emoções. Estou sentado num sofá a escrever-vos este texto. Estou cansado. Deitei uma ou outra lágrima a fazê-lo. Aos 30 anos de festival, Paredes de Coura continua a ser diferente dos outros. Não há local como este. Não há público como este. Ainda bem que o regresso de Lorde a Portugal foi neste sítio tão especial. E o meu – e imagino que o vosso – regresso já está marcado: de 14 a 17 de agosto de 2024. Nas margens do Taboão. Lá nos vemos.


pub

Últimos da categoria: Reportagem

RBTV

Últimos artigos