pub

Fotografia: Miguel Chocobai
Publicado a: 18/09/2020

Mais um criador de bangers na casa de Richie Campbell, Plutonio e companhia.

Lord XIV: “Sem a Bridgetown não tinhas música minha”

Fotografia: Miguel Chocobai
Publicado a: 18/09/2020

Poliglota, emaranhado (pelo menos até há bem pouco tempo) e distante. São três palavras que saltam à cabeça quando tentamos desvendar o percurso de Lord XIV, mas vai muito para além disso. Com uma carreira musical que floresceu entre França, Inglaterra e Portugal, o rapper encontrou em Cascais, vila onde nasceu, a orientação que precisava para agarrar no microfone e soltar versos.

Lord XIV é a fusão entre o engenheiro de som e o menino da avó (a quem pediu o dia de aniversário emprestado para o seu nome artístico). Entre o francês, o inglês e o crioulo, eis o mais recente afiliado da Bridgetown, que acaba de lançar um novo single, “TDS”, com produção de DJ Dadda.



Lord XIV, esse nome vem de onde?

O Lord é simplesmente uma questão de imagem e de lifestyle… de lorde. Agora, o XIV é mesmo só porque a minha avó, de quem sou muito próximo, nasceu dia 14 de Outubro. Na altura em que me lancei o meu manager sugeriu-me que juntasse qualquer coisa ao nome, porque havia Lordes a mais…

Tu nasceste em Cascais, depois foste para França e, com 16 anos, vais para Londres… imagino que tenhas ido arrastado pela tua família. No meio disto tudo, onde é que aparecem o rap e a música?

O rap, directa ou indirectamente, sempre esteve presente, porque em França muitos dos meus amigos gravam as suas próprias músicas. Mas nunca tinha feito coisas minhas ou para mim, apesar deles terem os projectos locais que iam fazendo. Entretanto fui para Inglaterra, and that’s when I got deep into music. Fiz um curso de engenheiro de som e foi daí que me comecei a interessar por produção, não propriamente por rap.

É que agora apareces como rapper… 

A transição foi feita porque comecei a trabalhar em produção e a estar em estúdio mais tempo. Depois de Inglaterra, vim morar para Portugal e passava quase todos os dias em estúdio com o Plutonio. Foi daí que um dia ele me sugeriu que fizesse adlibs. Os anos foram passando e eu nunca pensei em cantar nada, mas fiz uma vez umas frases num som dele, que se chama “NTM” [faixa de Preto & Vermelho], os anos foram passando e mandei-lhe uns voices de umas ideias que tinha gravado para um artista da minha label independente. Ele e o Richie Campbell ouviram e disseram-me que estava bom, que devia tentar gravar. 

Foi mais o rap a vir ter comigo, do que eu a ir ter com o rap. O meu primeiro tema era uma ideia para um outro artista. Quando o enviei ao Plutonio, ele estava com o Richie e eles gostaram, mas achavam que devia ser eu a gravar a música e eu não liguei nenhuma.

A minha primeira música foi a “IENCLI“, esse foi o meu primeiro single, e até aparece no fim do “Lucy Lucy” como um sample. E foi a primeira música que gravei a minha vida toda, no estúdio da Bridgetown. Daí, como estou sempre entre Inglaterra e aqui, acabei por voltar para lá e fiz outras músicas. Nesse pacote de músicas estava o tema que acabei por gravar com o Plutonio. Ele ouviu, gostou and we got the job done.

E porque é que, depois de teres estado em Inglaterra onde a indústria musical é enorme, voltaste para Portugal?

Portugal é onde eu tenho a minha avó. Portugal sempre foi a minha base. É casa. É casa em termos de tudo… da família, dos amigos… E como cresci com a minha avó tenho uma ligação muito grande com ela e volto sempre para junto dela. Então quis estar ao pé dela, aqui. Por outro lado sabia que tinha cá o Plutonio, com quem podia trabalhar, e o trabalho enquanto engenheiro de som estava-me a colocar demasiadas regras. Tinha que estudar muito. Então pensei “i’m just gonna go to Portugal and see what happens“.

Vieste com a ideia de trabalhar na indústria musical, portanto.

Vim mesmo trabalhar com o Plutonio e para estar no estúdio com ele. 



Mas há aqui uma coisa que não estou a conseguir processar. Tu vieste de Inglaterra para Portugal, estás-me a responder meio em português, meio em inglês, mas todos os teus temas são predominantemente cantados em francês e produzidos em Portugal. Queres-me explicar este triângulo linguístico?

É que, para mim, a minha primeira língua é o francês, porque nunca estudei em Portugal. Nunca andei cá na escola, fui directamente para França. Então, dos 5 aos 16 anos era só francês, pelo que até hoje é a língua na qual me expresso melhor. Se bem que agora compete um pouco já com o inglês, mas estou sempre muito mais à vontade a cantar em francês do que em inglês. Não foi nada que eu tenha decidido, simplesmente foi a primeira língua que saiu quando comecei a cantar. 

O mercado musical francês está a crescer e há coisas muito fixes a serem feitas. Contudo, em Portugal a única pessoa que me estou a lembrar que tenha tentado cantar em francês foi o Jimmy P, que acabou por largar essa ideia. Nunca tiveste receio que não houvesse mercado para a tua música em Portugal?

A dificuldade existe da mesma maneira que existe com outros géneros ou outras línguas, mas acho que da forma como as pessoas consomem música nestes dias… a música torna-se mais um feeling do que outra coisa. Dou-te o exemplo do Burna Boy, que não fala só inglês e que tem gente em Portugal a ouvir o que faz. A dificuldade é conhecida, mas não é por isso que vou abrandar ou ter medo. I just do music. If you feel me, you feel me.

Trabalhaste do lado de lá, como engenheiro de som e agora estás a dar voz aos teus próprios temas. És tu quem produz as tuas músicas?

Não, não não… eu não produzo. Normalmente os beats são da Internet, ou tenho alguns producers in house da minha produtora. O mix dos temas também não faço, mas trato das vozes antes de mandar para o mix no estúdio em Inglaterra onde gravo. Gravo quase sempre lá. 

No meio disto tudo, e de alguns singles lançados, vem aí mais um tema com o DJ Dadda. Foi diferente do que estavas habituado?

Sim, agora tenho um beat à minha medida em que o Dadda encaixou perfeitamente na ideia e na vibe que tinha para aquele som. É uma vibe nova que as pessoas que me conhecem ainda não tinham ouvido. 

Eu nem sei bem onde encaixo porque gosto de fazer um bocado de tudo. Tenho uma grande influência musical, ouço mesmo de tudo: desde jazz ao funaná, a acabar no afro. Ouço mesmo de tudo, então i don’t really put myself in a box, mas se tivesse que responder alguma coisa mais concreta seria afro.

É que sinto mesmo que este novo tema, por exemplo, não tem nada a ver com o “Zona”, que também não tem nada a ver com o “Paycheck”, em que entra o Plutonio. Então é muito difícil responder a isto, até porque eu tenho para ai mais cento e tal sons gravados. Não é só o que já foi lançado.

Tu vieste para Portugal trabalhar com o Plutonio. O Richie Campbell ouviu os teus temas e fez sugestões. Gravaste uma música com o Dadda. Já és um membro da família Bridgetown?

Bridgetown is the house, it’s literally the structure. Sem a Bridgetown não havia produto final, não tinhas música minha. 


pub

Últimos da categoria: Entrevistas

RBTV

Últimos artigos