pub

Fotografia: Pedro Jafuno
Publicado a: 15/02/2022

Beats com um compromisso de construção.

Loraine James | Photonz | ZDB: uma sequência luminosa

Fotografia: Pedro Jafuno
Publicado a: 15/02/2022

For You and ILoraine James (2019). For You And I uma expectativa em relação a um concerto que só se sentia em tempos mais ou menos remotos, um trabalho que se vai acompanhando relativamente de perto, mas merecedor de toda a atenção, misturado por um sentimento de perda — não ter ido à edição do ano passado do Mucho Flow ainda é travo amargo que custa em desaparecer. For You and I de um regresso à ZDB, das noites em que o corpo obedece a uma mente limpa, com vontade de dançar, o corpo e a alma. Dançar contigo, com quem se encontra em redor e com todas as recordações mais ou menos recorrentes – de Gatekeeper (2013), ao Rocks e ao mais longínquo concerto aí de Underworld (1995). Bons momentos que te acompanham numa sequência luminosa.

Chegada pontual. Evitar a confusão de um Bairro Alto que se torna território distante enquanto espaço de existências significativas, será que ainda as há? O aquário que se revela no seu gesto acolhedor e rigorosamente preparado. Colocação das luzes meticulosa e um som de uma qualidade excepcional, cada vez mais a imagem de marca de quem o cuida – Kellzo. A primeira batida atirada por Photonz, em substituição de Phoebe, e em que tudo começa a bater, passe o pleonasmo, onde tudo encaixa num sentido largo e não previamente definido. A primeira parte de um set, das 22 à meia-noite. A sala ainda a compor-se, onde cada ritmo não é mero exercício de técnica, se é que houvesse a necessidade de o demonstrar, antes de uma linguagem que se afirma com cada vez mais segurança na construção de uma intensidade e diversidade. De uma realidade alicerçada em mecanismos próprios e que facilmente se identifica nas suas diversas manifestações – no campo editorial – naive – num dos projectos radiofónicos mais interessantes de que há memória – Quântica – e ainda nas festas em locais secretos – mistura de activismo e festa, afinal a revolução ainda se faz dançando e é honra permanente a Emma Goldman – “Se não puder dançar esta não é a minha revolução”. Photonz foi e é imagem de um dos colectivos mais transgressores e deslumbrantes (existirá sempre direito ao glitter) da cena actual.

E agora — Loraine James. Momentos de espera estendidos até ao limite. A imensa liberdade dos corpos que vão ocupando o seu espaço na fronteira conferida pelo aquário, mas que largamente a extravasa. Um sentimento de partilha e simultaneamente de liberdade individual máxima, como que a tangente desse campo enorme que se abre à nossa frente estivesse devidamente identificada – a mesa de Loraine – mas que rapidamente se transforma num Planetary Spirit (nome roubado ao mais recente EP de Photonz). 

Loraine James é imagem de uma cena londrina, sem dúvida, mas de uma Londres enquanto referencial para os diferentes cruzamentos — culturais, de género, de uma geração comprometida com uma ideia de futuro que se constrói na esperança da afirmação e respeito de cada identidade. É música luminosa, de ritmos, melodias e muito flow. É ficar petrificado por cada caminho que se acha na introdução inesperada de um beat. Já no final, quando aparece em cena a amiga de Loraine a pedir que se grite, a resposta não é efusiva. Afinal, o melhor fica guardado para cada um.

Ter esperança no futuro é raridade, mas há momentos assim. E a noite vai com a segunda parte do set de Photonz.

pub

Últimos da categoria: Reportagem

RBTV

Últimos artigos