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Fotografia: Lisb-On
Publicado a: 09/09/2019

Róisín Murphy foi o momento alto na despedida da edição deste ano.

Lisb-On’19 — Dia 3: uma última dança

Fotografia: Lisb-On
Publicado a: 09/09/2019

Lisboa despediu-se ontem de mais um festival, sinal de que a vaga cultural veraneante está prestes a chegar ao fim. Não sem antes, claro, nos ter proporcionado mais algumas horas de dança no Parque Eduardo VII, naquele que foi o dia mais calmo de todo o certame.

Domingo é o dia que tradicionalmente associamos às nossas famílias e isso reflectiu-se bastante na lista de visitantes do Lisb-On. Muitos daqueles que riscaram no calendário os dias 7 e 8 de Setembro decidiram não comparecer na hora do “adeus”. Em contrapartida, embora em muito menor escala, grupos de pais e filhos invadiram o recinto à procura de um programa cultural fora do habitual.

A música acompanhou toda esta mudança do público e o ambiente tornou-se mais descontraído e casual — as pessoas estavam mais dispersas, mais interessadas no convívio, nas leituras de fim de tarde ou nos jogos de grupo, como cartas ou frisbee; havia até quem estivesse apenas de passagem, aproveitando as regalias do passe de três dias para beber um copo antes do Brunch Electronik, outro foco no circuito da música de dança a poucos quilómetros dali que apresentava um programa muito mais raver.

A nossa chegada ao Parque Eduardo VII deu-se por volta das 17 horas, estava Mary B já a esgotar os seus últimos minutos de antena no palco principal. Seguiu-se uma curta pausa para a troca dos equipamentos, até que Igor, também conhecido como Ghettoven e nomeado hostpara os três dias do evento, segurou uma vez mais no microfone para nos apresentar DJ Vibe.

É inegável que Tó Pereira continua a ser um dos grandes nomes da electrónica em Portugal mas o espírito que envolveu o Lisb-On no seu último dia pediu-lhe um alinhamento mais “contido”. House a lume brando, a fazer lembrar alguns clássicos mais mellow de Chicago, acompanhava na perfeição o esconder do sol. Jamie Principle, nome histórico dentro do género, foi o grande trunfo para a actuação de Vibe, aparecendo por várias vezes em palco para cantar alguns dos temas clássicos aos quais deu voz ao longo das últimas três décadas.

Quando o relógio bateu nas 19h45, Igor voltou a subir ao palco para nos apresentar uma das suas “maiores inspirações”. As caras que se encontravam dispersas foram, a pouco e pouco, aproximando-se do Main Stage, até que se formou a maior plateia do último dia do Lisb-On. O motivo era a actuação da irlandesa Róisín Murphy, a artista que deu voz aos Moloko e que desde o início do presente milénio se tem apresentado a solo com temas pop parcialmente vestidos de electrónica, influenciados pelo house, funk e disco clássicos.

O espectáculo foi o mais divertido de todo o festival. Quase sem se dirigir ao público entre músicas — que foi incansável nos aplausos e sorrisos para com a cantora —, Róisín comunicou connosco através das músicas que tão bem lhe conhecemos — “Overpowererd” foi talvez o momento alto da sua apresentação —, mas sobretudo de forma visual. Entre temas, a performerque aparecera em palco com uma longa saia de padrões esverdeados rapidamente tornou o adereço num colete, pouco depois abandonado e trocado por uma nova peça. O chapéu de palha deu lugar a um cap branco, que a seguir se tornou cinzento. O mesmo processo de mutação foi aplicado aos óculos de sol, que muitas das vezes ficavam apenas nas mãos da artista, no meio de movimentos de dança robóticos, enquanto encarava a sua plateia e respondia com o entusiasmo de uma verdadeira mulher do showbiz estampado na cara. A acompanha-la estavam mais quatro músicos, que se dividiam entre bateria, guitarra, baixo e teclas, todos eles com uma pequena secção de percussão à disposição, atribuindo um tom orgânico aos grooves mecânicos pré-gravados que não passavam de meros panos de fundo tal era a forma enriquecida com que o quinteto abordava cada faixa.

Com os pés a pedir por uma última dança e o estômago a exigir a digestão do jantar, arriscámos uma vez mais na Treeshouse para conhecer Vera e Zip pela primeira vez. A primeira esteve em cena até às 21 horas, uma DJ alemã que disparava breakbeats disfarçados de techno nas suas mais variadas ramificações — do minimal ao acid. Quem se lhe seguiu foi Zip, co-fundador da Perlon, a par com Markus Nikolai, que tinha actuado três horas antes no mesmo palco —, um verdadeiro explorador da electrónica que arriscou mais do que a sua antecessora ao oferecer à pista de dança uma abordagem virada para o lado experimental.


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