pub

Publicado a: 04/09/2017

Lisb-On – Dia 3: Lua cheia e disco no parque

Publicado a: 04/09/2017

[TEXTO] Diogo Pereira [FOTOS] Rodrigo Morais e Manuel Abelho

O terceiro e último dia do Lisb-On foi inteiramente dedicado à música de dança, com sets quentes e melódicos dos alemães Motor City Drum Ensemble, Move D e DJ Koze, numa noite de lua cheia e sabor a disco.

O warm-up esteve a cargo do português Mike Stellar e do seu techno sinfónico, feito de loops de cordas e texturas ambient em cima de suaves batidas downtempo, que depois evoluiu para algo mais étnico e tribal, misturando tudo desde fortes tambores africanos e um delicado gamelan até cânticos gregorianos e um bansuri, instrumento indiano de sopro para encantar serpentes. Um set longo e ecléctico que correu todos os géneros da electrónica, desde o dub ao acid jazz e ao techno de Detroit. Quem também gostou foi uma quarentona bronzeada de vestido polka-dots a dançar de braços no ar numa espécie de ritual dionisíaco. Destes momentos se fazem os festivais.

Continuámos com o trip hop fumarento e cheio de baixo do britânico Nick Craddock (cuja perna engessada não o impediu de subir a pequena e trepidante escadaria até ao palco e tocar, gesto que merece louvor), em território Fila Brazillia, ao qual acrescentou kicks profundos a bater forte e um redemoinho de breakbeats a roçar o drum’n’bass.

 


lisbon_dia3-4


Seguiu-se Move D, que abriu o seu set com um conhecido sample de Dexter Wansel para fãs do clássico de DJ Cam “Dieu Reconnaîtra Les Siens”. Ainda no campo do acid jazz, continuou com outro clássico, desta vez cortesia de Ursula Rucker: “Release”, levando-nos de volta ao início dos 2000, tempo áureo das compilações de trip hop e chill-out. E depois ofereceu-nos deep house viciante com loops de vozes femininas e muitos licks de piano.

Mas era só o aquecimento. O melhor veio na segunda hora do seu set, em que o DJ alemão nos brindou com uma dose de clássicos intemporais de disco, incluindo “Lost In Music” e “You Should Be Dancing”, seguidos de afrofunk para acabar em grande.

Também foi protagonista do momento humorístico da noite, altura em que saiu de trás dos decks para dançar com o público, de vinil numa mão e o seu telemóvel na outra a filmar o cenário à sua frente, altura em que tropeçou num cabo e o disco riscou. E foi o único que levou a sua namorada a palco a dançar com um bebé ao colo (presumivelmente a habituá-lo desde cedo aos ritmos do techno). Não há como não ficar enternecido.

Espaço para visitar o palco Carlsberg, em que Zé Salvador passava beats ligeiramente mais intensos do que os que se ouviam no palco principal, o que forçou os ouvidos de quem o foi visitar a fazer beat matching entre os dois palcos, como se ir de um palco para outro fosse uma versão de vida real de ajustar os comandos de uma mesa de mistura. A vida a imitar a criação artística. Quão pitoresco.

 


lisbon_dia3-14


19 horas a bater no relógio, e hora de entrar Motor City Drum Ensemble, conjunto de um homem só. O produtor e DJ alemão, de ouvidos postos no passado e pés bem assentes no ritmo e na melodia, ofereceu-nos um set muito nostálgico e bem melódico de house e disco, com muitos breaks feitos de palmas, vozes femininas filtradas, riffs de sopro e baixos funk, que levantou toda a gente dos puffs. Não havia vivalma sentada. Com esta música e o seu jogo de luzes roxas, verdes e vermelhas, transformou o Parque Eduardo Sétimo numa autêntica disco, levando-nos a Nova Iorque ou Chicago nos anos 70.

Seguindo a lide do seu colega alemão, DJ Koze, curiosamente, não seguiu o exemplo dos cabeças de cartaz das duas noites anteriores e ofereceu nos house melódico em vez do techno agressivo de Nina Kraviz e Sven Väth, com riffs de guitarra em loop e a mesma influência disco do seu antecessor. E o resultado foi um fim de noite e de festival sem dúvida muito mais agradável que os dias anteriores (também pelo tapete luxuriante de folhas verdes projectado atrás de si, uma extensão do relvado), que não podia ter terminado de forma mais bonita, com um momento que nos fez lembrar o lado mais brincalhão e delicodoce da electrónica, particularmente as melodias suaves e infantis de Lemon Jelly.

O Lisb-on ofereceu-nos três tardes e noites de música de dança para saciar os mais ávidos ravers alfacinhas, transformando um parque ajardinado no meio da cidade numa autêntica rave ao ar livre. Que mais se pode pedir?

 


lisbon_dia3-31

pub

Últimos da categoria: Reportagem

RBTV

Últimos artigos