[TEXTO] Núria R. Pinto [FOTOS] Inês Costa Monteiro
A primeira apresentação de Linn da Quebrada em Portugal estava esgotada há muito e se é certo que a MC brasileira se apresentava como a verdadeira rainha da noite, o DJ set de Mykki Blanco, em back to back com Jagër, que se fez anteceder, ou aquela que seria uma das raras apresentações do amante de bolos Conan Osiris, também tiveram o seu peso na hora de fazer voar as entradas da ZdB.
O artista norte-americano aqueceu a noite para uma sala já a rebentar pelas costuras, deixando muito pouca gente nos espaços comuns da galeria: para aqueles que chegariam depois das 22 horas, achar que o espectáculo ainda nem sequer tinha começado não seria assim tão improvável. Mykki Blanco apresentou-se em palco como um verdadeiro pote de mel e foi, até perto das 23 horas, distribuindo colheradas de pop, rap e funk açucarados, para uma plateia que não mostrava sinais de querer desgrudar.
“Meus putos, vamos ter que fazer isto rápido que já não temos assim tanto tempo!” Conan Osiris entrava depois da hora marcada — com tempo para distribuir beijos e elogios muito bem recebidos pela plateia, é certo — para um concerto de abertura que soou a tudo menos a isso.
Para os cépticos em relação ao fenómeno por detrás de Adoro Bolos, o mais amado ou mais odiado disco de 2017, surgem-me dois conselhos possíveis: quem não o viu, que vá ver; quem não o contratou, que contrate. O músico do Cacém abriu acapella, por força de um sistema de som que não quis cooperar, e dissipou quaisquer dúvidas que pudessem existir em relação ao seu poderio vocal ao vivo.
O Médio Oriente da “Borrego” mostrou que o calor se faz sentir bem mais a Este que na Califórnia do primeiro em palco. “Não danças um caralho”, afirmava, irónico, em relação a João Moreira, que o acompanha. A verdade é que, cá em baixo, os corpos mostravam-se programados para dançar os ritmos do mundo de Conan como se as suas próprias vidas dependessem disso. Ou isso ou talvez seja a nossa veia árabe a ressacar de outras batidas que, aparentemente, também nos fazem falta. “Celulitite”, a faixa-hino que as mulheres finalmente ouviram ser cantada por um homem do Cacém, foi recebida com euforia e só isso bastava para que merecesse os bolos que alguém lhe ofereceu no final. Também te adoramos, Conan.
Já passava da meia-noite quando a mistura luso-brasileira que preenchia a ZdB recebia eufórica a sua gata borralheira agora coroada. “Não adianta pedir que eu não vou te chupar escondida no banheiro” marcava a entrada de Linn da Quebrada, armada tanto em palavras quanto em atitude — e um dildo a servir de colher — para dar continuidade ao poderio sonoro e de ritmos quentes que nos transportavam agora para sul. É preciso “(Muito +) Talento” para fazer da ZdB um espaço onde o activismo se dança — e muito — e foi exactamente isso que vimos acontecer.
Cantou-se Pajubá praticamente na íntegra e rebolou-se a celulite até ao chão. Homens, mulheres e todos aqueles que são um e outro têm na voz e na figura — incansável — de Linn da Quebrada um novo exemplo para a libertação dos corpos, eu diria. Se essa libertação não se faz a dançar, eu não sei como se faz.
Houve espaço para o funk tradicional — “e se o cu não estiver suando é porque não está bom ainda” –, mas talvez fusão — ou funk de fusão com o pop, o trap e o rap –, seja o termo certo não só para descrever toda a produção sonora de Linn como toda a dinâmica que se viveu na sala. Ou, como dizem os brasileiros, tudo “junto e misturado”. Graças a Deus.