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Fotografia: Paulo Pacheco
Publicado a: 13/11/2022

Quanto a sintonia acontece, a magia fica evidente.

Linda May Han Oh no Guimarães Jazz’22: o discreto charme da elegância

Fotografia: Paulo Pacheco
Publicado a: 13/11/2022

A Linda May Han Oh coube a delicada e talvez até ingrata tarefa de preencher o espaço deixado livre pelo cancelamento (por motivos de saúde) da apresentação de Archie Shepp programada para o Guimarães Jazz, algo que cumpriu com plena dignidade e total mérito artístico na noite da passada sexta-feira. Em conversa tida logo após o seu ensaio de som, a compositora e contrabaixista explicou-nos que era para si uma honra poder fazer este concerto como líder num festival em que já se tinha apresentado duas vezes como integrante de combos de Joe Lovano/Dave Douglas e Vijay Iyer e, obviamente, fez questão de endereçar energias positivas ao decano saxofonista a quem tratou, aliás, de dedicar um dos momentos do seu alinhamento.

A artista, nascida na Malásia, educada na Austrália e desde há vários anos estabelecida em Nova Iorque, deu início no palco do Centro Cultural Vila Flor (CCVF) a novo périplo europeu e talvez o tom algo “cauteloso” da sua apresentação se entenda melhor por isso mesmo. Acompanhada por Greg Ward no saxofone, Matthew Stevens na guitarra e Jeff Ballard na bateria, Linda Oh alternou entre contrabaixo e baixo eléctrico passando em revista algumas das suas composições incluídas em Walk Against Wind de 2017, como “Lucid Lullaby”, “Speech Impediment” ou “Firedancer”, bem como material novo, como “Circles” ou “Yoda”, que referiu que irá integrar álbum a lançar em 2023 que terá a participação da sua amiga Sara Serpa.

Oh é uma música extrardinária, dona de um balanço elegante que carrega composições que serpenteiam entre géneros, podendo nascer no jazz e desaguar em correntes mais eruditas, beneficiando por vezes de uma clareza quase folk e noutros momentos assumindo uma densidade mais, vá lá, académica, reflectindo certamente o seu percurso e a sua procura pessoais nos níveis superiores do circuito de ensino de música na América que actualmente integra como docente. Neste concerto não usou arco, preferindo sempre um dedilhamento elaborado que lhe permitiu oferecer aos companheiros grooves de sinuosidade imaginativa. A isso, os companheiros responderam com reverente sintonia: Jeff Ballard é tão elegante quanto discreto no seu baterismo, um gestor de tempo que sabe manter-se fora do caminho dos companheiros ao mesmo tempo que lhes proporciona um chão seguro; Matthew Stevens é outro belíssimo músico — brilhou intensamente numa longa e poética introdução a que Ho se colou como resina; e Greg Ward é fera com Chicago nas veias que ainda recentemente ouvimos como parte da extensa equipa reunida por Makaya McCraven para In These Times, por exemplo.

Juntos, os quatro músicos podem soar mágicos, como aconteceu em “Hambone”, original que Archie Shepp gravou em Fire Music e que Oh e companheiros revisitaram em jeito de sentido desejo de melhoras ao mestre. Quando atingem aquele estado de sintonia e encarreiram por ali fora, Linda, Greg, Jeff e Matt são capazes de nos fazerem levantar os pêlos da nuca, sobretudo pelo seu colectivo poder de encaixe. E isso, na noite de sexta-feira, aconteceu pelo menos um par de vezes, sublinhando ainda mais os notáveis atributos da líder. Imaginem como soarão no final da tour…

No final da noite, o Café Concerto do CCVF recebeu a segunda jam session da edição 2022 do Guimarães Jazz, com os músicos do colectivo de Chicago liderado pelo trompetista Victor Garcia (ausente nessa noite), a chamarem até à sua beira outros companheiros para uma bem animada (e regada) sessão: Greg Ward passou por lá e brilhou soprando de forma bem diferente da que tinha mostrado uma hora antes no palco grande. E quem também se mostrou em elevadíssima forma foi João Mortágua, um portento com nível para qualquer tipo de embate. 


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