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Fotografia: Cláudio Ivan Fernandes
Publicado a: 06/11/2024

O navio de Teseu mais funky do mundo navegou sem (grandes) problemas.

L’Impératrice no Lisboa ao Vivo: the show must go on

Fotografia: Cláudio Ivan Fernandes
Publicado a: 06/11/2024

Os L’Impératrice já se tornaram em meninos de ouro do público português. No dia 2 de novembro, deu-se o quarto concerto em três anos do grupo em Portugal. Porém, o space funk da banda, que já é colocada como a referência do disco francês atual, num lugar semelhante a nomes como os incontornáveis Daft Punk nos anos 2000, não foi poupado de imprevistos neste último mês. Havia dúvidas entre o público sobre se podíamos esperar mais do mesmo (o resultado ideal), ou se os novos membros ainda estavam muito “verdes” nas suas respetivas posições. Efetivamente, não foram os mesmos L’Impératrice a que assistimos no Paredes de Coura este ano, mas isso não foi necessariamente negativo.

No dia 26 de setembro, os fãs de L’Impératrice receberam a triste notícia da despedida de Flore Benguigui da formação, saída que ainda está envolta em algum mistério, com insinuações de mau ambiente dentro do grupo feitas pela vocalista, que já tinha falado com o resto dos membros sobre a sua intenção de sair desde maio deste ano. No lugar dela, Louve, cantora já com uma carreira a solo a considerar, que inclui um álbum lançado em janeiro deste ano, tem uma tarefa hercúlea a cumprir: calçar os sapatos de Flore, que qualquer pessoa familiar com a banda sabe que não é pêra doce. Ainda assim, não se pode dizer que tenha feito um mau trabalho, apesar da transição não ter acontecido sem dores de crescimento. O que não se esperava tanto era o anúncio de um novo baixista, sobre o qual ainda se sabe pouco, até mesmo se será uma substituição temporária de David Gaugué, ou um sinal de mais um conflito na banda: a única coisa que sabemos é que David não tem estado presente nos últimos concertos por “razões pessoais”. Foi com esta composição que o colectivo se apresentou, fazendo lembrar o experimento mental do Navio de Teseu (será que com duas substituições tão repentinas podemos dizer com toda a confiança de que se trata da mesma banda?), e a performance sofreu em alguns aspetos, mas foi compensada por outros.

Louve não é Flore Benguigui. Aliás, basta relembrar a quantidade de fãs que tentaram vender o seu bilhete no Instagram ou em plataformas como a TicketSwap que vimos no início de outubro para considerar que o público estava bem ciente disso. Desde o começo do concerto, com “Cosmogonie”, que a falta da vocalista que já trabalhava com este conjunto há nove anos se fez sentir. Por outro lado, a dinâmica entre os membros da banda também mudou drasticamente, neste caso para melhor. A química era palpável em cima do palco do Lisboa ao Vivo, de uma forma que não se viu em Paredes de Coura, e apesar de alguns arranjos com o objetivo de acomodar a nova vocalista não terem sido tão felizes, outros encaixaram que nem uma luva no timbre de Louve, e mesmo os momentos de improvisação soaram mais vivos e alegres. Há ainda que notar uma sequência de canções, já mais perto do final do concerto, mas antes do obrigatório encore, que incluiu um cover de “Aerodynamic” dos já mencionados Daft Punk, “Agitations Tropicales” e “Submarine”. Todos os arranjos resultaram extremamente bem (apesar de ter sido nesta última que a instância mais óbvia de que estávamos a ouvir Louve e não Flore aconteceu), e a resposta do público foi de puro êxtase, o que ainda contribuiu mais para a sensação mágica daquele momento.

No fundo, é essa a chave que resolve a questão que tínhamos quando nos deslocámos para o LAV no passado sábado: por mais que existam reservas sobre alguns dos aspetos do concerto, é difícil argumentar contra um público que esteve ao rubro o tempo inteiro. Uma coisa é certa: todos os elementos de L’Impératrice são excelentes instrumentalistas e, além disso, performers com já muita experiência. Ainda nem mencionámos o trabalho de luzes do concerto, que contribuiu, e de que maneira, para o ambiente de verdadeira discoteca que se experienciou ali, embora no recinto mágico de Paredes de Coura esse aspeto tenha ganho uma dimensão grandiosa que não se conseguiu replicar num espaço fechado, além do espetáculo ter soado ligeiramente melhor no contexto de uma performance ao ar livre. Porém, ao tentar desenvolver sobre os momentos menos felizes do concerto, só nos lembramos da euforia coletiva que se sentia à volta, ou do casal apaixonado e completamente rendido à banda que estava à frente, e que sem qualquer dúvida se lembrará daquele dia durante muito tempo. Não se pode pedir muito mais do que isso de uma atuação, na verdade. Certamente que não invalida um olhar um pouco mais cético sobre o que foi ou não foi o concerto, mas relativiza-o: se uma banda é capaz de mover centenas de pessoas ao mesmo compasso com a sua energia, definitivamente está a fazer algo bem. O final, coincidentemente, sumariza o que aconteceu. Ao terminar com “Piano Track Killer”, os L’Impératrice preparam-nos para um after que com certeza estará para breve, e a longa ovação que receberam do público indica que, seja Flore ou Louve a voz dos franceses, da próxima vez que pisarem solo português, veremos novamente casa cheia.


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