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Publicado a: 04/10/2018

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[TEXTO] Moisés Regalado

Ao quinto volume da saga Carter, Weezy continua a assumir o papel de influencer, só que é, ao mesmo tempo e cada vez mais, fruto da escola que ajudou a expandir e que entretanto ganhou novos protagonistas. Talvez o tom saudosista injectado em Tha Carter V, que tem sido apontado como estratégico, brilhante até, seja um mero fruto da passagem do tempo (há pelo menos cinco anos que Wayne prepara o sucessor de I Am Not a Human Being II e Free Weezy Album), mas é certo que Lil Tunechi soube esperar pela onda certa para se lançar ao mar, surfando-a como se tivesse chegado a esta praia pela primeira vez.

Dad shoes, revivalismo, Lil Wayne. Isto é: Dwayne Carter jogou com as tendências e mergulhou de cabeça no passado recente da música rap e do mercado pop, e é exactamente nesse exercício que se esconde a relevância deste Tha Carter V. Mais do que um álbum, e sem nunca esquecer que o hype também pode ser critério — mesmo que sem o peso de outros parâmetros, puramente técnicos ou criativos –, o quinto Carter é, desde o primeiro dia, um item indissociável da cultura de massas, fundamental para situar os acontecimentos do presente e prever o futuro. Tão importante como ler as notícias, para quem segue, e tão obrigatório como pausar os últimos ugly sneakers do mercado, para quem gosta de mostrar que segue.

Quanto à música, que continua a ser parâmetro primordial, bem: compreende-se a desilusão de alguns, como se compreenderá que outros se entusiasmem com a ideia de museu sonoro que Lil Wayne aqui ergueu. As saudades estavam mortas desde Dedication 6, e Tha Carter V, icónico ou não, fica aquém do efeito surpresa causado pelas mixtapes que preparam o caminho. O facilitismo de “Uproar”, “Let It Fly”, ao lado de Travis Scott, ou “Dope Niggaz”, com Snoop Dogg, não é suficiente para envergonhar um MC de semelhante calibre mas não há hype ou contexto que safe uma parte de Carter V da mediania, mesmo que as produções desinspiradas acabem regadas por flows tão alucinantes como sempre e dicas tão afiadas como seria de esperar. E não se pode dizer que “Dedicate”, “Hittas” e “Mona Lisa”, com Kendrick Lamar, sejam clássicos, instantâneos ou não — nunca se sabe –, mas compensam o estrago deixado pelos momentos mais infelizes ou preguiçosos.

Não seria fácil adivinhar que, em 2018, o grande trunfo de Lil Wayne seriam as letras. Ou as dicas, melhor dizendo. O carisma com que escreve continua imaculado e é exactamente por isso que Weezy continua a ser um dos mais emblemáticos rappers do game — e, muito provavelmente, o rapper favorito do teu rapper.

“Back to the block where they got more rock fans
Than a fuckin’ rock band under a rock, man
We need Barack, man, I do what I can
To keep it solid as a… You know what I’m sayin’
With some rock playin’” — “Dedicate”

“Bring me back to life
Got to lose a life just to have a life
But if heaven’s as good as advertised
I want a triple extension on my motherfuckin’ afterlife
Rest in paradise” — “Don’t Cry”

A carreira de Lil Wayne parece ter atingido uma etapa em que a manutenção importa mais do que a revolução, e Tha Carter V, contra quase todas as expectativas, serviu exactamente para o estabelecer como ídolo eterno, talvez junto de uma nova geração mas também junto de outras que cresceram em paralelo com o rapper, sem no entanto lhe prestarem a devida atenção. Depois da catadupa de técnica que foi a mixtape Dedication 6, que serviu sobretudo para matar saudades para ambas as partes, o estado das coisas serenou e essa condição parece agradar o homem forte da Young Money. A julgar pelas reacções, parece ter conseguido. A julgar pela música… É difícil perceber e dizer se deu ou não o seu melhor, mas, goste-se ou não, está aberto o caminho para que esse “detalhe” não passe disso mesmo.

 


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