pub

Fotografia: Vera Marmelo
Publicado a: 21/07/2022

A voz certa para os argumentos certos.

Lido Pimienta na ZDB: a Miss Colômbia que apoiamos

Fotografia: Vera Marmelo
Publicado a: 21/07/2022

A conversa já é batida, mas não há como escapar-lhe: estamos a atravessar uma espécie de Verão-vingança, no que diz respeito a álbuns que queríamos ver ao vivo e que ficaram pendurados naquele estranho limbo temporal pandémico. A vantagem desse limbo é que faz parecer que muito foi ontem, quando não foi. E é assim com essa ideia de frescura que chegamos ao concerto de Lido Pimienta em Lisboa, ainda com o disco Miss Colombia, de 2020, a cheirar a novo. 

O seu concerto na Galeria Zé dos Bois foi o primeiro em Portugal da cantora e compositora de Barranquilla, na Colômbia, emigrada em Toronto, no Canadá. Miss Colombia foi o seu segundo álbum, e não só dele se fez este concerto. É aliás difícil reduzir um concerto de Lido Pimienta a apenas um ângulo. Quando entrou em palco a cantar a capella, a artista deu as boas noites, atirou-se a “Para Transcribir (SOL)”, e deu também as boas vindas àquilo a que podemos chamar “experiência Lido Pimienta”. E o que faz parte desta experiência? Muita coisa. A começar pela voz, que parece doce mas que se enche de poder e se mostra pronta para partir a boca ao patriarcado, passando pelos ritmos das suas raízes misturados com linhas pop que dão sempre protagonismo ao tal poder vindo das suas cordas vocais.

A empatia com o público já lá estava ainda Lido não tinha subido ao palco, mas aumentou logo quando declarou amor à cidade de Lisboa e ódio aos turistas que querem fotografar a roupa interior pendurada nos estendais.

Na música, vai atravessando discos, e passa por “Te Queria”, de Miss Colombia, ou por “Quiero Jardines”, uma canção (de La Papessa) dedicada à importância do amor próprio. Em “No Pude”, a voz de Lido engrossou e, no fim, ela explicou: “sou mulher, e por isso tenho muita raiva. Que bom poder expressá-la”. E a raiva de Lido Pimienta não se expressou só com voz grossa. Expressou-se com humor quando falou sobre o aborto e encorajou toda a gente a responder nas redes sociais que sim, as mulheres que abortam são assassinas como assassinos são todos aqueles que “ejaculam fora do ventre divino”, falando ainda dos milhares de bebés perdidos em meias e almofadas. Expressou-se quando homenageia a mulher negra e o seu cabelo tantas vezes discriminado em “Pelo Cucu” e nos levou a uma viagem a um sítio que, há muito tempo, começou por servir de refúgio para escravos à procura da liberdade: o Palenque de San Basilio.

Lido Pimienta levanta a voz para ser ouvida e para a que de muitos outros se oiça. Canta as dores de amor em “Te Queria” ou no poderosíssimo “Eso Que Tu Haces”. Elogia a mistura na cena musical nacional (cita Branko e a Enchufada; Nídia, DJ Firmeza e a Príncipe Discos ou Dino D’Santiago). Celebra a mulher, celebra o amor queer, a diversidade de género. Também ha celebração é resistência, e Lido Pimienta demonstra-o. 

A primeira artista a receber um Prémio Polaris (uma espécie de GRAMMY no Canadá) sem cantar nem em inglês nem em francês (e a lançá-lo de forma independente) não se esquece de onde vem e move-se dentro do sistema para o questionar constantemente. Depois, transforma isso em grandes canções. Ainda podem confirmar isso em território nacional esta noite: mais logo, Lido Pimienta actua no M.Ou.Co, no Porto.


pub

Últimos da categoria: Reportagem

RBTV

Últimos artigos