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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 05/05/2023

Duas faces da mesma artista.

Libra sobre “Heads or Tails”: “É possível sair de um sitio negro e ir para um lugar mais leve e esperançoso”

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 05/05/2023

Entre dois polos distintos há um “entre-lugar”, onde muitos de nós por vezes nos encontramos. E é exatamente aqui onde se posiciona Libra com o seu mais recente single, “Head or Tails”, em colaboração com o produtor Tayob J — é este o resultado do regresso ao estúdio de Sónia Curcialeiro, artista de nacionalidade portuguesa e de sangue cabo-verdiano e angolano.

Libra fez a sua estreia em 2020 com o lançamento de alguns singles, mas apenas em 2021 deu a conhecer a sua experiência de estúdio, com o EP Sleepwalker. Contudo, o regresso à sala de captação, ao fim de quase dois anos, é marcado com uma grande surpresa. “Foi bem melhor do que eu estava à espera”, conta ao Rimas e Batidas a cantora. “O Tayob convidou-me para ir visitar o estúdio e estivemos mais de duas horas de conversa, em que partilhámos histórias da nossa infância e a forma como nos impactou e como nos influenciou a forma como nos posicionamos na nossa vida, na nossa profissão e a nossa maneira de estar na vida, até que ele se sentou ao piano a fazer alguns acordes e eu, automaticamente, comecei a fazer umas melodias por cima e estava a correr tão bem que fui para a cabine e gravámos. Depois ele completou-as, basicamente, transformou-as em instrumental, processou o que tinha gravado e foi complementando. Fizemos um beat de raiz e enquanto ele avançava com o beat eu escrevia a música. E basicamente o tema da música é exatamente a nossa conversa.” 

Com uma primeira parte nostálgica, através de melodias melancólicas e cadências de hip hop, Libra canta-nos subtilmente ao ouvido a sua infância solitária, suportada pelo seu sonho de se estrear nos grandes palcos. E com uma segunda parte lavada em confiança e plena de groove que Libra nos presenteia, pela primeira vez, com os seus versos rimados e lírica aguçada, através dos quais nos conta as dificuldades de uma jovem mulher artista que tenta honrar a luta da sua criança e vingar numa indústria de homens.

O seu objetivo é simples: “gostava que as pessoas sentissem a minha verdade, nada mais do que isso. Quero que percebam que é possível sair de um sitio negro e ir para um lugar mais leve e esperançoso. Mas não deixar a nossa luta, não perdermos a força. Pelo contrário, não ficarmos moles. Neste momento estou num lugar mais leve e com mais perspetiva de alcançar os meus objetivos e isso passa por não desistir das minhas lutas, e queria muito que as pessoas sentissem esta força e necessidade de se afirmarem enquanto seres individuais e sentirem que é possível afirmarem o seu lugar. E é exatamente o que eu estou a fazer: afirmar que não sou cara ou coroa, mas sim cara e coroa. Para perpetuar e solidificar o meu lugar”. 

O videoclipe foi realizado pela própria, co-produzido por Matilde Barreira e editado por Pedro Oliveira, gravado na cave da casa dos avós — este é um lugar de histórias que remontam à sua infância e as paredes contam também a história da família de Sónia. “Este vídeo é particularmente especial para mim porque foi o primeiro vídeo que idealizei por completo e dirigi. Desde o conceito, passando pela realização até à edição, tudo passou por mim. Provei a mim mesma de que sou capaz, de que consigo levar os meus sonhos avante mesmo quando sempre me fizeram pensar que não, o que torna este lançamento ainda mais especial para mim, enquanto artista e enquanto mulher empoderada”.

Ao falarmos de trabalhos de estúdio no futuro, Libra diz que as composições estão escritas, mas que este é um momento de reconexão com a música. Tendo alguns concertos programados para breve, este é um momento “de deixar a minha arte livre”.

E esta liberdade passa pela criação de um “entre-lugar”. Através desta faixa, Libra pretende mostrar que é “as duas faces da mesma moeda, dois opostos. Sou uma dualidade e a questão é que as pessoas tendem a atirar-te para um sítio onde é mais fácil definir. Só que cada vez mais tu percebes que as pessoas não são um lugar só e esta questão do entre-lugar e do estar no entre-lugar, ser uma mistura e não conseguir ser definida através de padrões já existentes, faz com que não me encaixe enquanto pessoa e enquanto artista no panorama musical português”. Mais do que uma moeda de duas faces, “Heads or Tails” é uma faixa que pretende servir de mote para a criação de um espaço onde não seja necessária a definição clara e objetiva de um género, de uma identidade, mas a simples aceitação das nuances.


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