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Fotografia: Cláudio Ivan Fernandes
Publicado a: 20/07/2022

Cheio de alma.

Leon Bridges: “As pessoas usarem as minhas canções em momentos tão importantes das suas vidas é uma lição de humildade”

Fotografia: Cláudio Ivan Fernandes
Publicado a: 20/07/2022

Com a mudança forçada — e já tão falada — da localização do festival Super Bock Super Rock, pode ter-se “perdido” muita coisa, mas, felizmente, o cartaz ficou na mesma. Graças a este esforço, foi possível entrevistarmos um dos maiores nomes da música r&b e soul da actualidade: Leon Bridges. Com êxitos como “Coming Home” e “River”, o cantor já nos mostrou que o seu talento e sucesso não são sol de pouca dura; de Texas Sun e Texas Moon — partilhados com Khruangbin — até ao seu novo álbum GoldDiggers Sound, Bridges parece decidido a mostrar o poder que reside em fazer-se música crua e honesta, que nos chega através de sensuais acordes de guitarra e bonitas histórias cantadas por uma voz suave como seda — e intimamente ligada a uma alma mais velha do que o corpo que a carrega.

Antes do seu concerto no festival e já nos bastidores, o cantor esteve à conversa com o Rimas e Batidas para nos falar sobre as suas obras mais recentes, colaborações e planos para o futuro. 



Em 2015 lançaste Coming Home, o álbum que tem “River”, uma canção que foi um sucesso astronómico, e depois voltaste em 2018 com o álbum Good Thing, depois de uma pausa significativa entre os dois. Como foi para ti criar novamente depois de um sucesso tão grande? Sentes que afetou o teu processo criativo?

Foi um bocado assustador embarcar no processo de fazer outro álbum e querer evoluir e mudar o meu som, sem saber exactamente como encontrá-lo. Felizmente consegui trabalhar com o Ricky Reed de Los Angeles e ele ajudou-me bastante a encontrar esse som — fico feliz por ter conseguido mudá-lo um pouco.

E encontraste-o. Sentiste-te pressionado? 

Definitivamente. Quer dizer, muito do mesmo foi auto-imposto, senti toda uma vibe em que fui certamente encorajado a pressionar-me e a puxar por mim e fico feliz por ter as pessoas que tenho à minha volta — para me responsabilizarem dessa forma.

O teu novo álbum Gold-Diggers Sound conta com alguns grandes nomes como Robert Glasper, Terrace Martin, Ink e Jazmine Sullivan. Como escolheste estas colaborações?

Eu sou um bocado contra fazer colaborações nos meus álbuns, porque sinto que tem de fazer sentido e as músicas têm de ser o foco; as boas canções têm que ser o foco. Por isso foi mesmo uma vibe em que eu senti que esses nomes eram perfeitos para contribuir com algo para alguns dos sons desse álbum, e são músicos incríveis. 

Sentiste que eram o fit perfeito.

Completamente, e shout-out ao meu amigo Ricky e aos seus contactos, porque foi capaz de chegar a esses músicos e é incrível eles terem feito parte dessas canções.

Tens também uma nova música chamada “Summer Moon”, que partilhas com Kevin Kaarl — e ele canta em espanhol. Incorporar a língua espanhola era algo crucial para ti nesta colaboração? 

Totalmente, porque tem tudo a ver com onde eu cresci. Eu cresci no Texas, onde tudo isso é bastante predominante, a língua, a presença mexicana, então estamos bastante próximos dessa cultura e, por isso, fizemos essa sugestão, porque seria um contraste fixe — ter essa parte cantada em espanhol.

E é uma língua muito sensual também, combina bem com a vibe mais suave dessa música, juntamente com o tom da tua voz. 

Concordo, é mesmo. Preciso de aprender a falar espanhol [risos]. Foi muito fixe e eu gosto muito do Kevin e da sua vibe, ele elevou aquela música mesmo ao máximo.

Vês outras colaborações no horizonte?

Estou só a ir com a corrente, sabes? Acho que há coisas fixes no horizonte, mas o que eu tenho visto que é realmente eficaz é construir relações com as pessoas e não focar necessariamente em fazer música. 

O que acontecer, aconteceu. Mas isso faz sentido, porque assim o que quer que saia, até sai mais orgânico.

É exactamente assim que eu gosto de fazer isto. Construir essas amizades primeiro e depois, se por acaso fizermos música, fixe [risos].

Vamos ter de esperar para ver então — se fazes novos amigos.

Sim, espero fazer novos amigos que sejam fixes.

Partilhas dois EPs com Khruangbin, Texas Sun e Texas Moon, que captam completamente aquela sensação distinta entre dias ensolarados agradáveis, onde até nos vemos a conduzir um descapotável e depois aquela vibe mais mellow, sexy, obscura e nocturna como pedem essas horas mais tardias. O que inspirou este conceito?

Foi completamente orgânico e foi essa a maneira como tudo se desenrolou. Inicialmente Texas Sun tornou-se o título e sentimos que a parte seguinte, Texas Moon, era uma vibe mais dark, sexy, nocturna.



E foi seguido ou fizeram tudo e depois decidiram dividir ao meio?

Bem, nós gravámos um monte de canções e tivemos de condensar tudo num EP, por isso havia algumas canções que sobraram daquele lote, então depois disso trabalhámos em algumas dessas músicas e escrevemos outras novas também.

Estiveste no Porto recentemente, o que tens a dizer sobre o público português?

Ahhh, [foi] o meu concerto preferido da tour inteira, a sério. Adoro a estética que há aqui, adoro a energia das pessoas… estava tudo fora dos seus lugares, pronto para a festa!

E aposto que estavam todos a cantar as tuas músicas de cor e salteado. Quais são as expectativas para esta noite e para este público aqui de Lisboa?

Não quero ter expectativas, só quero mesmo ir com a corrente, este é o nosso último espectáculo da digressão.

O último concerto da tour! Então tem que acabar assim numa nota alta. Vamos poder contar com algumas surpresas?

Sem surpresas. Sou só eu no palco, a fazer a minha cena, a trazer aquela música soul.

Há alguma música tua que guardes com mais carinho no teu coração?

Diria que a mais próxima de mim é uma canção minha chamada “River”.

Conheço muito bem, é a minha canção de eleição para cantar no duche.

Yeah [risos]. E eu acho que esta canção demonstra que as pessoas estavam famintas por música honesta e crua. Essa é uma das minhas maiores canções e é muito fixe quando podes escrever e fazer uma música tão despida, apenas com guitarra e voz e ver que se conecta com tanta gente.

E provaste que é uma fórmula que pode certamente funcionar. As pessoas identificam-se com ela e é uma canção muito profunda, que agora é usada e ouvida em tantos momentos especiais na vida dessas pessoas. Como te sentes tendo essa responsabilidade?

Acho que, enquanto artistas, temos a plataforma, e a música é uma das mais poderosas formas de expressão, por isso acho incrível que as pessoas usem especificamente as minhas canções em momentos tão importantes das suas vidas. É uma lição de humildade.

Qual é a tua música preferida de actuares? Também é a “River”?

Sim, cantar a “River” é divertido. Também gosto de tocar algumas coisas que tenho com os Khruangbin, mas, sim, a “River” é definitivamente a minha preferida.

Entras na zona, não é?

Tudo aquilo é espiritual para mim. É uma experiência actuar essa música.

Tens algum momento preferido nos teus espectáculos?

Aquele momento onde todos, colectivamente, cantam as letras.

É algo que continua a deixar-te emocionado?

Sim, tenho de desligar as minhas emoções porque se não começava a chorar e ia ter de dizer às pessoas que não ia conseguir cantar aquilo [risos].

O que podemos esperar de ti num futuro próximo?

Fiz parte de um filme que vai ser lançado no próximo ano chamado The Young Wife. Agora sou uma estrela de cinema [risos]. Estou só a tentar entrar na cena e fazer coisas que me inspiram.

Dizes que adoras ser imprevisível. Tens intenções de experimentar diferentes géneros musicais, para além do que já experimentaste? Algo que talvez podemos não estar à espera?

Sim, seria fixe mergulhar na música country e algumas cenas com afrobeats, cenas para dançar. Acho que é algo que nunca experimentei realmente, então acho que seria fixe entrar nisso.


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