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Publicado a: 21/08/2018

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[TEXTO] Moisés Regalado

O que é “revolucionar” a música? Esta é uma daquelas perguntas cuja solução não se consegue verbalizar facilmente, sendo essencial responder com provas, mais do que com palavras. Um dos melhores exemplos faz agora vinte anos, sem que nunca tenha perdido a relevância que o distinguiu em 1998, ano de nascimento para muitos dos actuais ouvintes de rap. Antes de passar à música, convém relembrar: esta é uma peça única na discografia de Lauryn. Literalmente falando, The Miseducation of Lauryn Hill continua a ser o seu único registo oficial, sem esquecer o icónico Unplugged que a rapper e cantora fez em colaboração com a MTV.

Rapper e cantora. A ambivalência não é nova, nem o era em ’98, mas já imaginaram como seria juntar Jean Grae e Amy Winehouse, ou Nicki Minaj e SZA, num só corpo? Ou a revolução que seria se Drake soubesse mesmo cantar? Ou se John Legend tivesse dotes de liricista semelhantes aos de J. Cole? O exercício parece ambicioso mas continua a ser insuficiente para descrever o que é Lauryn Hill e o que representa a sua “miseducation“. É difícil olhar para trás e dizer que Ms. Hill, um exemplo no verdadeiro sentido da palavra, tenha sido mal-educada. Insurrecta, talvez, o que acabou por dar origem a um dos momentos mais particulares e importantes do hip hop mundial.

 



À partida, tudo está bem. Este é um disco para quem gosta de rap, soul, r&b — claro está –, mas também para quem vem do reggae (“To Zion”) ou do rock, e é exactamente numa dessas referências que se começa a perceber o que vai na cabeça de Lauryn (“C’mon baby, light my fire/Everything you drop is so tired/Music is supposed to inspire”). Se tudo parecia estar bem, começa a ficar cada vez melhor. Tudo isto num álbum inteiramente produzido por si, o que também acaba por ser revelador. Rapper, cantora e produtora.

Só que Lauryn Hill não foi, à falta de melhor comparação, uma espécie de Russ dos anos 90, com jeito para isto e para aquilo. Até porque Russ usa o seu posicionamento anti-sistema para entrar dentro do mesmo, ao passo que Lauryn fez tudo o que conseguiu para, depois do sucesso, sair o mais rápido possível. E nem vale a pena limitar o seu nome a qualquer discussão sobre “a” melhor, não sendo por acaso que este disco, primeiro e último da artista, tenha atingido a distinção máxima da XXL, integrando um restrito lote de quinze artistas.

Em The Miseducation of Lauryn Hill, mensagem, festa, música e poesia andam de mãos dadas e nunca se separam. Como se este fosse o sumário perfeito para tudo aquilo que foi a génese do hip hop e dos seus valores e objectivos. O tempo ainda não tratou de confirmar as suspeitas de que Lauryn Hill foi uma das mais genuínas e geniais artistas a pisar um palco, mas é impossível não reconhecer o impacto de um clássico que continua a alimentar um negócio milionário: sem “Ex-Factor” não haveria “Be Careful”, de Cardi B, nem “Nice For What”, um dos últimos singles de Drake. Longa vida à única e verdadeira rainha.

 


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