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Fotografia: André Serra
Publicado a: 23/11/2023

O rapper de Mem Martins celebra o aniversário redondo de um dos seus discos icónicos com um concerto no B.Leza.

Landim nos 10 anos de Kamikaze: “Foi o tudo ou nada”

Fotografia: André Serra
Publicado a: 23/11/2023

Há 10 anos, Landim lançava um disco que ficaria na história como um dos documentos mais valiosos do rap crioulo (e não só) feito em Portugal. Era o “tudo ou nada”, para um jovem de um bairro que tinha depositado as suas esperanças, investido o seu tempo e dedicação de forma profunda, para construir um projecto elaborado que o elevasse no rap game perante os seus pares. 

Landim já não era um estreante quando apresentou Kamikaze em 2013. Tinha gravado as primeiras faixas na adolescência alguns anos antes, já havia lançado para as ruas os dois volumes das mixtapes KS Drama e o disco Rap Krioulo 1 Nation. Mas Kamikaze acabou por representar a sua consolidação no meio, quando a sua influência ultrapassava cada vez mais as paredes e ruas do Casal de São José, em Mem Martins, e mesmo da Linha de Sintra no geral.

Hoje, uma década depois, Landim tem um currículo muito mais preenchido e é uma referência para inúmeros artistas da nova geração. De modo a celebrar o legado e o impacto que Kamikaze teve, vai dar um concerto especial do 10.º aniversário do disco esta quinta-feira, 23 de Novembro, no B.Leza, em Lisboa. Os bilhetes estão à venda por 10€. “Como são 10 anos do álbum e só os podemos celebrar uma vez, ficava bem fazermos uma cena que ficasse na mente das pessoas”, diz ao Rimas e Batidas quando o visitamos no Casal de São José.

Para Landim, a competição que se fazia sentir naquele momento dentro do movimento hip hop, com novos valores a aparecer em força, serviu de catalisador para que quisesse ir com tudo, em modo Kamikaze, rumo a um disco mais elaborado que se tornaria uma referência.

“Foi um projecto muito mais sério porque, na altura, também, a competição à nossa volta… Acho que foi a golden age do rap crioulo e até do rap tuga”, afirma. “Todos os colegas à minha volta o Loreta, o Ghoya, o Halloween estavam em altas, todos com grandes projectos, toda a gente a lançar cenas… Mesmo aqui perto tinhas o Cobra Preta, o Timas, Sebeyks, Babydog, vários putos assim no come up. Então a cena é: ou vens forte ou então nem saias do cubico.”

O disco nasceu neste contexto, fruto da “qualidade que existia à volta”. “Ou evoluía ou então não pertencia a este game”, resume. “Por isso é que este projecto foi mesmo feito com pinças, verso a verso, foi tudo estudado ao pormenor. Daí a qualidade dos versos, dos flows. Mas não fazia ideia de que iria ser aquele projecto de referência.”



Com 18 faixas, “Bu Ata Da Pa Parvo”, “Kapo” e a homónima “Kamikaze” terão sido das mais rodadas. “O conceito era a fase que eu estava a viver naquela altura, que era de Kamikaze, ou seja, tudo ou nada. A gente apostou tudo naquele projecto. Investimos bué, investimos tempo, sacrificámo-nos bué e, quando digo nós, falo de mim, do Singa, do Fumaxa, toda a gente que participou nele. Queríamos fazer o melhor projecto possível e isso leva tempo. E às vezes faz com que estejas longe da tua família, se calhar não estás a fazer as cenas que poderias estar a fazer para estares ali no estúdio… O conceito mantém-se até hoje: ou estás nisto a sério, ou dás tudo, ou não vais receber nada”, diz, sobre a intemporalidade deste lema de vida que Landim mantém até hoje. No fundo, representa o seu “compromisso” com o rap e a zona onde cresceu.

Para si, foi um ponto de viragem. Kamikaze afirmou o seu nome no circuito, levou-o a ser convidado para fazer mais e mais concertos, numa altura em que trabalhava sobretudo com Fumaxa e Singa, do grupo Young Thugz, com quem colaborava no estúdio da Fitcha Broca Recordz, e que havia sido essencial para o crescimento de Landim no rap.

“A maneira como nos viam como artistas solidificou-se. Começámos a ter muito mais shows. Logo a seguir ao projecto, tivemos um ano ou dois super-activos. Tivemos muito boas experiências, e isso também foi muito importante, para conhecer palcos, festivais, pessoas… Porque é a base daquilo que vai ser o teu futuro.”

Perguntamos-lhe se é “o” seu disco, apesar da natural evolução que se sentiu em todos os projectos que lançou posteriormente. “Acho que sim, também pela quantidade de sons que tens lá. Consegues ver várias facetas minhas, vários tipos de beats. Foi uma preview daquilo que eu viria a fazer no futuro. Os outros álbuns são um pouco a continuidade daquele pensamento, porque sou sempre Kamikaze.”

Quando lhe falamos em impacto, fala mais em “legado” do que em “retorno financeiro”. “O legado que deixas é o mais importante. Para conseguires inspirar outros a fazerem também, seja o que for, da melhor maneira possível.” 

E o legado de Landim e, também, de Kamikaze é notório. “Vejo isso em projectos e putos novos que estão a aparecer, que ainda estão a escolher beats boom bap, isso é bué importante. Mostra que essa chama que eu tive na altura ainda está aí viva, ainda há aí bars, putos do boom bap, a querer liricismo, a escreverem temas bons… A legacy é essa.”


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