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Fotografia: Renato Nunes
Publicado a: 22/07/2025

A Lovesome Thing revisitado no Algarve.

Kurt Rosenwinkel: “Gerald Clayton é brilhante. Focado, dinâmico, criativo, solidário, com um som profundo e caloroso”

Fotografia: Renato Nunes
Publicado a: 22/07/2025

Antes do concerto no Festival Loulé Jazz, que acontece na Alcaidaria do Castelo de Loulé já no próximo dia 26, conversámos com Kurt Rosenwinkel, um dos guitarristas mais influentes da agitada cena do jazz contemporâneo. Com uma carreira que inclui colaborações com nomes como Brian Blade ou Paul Motian, entre tantas outras grandes referências do mundo do jazz, Kurt é conhecido pela sua abordagem criativa à improvisação e pela sua capacidade de fundir diferentes estilos musicais. Já este ano, viu o seu nome impresso ao lado do da Orquestra de Jazz de Matosinhos no lançamento em vinil Our Secret World – Live at CARA. Nesta ocasião, ele apresenta-se ao lado do pianista Gerald Clayton, um artista aclamado tanto pelo seu talento quanto pela sua versatilidade, que já trabalhou com figuras como Dianne Reeves, Terri Lyne Carrington ou, para apenas destacar mais um nome de um currículo muito extenso, Charles Lloyd.

Os dois músicos propõem-se recriar o álbum que Kurt Rosenwinkel lançou com a falecida Gerri Allen, A Lovesome Thing. Este projecto, que foi bastante elogiado, representa uma homenagem à influência de Gerri Allen e à sua contribuição para o jazz. É uma oportunidade rara de ouvir esses dois artistas em relação profunda com esse repertório e a explorar o alcance da sua cumplicidade no palco.



Está a recriar A Lovesome Thing, um álbum muito apreciado que resultou de um espetáculo que fez com Geri Allen em Paris, em 2012. Em primeiro lugar: o que o mundo precisa agora é exactamente isso, uma Lovesome Thing que aponte a direcção certa para todos nós, concorda?

Com certeza. Vamos reunir-nos e criar algo bonito, algo adorável. Podemos oferecer o nosso coração e a nossa alma e uma vida inteira de dedicação à verdade e à beleza. À música. Podemos fechar os olhos e concentrar-nos num gesto e ouvir o universo responder. Vamos ouvir-nos uns aos outros, vamo-nos alegrar com os dons e a perspectiva uns dos outros. A vida é curta, então vamos aumentar a alegria e a felicidade. Geri teria desejado isso.

O que recorda daquela noite no Jazz à la Vilette, na maravilhosa Cité de la Musique?

Foi hipnotizante. A forma como o palco fica no centro da sala e o público ao redor, havia um foco unificado e parecia que o público estava a participar numa meditação sagrada. Estava tão silencioso que se podia ouvir um alfinete cair. O piano da Geri rugia e cantava como nada que eu já tivesse experimentado antes. Fui atraído pela Geri e os seus poderes mágicos, pela sua força de espírito e pela sua aparência feroz de guerreira. Ela tinha uma presença intimidante, mas ao mesmo tempo era tão terna e humilde, simples, sem ego e caloroso. Senti imediatamente uma proximidade ao nível da alma. Aquela noite foi a primeira e única vez que tocámos em duo. Não tivemos ensaios, apenas conversámos sobre o repertório nos dias que antecederam o espectáculo.

A Geri deixou este mundo demasiado cedo, mas se continuarmos a tocar esta música, isso significa que a sua alma ainda está connosco, certo?

Estou a sentir uma ligação renovada e uma celebração do seu espírito. E tocar com o Gerald, talvez não seja coincidência — Geri/Gerald. Ele também é um espírito verdadeiro, e é uma ligação maravilhosa que estamos a descobrir.

Como o conheceu o Gerald Clayton

Nós já nos conhecemos há muito tempo, mas esta é a primeira vez que trabalhamos juntos. 

Um guitarrista e um pianista entram num bar…” Pode terminar esta frase?

“O que queres tocar?” “Sou antiquado.” “Whisky, tocas isso?”

Clayton deve ter uma visão diferente sobre esse material em relação à que Geri apresentou. Como o descreveria como músico?

Gerald é brilhante. Focado, dinâmico, criativo, solidário, com um som profundo e caloroso, com muito coração, centrado, extremamente versátil e perspicaz. 

Com um ambiente tão intimista, apenas cordas dedilhadas e marteladas, tudo se resume às melodias e à forma como vocês as tecem. É mesmo assim?

As melodias, as harmonias, o som, a vibração, a química, o público, as canções… Pode ser muitas coisas, é por isso que as actuações são tão especiais!

Pergunta geek: que tipo de guitarra ou guitarras está a usar nesta digressão?

Estou a tocar a minha Soloway S14.

Há alguma coisa em particular que gostem de fazer quando tocam por estas bandas?

Já estive de férias aí no Algarve e adorei. Pessoas simpáticas, comida excelente, o mar e tudo o resto. Mal posso esperar para voltar! 

Próximos passos: há algum álbum novo com o vosso nome na capa a sair em breve?

Hum, acho que há alguns trabalhos em que participei como convidado que poderão ser lançados em breve, mas estou a trabalhar em alguns álbuns meus agora e espero ter algo para lançar em breve!


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