[FOTO] Sara Falcão
“Bruxedo” é o primeiro avanço de Judas, o mais Odiado, o novo EP de Kristóman. O vídeo para o single conta com a realização de Fábio Pereira.
Cruz Credo, o trabalho que sucedeu a Remédio Santo, álbum editado em 2016, marcou uma viragem de André Guerreiro para o terreno do trap, sonoridade que vai continuar a ser explorada em Judas, o mais Odiado. O Rimas e Batidas esteve à conversa com o MC para saber tudo sobre as novidades:
Este single antecipa um novo EP. Queres um falar um pouco sobre ele?
As produções são todas de produtores da net, à excepção de um que é de um puto aqui da zona, o SilverLion. Hoje tens um leque de produtores a vender os seus instrumentais por preços acessíveis. Como quero seguir a mesma linha nos EPs – e sem desvalorizar os nossos produtores, claro – , mas eu quero é meter música rápido na net, dar a conhecer mais o meu trabalho. Acho que para encontrar aquilo que pretendo tenho de passar horas ao telefone com producers ou ir ter com eles, e moro mesmo longe daqueles que até sinto e outros nem conheço. Não me sinto à vontade para depois dizer “não gosto desse e daquele beat“, “faz me assim e assado”. Às vezes acabas por ficar com um beat que nem era bem aquilo e pagaste por ele. Nesse período perdes tempo, e eu quero é ter o beat, cuspir barras, soar bem, fazer clip e siga.
Para este novo trabalho, convidei aqueles que sempre me acompanharam e não falham: RealPunch, YoCliché e Rafastone que é um puto que vai dar cartas no rap.
O titulo do EP é muito forte: porque o escolheste?
Judas, o mais Odiado vem no seguimento de Cruz Credo. Os meus temas de projectos têm sempre algo relacionado com “Kristo”, o tema religião, e este nome é mesmo porque sinto que sou o mais odiado. Alguém pagou dislikes para eu não chegar a algum lado no som “Carapaus”. Isso é gravíssimo. Alguém no seu perfeito juízo e sentado no seu sofá, pegou em dinheiro e gastou para prejudicar-me, então decidi neste trabalho ainda ser mais cara podre, mais punchliner, mais sem vergonha, nem que tenha de ser Judas e trair o Kristo (risos). Neste EP quero ser o Judas.
É mais um trabalho a solo: em que pé é que essa intensa actividade em nome próprio deixa os Tribruto?
Tribruto será sempre a base do arranque na minha carreira em todos os aspectos e, neste momento, Tribruto está parado porque sentimos necessidade explorarmos a solo depois da experiência que adquirimos no grupo.
A solo estou a ter uma experiência completamente diferente e estou a gostar. Não te sei dizer se Tribruto irá voltar ou não, ou por quanto tempo continuarei a solo, porque, neste momento, quero fazer o que estou a fazer, falando por mim, não quero misturar as coisas por agora, tem de haver nomes próprios fora de Tribruto. Nós levávamos um pouco com a dica do “olha o gajo dos Tribruto”, e agora já vai sendo o Kristóman, o RealPunch e o Gijoe. Talvez isso até seja bom para o grupo, se algum dia voltarmos a criar algo juntos. O grupo pode tirar partido disso, quem sabe.
Tem-se criado uma certa divisão de águas entre quem se posiciona mais do lado de uma estética boom bap e quem explora as novas sonoridades trap. Como te posicionas nesse debate?
Já rimei em dupstep, drum’n’bass, garage, grime, boom bap e agora trap e sempre ouviste o Kristo a soar igual. Sou um rapper que gosta de estar sempre actualizado, de desenvolver as suas métricas e dicas por vários estilos, camaleão mesmo. Agora não escondo que o trap veio dar alguma liberdade em todos os aspectos. O Nokia 3310 também era o melhor e de certeza que hoje ainda seria eficaz, mas não sabe bem ter um S7? Não faz mais coisas? Temos de nos actualizar. O boom bap está sempre aqui: o bichinho volta e dropo um som nesse registo, porque esse estilo nunca vai perder a sua influência nesta cultura e em mim.
Finalmente: “Bruxedo” aborda acontecimentos recentes da tua carreira – é a tua forma de resolveres essas questões?
A punchline tem sempre o lado do exagero das coisas ou o dizeres coisas que as pessoas sabem que não é bem assim, faz parte. É assim em todo o mundo do egotrip. Cada vez mais vou ao encontro daquilo que gosto de fazer e de falar, aquilo que vivo, o que tu vês nos meus clips acontece mesmo. Aquilo é São Brizzi no “Bruxedo”. Se eu estou um pouco melhor na vida porque que não posso falar disso? Só quando ‘tamos mal é que devemos falar para as pessoas terem pena? Identificarem-se? E depois? Isso resolveu o teu problema? Porque que não nos focamos em determinadas rimas, pessoas ou exemplos como se quero ficar melhor é assim que tenho de fazer, é isto que tenho de seguir, etc…?
O “Bruxedo” é um pouco falar de coisas que fui aprendendo e que aconteceram nesta fase a solo, tudo com uma mistura de egotripping, e porra, gosto mesmo de dizer estas verdades à minha maneira.