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Publicado a: 29/08/2015

Kraftwerk prepararam edição de álbum 3D

Publicado a: 29/08/2015

[FOTO] Direitos Reservados

 

Ralf Hütter, em declarações à Rolling Stone em vésperas de nova digressão por terras do Tio Sam, revelou que os Kraftwerk se prepararam para lançar novo trabalho em 3D. O lançamento deverá optar pelo formato Blu-Ray e mostrará temas clássicos do catálogo do grupo de Trans Europe Express em 3D e uma mistura de som em surround, “uma espécie de 3D sonoro”, como explicou Ralf Hütter à publicação norte-americana.

O músico, que é o único membro original dos Kraftwerk ainda no grupo, falou à Blitz depois do concerto em Lisboa e já aí tinha levantado o véu sobre esta edição que agora se confirma. Abaixo, o resultado da breve conversa de Ralf Hütter com Rui Miguel Abreu, publicada em Maio na revista Blitz.

 

 


[RALF HÜTTER: OLHÓ ROBOT]

Há um certo desligamento conceptual do plano físico na performance de palco dos Kraftwerk, tal como o Coliseu dos Recreios em Lisboa e a Casa da Música no Porto puderam recentemente testemunhar, mas também um subtil sentido de humor e uma certa teatralidade na apresentação. No final da performance na sala da Rua das Portas de Santo Antão, Ralf Hütter, o único membro fundador que se mantém nos Kraftwerk, aparece já despedido de uniforme, fala com uma voz tranquila e com um inglês pausado. Só não aceita tirar fotos: “acho que as pessoas preferem o boneco, não acha? Já tirei o uniforme…”

 

Esta noite foi uma revelação. Tenho que lhe confessar que nunca tinha visto Kraftwerk ao vivo…

Obrigado. Lembro-me de tocar neste mesmo lugar há 10 anos, mais ou menos. Foi em 2004. E também correu muito bem.

 

Há uma certa imagem de uma rígida seriedade teutónica em torno dos Kraftwerk, mas no final do concerto, quando os robots entram em palco e no ecrã se lê “we are charging our batteries” é impossível não detectar aí um saudável sentido de humor.

Sem dúvida. Escrevi essa letra em 1977 ou 1978: “we are charging our batteries / and now we are full of energy”. Sim, é humor. “We are programmed just to do / anything you want us to”. Quando na composição “Spacelab” fazemos uma nave pousar em cada cidade, isso também é humor. Amanhã aterraremos no Porto, depois será a vez de Barcelona. Arranjamos sempre tempo para irmos tirar umas fotografias. É um espectáculo ao vivo, por isso estas imagens também são muito importantes.

 

Na verdade estão a afirmar-se como cidadãos do mundo.

Exactamente.

 

No vosso reportório usam o espanhol, o inglês, o alemão, claro, mas também o japonês, o russo…

Claro: as ondas musicais não se detêm por causa de fronteiras. E essa foi uma ideia muito importante para a minha geração que teve que viver com um muro a dividir o país. Mas um dia essa parede caiu e nós aí conseguimos finalmente tocar na Alemanha de Leste, algo que nos era vedado antes: estávamos mesmo proibidos de viajar para a Alemanha do lado de lá do muro. Tocámos na Polónia e até na Hungria quando o bloco de leste se abriu, mas a Alemanha de Leste estava vedada para nós e só quando o muro caiu é que essa situação se alterou. Mas nem essa proibição impediu a nossa música de chegar às pessoas da República Democrática Alemã. Esta música atravessava paredes.

 

Para uma banda que, apesar de tudo, nunca escondeu o seu amor pelo rock and roll – citaram os Beach Boys em “Autobahn”, declararam-se influenciados pelo carácter repetitivo dos Stooges

Sim, tudo verdade…

 

Mas o vosso concerto não podia ser menos rock and roll, não podia ser menos físico…

É um paradoxo, mas apenas aparente. Pode ver-se a nossa música como uma espécie de funk feito por máquinas. Estamos ligados a um certo espírito clássico da música alemã, a uma certa experimentação electrónica de pessoas como Karlheinz Stockhausen, mas também a uma ideia de estrutura herdada do movimento artístico Bauhaus: o impacto deles nas artes visuais marcou-me pessoalmente. Eu faço muitas das pinturas, juntamente com o meu amigo Emil Schult, que estudou claro com o Joseph Beuys. Em Düsseldorf tivemos sempre uma ligação muito forte à cena de arte contemporânea. Talvez por isso não seja tão estranho pensar na nossa decisão de tocar em sítios como o Museu de Arte Moderna de Nova Iorque onde aliás temos muitos amigos. Acho que temos uma visão ampla e integrada das coisas: escrevo letras, faço desenhos, faço arte 3D, programo coisas.

 

Haverá um novo álbum de Kraftwerk no futuro?

Sim, claro. Temos andado a trabalhar nisso. Estamos a acabar o trabalho em torno do catálogo inteiro em 3D e depois disso poderemos continuar a trabalhar em música nova. Até porque não tenho nada melhor para fazer. Musique Non Stop.

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