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KOTA The Friend

Lyrics to GO, Vol. 2

fltbys / 2021

Texto de Paulo Pena

Publicado a: 01/02/2021

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Exactamente um ano depois (com apenas dois dias de diferença), KOTA The Friend embalou novo pacote de letras para levar e manteve as medidas do primeiro volume: Lyrics to GO, Vol. 2 vem outra vez com 10 faixas incluídas, perfazendo um total de um quarto de hora, garantindo uma experiência leve e agradável ao ouvinte; nada menos, nada mais que isso. 

Tanto mudou em apenas um ano. O exercício de recordar a era pré-pandemia está por esta hora saturado e começa a tornar-se contraproducente para a sanidade de todos nós. Mas o que é facto é que Lyrics to GO, Vol. 1 data esse longínquo tempo, mesmo antes de tudo mudar, em que, como estamos fartos de ora ouvir, ora dizer, éramos felizes e não sabíamos; quando KOTA cantava “2020 vision” em “Berlin”, sem saber que essa era uma visão turva e negra. 

Ainda assim, e ao contrário do que seria de esperar, pelo menos à partida, este novo segundo volume revela-se significativamente mais animador, ou reconfortante. O rapper de Brooklyn habituou-nos a um registo lírico marcado pela sua luta e superação – “I always had a dream to be as bright as the streetlights/ I feel like I’ma cheat death the way that I cheat lifе, yeah/ I took all of my problems and turned thеm shits into dollars/ I stay away from the drama, I sit and watch like iguanas” –, tanto na sua carreira como na sua vida, com a bandeira da independência artística hasteada na caneta. A própria capa remete para esse estado de espírito: está pronto a sentar-se e contemplar a vista, depois do sucesso do ambicioso EVERYTHING, álbum editado (e lançado também praticamente um ano depois de FOTO) pela sua própria label, FLTBYS, entre os fascículos desta colecção com título inspirado no tema “Lyrics to Go” dos A Tribe Called Quest , que trouxe a Avery Jones alguma tranquilidade neste processo contínuo de se ser músico independente em ascensão num mercado ultra-competitivo.



Nas batidas, o artista entregou-se à criatividade de quem tenta reproduzir a sonoridade que o caracteriza. Como revelou através da sua conta de Twitter serviu-se dos “KOTA type beats” para todos os instrumentais deste projecto, contando ainda com André Mariette e CG Beats na produção dos mesmos. E logo a abrir, as teclas esperançosas de “Clinton Hill” têm um efeito imediato na disposição de quem ouve, que dificilmente não se predisporá a continuar tracklist fora a partir daí. 

Nas rimas, KOTA entregou-se à brutal honestidade que o caracteriza: a sua música é um livro aberto de pensamentos e memórias, experiências e vivências. Mais uma vez, em “Clinton Hill”, versos como “CD playin’ Biggie and ‘Pac, Jigga and Nas loud” convertem-nos instantaneamente à sua causa; este é cá dos nossos. 

É por esses caminhos que este projecto nos leva, partindo de instrumentais fáceis de interiorizar e digerir para um rap explícito, sem grandes enigmas técnicos ou substantivos, com versos que dão que pensar, mas sem que nos exijam pensar demasiado – na medida certa. De resto, é o mesmo KOTA, de alma velha e rap refrescante, apesar da substancial diferença entre este formato e os álbuns que apresentou até à data (destacando Anything. como o seu trabalho mais bem-conseguido).  

Lyrics to GO, Vol. 2 é o que se propõe a ser: um conjunto compacto de rimas, rap para levar para qualquer lado, quer nas pequenas viagens de carro, nos passeios (higiénicos, nestes tempos), para fazer exercício físico ou apenas para estar sentado a contemplar a vista. Cumpre o seu propósito: preencher esses quinze minutos, que poderiam ser ocupados por tempos mortos, com música bem viva. O que é bom acaba depressa, mas a boa notícia é que podemos trazer connosco estas canções para qualquer ocasião – nunca nos hão-de deixar ficar mal. Agradeçam a KOTA, o amigo. 


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