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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 19/04/2024

Sete faixas produzidas por Beatoven, com uma série de contributos e convidados.

Kosmo Da Gun lança primeiro EP: “Quis fazer o rap de realidade de que eu gosto”

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 19/04/2024

Há mais de 20 anos que está no activo no underground do rap nacional. Criado na Amora, concelho do Seixal, Kosmo começou por formar uma dupla com Xakal antes de criarem os Da Gun, grupo aos quais se juntariam Dygra, Dublle Z e Malabá. Lançaram diversos temas soltos, gravaram um álbum que nunca chegou a sair e a dupla de Kosmo e Malabá haveria de apresentar a mixtape 1º Caso: Condenados ao Sucesso (2012).

Desde então, com a dissipação do colectivo, os vários elementos seguiram caminhos diferentes. Ao longo dos últimos anos, Kosmo Da Gun reafirmou o seu estatuto enquanto rapper reconhecido no movimento, partilhando faixas soltas e em colaboração com Piruka, Julinho KSD, Plutonio, Mizzy Miles, Phoenix RDC, Estraca, Don G, Tilhon, Sacik Brow ou Kroniko, o que mostra a unanimidade em torno do seu talento e figura.

Faltava, porém, um disco em nome próprio. Essa lacuna fica preenchida a partir desta sexta-feira, 19 de Abril, quando é lançado o EP de estreia a solo, Esta Não É A Tua História, Mas Podia Ser, integralmente produzido por Beatoven, um antigo colaborador dos Da Gun.



“É um projecto que já tem vindo a ser falado há muito tempo com o Beatoven, sempre quis fazer uma cena com ele desde o início ao fim”, explica Kosmo Da Gun ao Rimas e Batidas. “E como nunca cheguei a lançar nenhum projecto sozinho, este foi o primeiro para que, daqui para a frente, continue a fazer mais projectos a solo.”

Começaram a trabalhar no disco há sensivelmente um ano, mas esta não foi de todo a primeira tentativa de Kosmo em lançar um projecto em nome próprio. Segundo o artista, vários discos gravados, e até misturados e masterizados, acabaram por nunca ver a luz do dia. “Sempre fui pela cena do perfeccionismo e isso acabou por empurrar para trás esses projectos.”

Agora que estava determinado a concretizar um disco, optou por não trabalhar da maneira mais tradicional e rendeu-se ao processo conjunto da criação em estúdio. Todos os instrumentais foram concebidos por Beatoven à sua frente, com os seus inputs directos, consoante as temáticas que desejava abordar.



“Eu sugeria ao Beatoven. Por exemplo, quero fazer uma love song. ‘OK, tenho aqui uma panóplia de beats que se aproximam disso, tenho este mais assim, este mais new vibes‘. OK, vamos estruturar para meter no refrão alguém a cantar mais. Foi mesmo um processo de construção. E foi criado faixa a faixa, nunca estivemos a fazer quatro faixas ao mesmo tempo ou algo do género. O processo de construção foi mesmo muito bom, porque também ganhei muito mais conhecimento acerca de cenas sobre as quais não tinha bases nenhumas.”

Kosmo Da Gun descreve o EP, de forma simples, como um projecto em que demonstrou o seu “rap de realidade”. “Basicamente, foi fazer o rap de que eu gosto, e dar a conhecer às pessoas um bocado mais desse mundo, que era o que eu já fazia antes de lançar as últimas faixas soltas e fazer os feats.”

Independentemente do contexto de cada ouvinte, para si o importante era retratar histórias reais. “Pode não acontecer contigo, mas podia acontecer contigo. E mesmo nalgum som podes-te identificar com alguma cena: de poderes conhecer uma situação, mesmo que não a tenhas vivido na pele. Todos nós temos uma história, uma vivência, que envolva algum amigo ou alguma situação, se a gente esteve dentro ou não, mas todos nós temos uma história.”

Cada um dos temas acabou por contar com instrumentistas, vocalistas ou co-produtores convidados, que deram os seus contributos consoante o que cada faixa pedia. Em Esta Não É A Tua História, Mas Podia Ser encontramos nos créditos os irmãos GOIAS, Monksmith, Ana Semedo, Yannick Jafar, Juzicy, Ivo Magic, Samsacion, Brown.sugar, Pedro Joaninho, Christian Tavares e KingDavid. Tirando “Meia-Noite”, não houve nenhum tema construído com recurso a samples

“Esta música pede um refrão cantado, vou ligar ao instrumentista do jazz, ele vem aqui e grava um saxofone. Por isso é que digo que não houve nenhum instrumental que já estivesse feito, todos foram construídos… Houve muita pré-produção e pós-produção, estivemos sempre a alterar muita coisa, porque era consoante aquilo que a música ia pedindo.”



Quanto aos convidados, o nome mais sonante é Plutonio, alguém com quem Kosmo já tinha colaborado por diversas vezes. “‘Olha, Plutonio, estou a fazer o meu projecto sozinho, gostava de deixar lá um espaço para ti, em forma de agradecimento às vezes que me convidaste a mim, e eu nunca te tinha convidado porque nunca tinha criado nada, o que é que achas?’ ‘Mano, estou mais que dentro, isso nem é conversa’. Chegámos, escolhemos uma base instrumental, criámos tudo desde o início ali no estúdio”, recorda Kosmo Da Gun.

O resultado foi um tema diferente, “Saber Valorizar”, em que Kosmo Da Gun, incentivado por Plutonio e por outras pessoas à sua volta, se permitiu a explorar um registo mais cantado. “É a primeira música da minha vida em que canto. Foi uma insegurança do caraças. Quis apagar bué vezes. E ele disse: ‘não faças isso, mano, a cena está fixe, está muito boa. Tu nunca te ouviste assim mas tens que abrir os horizontes, mudar o registo’. E até deu o exemplo dele. ‘Imagina se eu me tivesse mantido no mesmo registo do ‘Todos os Dias’, não era este Plutonio que sou hoje em dia. Muda a tua cena, vai chegar mais gente a ti, vais abranger muito mais people. Mantém o teu carisma, a tua pessoa, a tua identidade mas não precisas de a perder para fazeres cenas diferentes’. E aconteceu aquilo. Mas continuo, até hoje, inseguro sobre aquilo. Mesmo que o pessoal diga que goste. E tive também o Richie Campbell a elogiar: ‘Esquece, Kosmo, a cena está noutro nível, soa bué bem’. O people da Warner também o disse. Mas é a minha insegurança enquanto rapper que nunca fez nada cantado.”

O que Kosmo Da Gun costumava fazer era imaginar a melodia de um refrão ou de determinada secção de uma música, mas deixar para outra pessoa interpretar e gravar. “Eu orientava, construía, mas depois pedia a alguém para cantar, porque pensava que nunca iria conseguir atingir aquilo. Tanto que no som tem uma voz aguda e uma voz grave por baixo. E era para ser ao contrário, mas o Plutonio é que me disse: ‘esquece isso, já ninguém faz isso. Faz ao contrário, cresce de uma vez e muda o teu registo, vai-te acrescentar mais. Podes não deixar de ser um rapper storyteller e fazer…’ Só que eu venho de um ensinamento de rap completamente diferente do registo de hoje em dia, mas se formos ver, todos os rappers agora… Até o Dillaz está com uma sonoridade diferente em relação àquilo que era. É normal haver estas adaptações. E quem não está sempre no estúdio ou em constante evolução acaba por se prender um bocado àquilo. Mas desta vez desbloqueei isso. Até porque sei quem eu sou, já provei em mais de mil sons quem sou, o que faço e como faço, por isso não me vou aqui prender. Claro que, depois, quando oiço, começo a questionar se é mesmo aquilo… Mas fui-me habituando ao som e, agora, é dos que mais gosto do EP.”



Outra colaboração aconteceu com o cantor MKMike. “Sempre gostei do trabalho dele. Eu e ele já tínhamos gravado uma faixa, das tais dos meus outros álbuns que nunca cheguei a lançar. Uma faixa muito boa mesmo. Mas foi passando o tempo, eu não cheguei a lançar, também perdi o contacto com ele. E quando ele entra no álbum do T-Rex, eu lembro-me dele. Mantivemos o contacto e, depois, quando oiço aquele beat… Tinha de ser ele. Não havia uma outra voz masculina que eu quisesse… Aliás, estive na dúvida entre ele e o Syro, mas acabei por o escolher a ele.”

Por fim, o promissor SleepyThePrince entrou com Lloyd na segunda faixa do disco, “DH (Dirham)”, mas ainda gravou vozes adicionais em “Meia-Noite”. “O Sleepy estava lá no estúdio, eu nunca tinha ouvido nenhuma cena dele. E vi a cena fresh que ele tem e pensei logo: este chavalo tem que entrar na minha cena. ‘Sleepy, o que é que farias aqui, o que é que tu punhas?’ ‘Kosmo, fazia isto e aquilo’. ‘Ok, boa, ‘bora experimentar’. Tanto que ele fez um primeiro refrão para esse som e depois acabámos por fazer outro, encontrámos ali outra vibe. E eles virem com estas ideias fresh abre-nos muito mais a cabeça.”

Sem grandes expectativas, Kosmo Da Gun está agora apreensivo sobre a reacção que o projecto vai ter, mas conta que gostava de preparar concertos com alguns instrumentistas, em formato acústico e de auditório, “uma cena mais grown man show”. “Rap para people que gosta mesmo de rap, para quem o pode ouvir num auditório.” Além disso, revela, já está a trabalhar num segundo disco com o mesmo Beatoven. “Agora não vamos parar.”


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