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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 28/04/2022

Muito influente.

Klaus Schulze, pioneiro alemão da música electrónica, morreu aos 74 anos

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 28/04/2022

Klaus Schulze faleceu na passada terça-feira, dia 26 de Abril. O músico que padecia de doença prolongada contava 74 anos. Schulze teve uma prolífica carreira e lançou mais de meia centena de trabalhos em nome próprio, sinal de uma mente inquisitiva e exploratória que lhe impulsionava uma genuína criatividade.

Schulze faz parte da geração de músicos alemães nascidos após a Segunda Guerra Mundial. Em 1967, o músico natural de Berlim contava 20 anos e envolveu-se de imediato na cena musical que seria consagrada na imprensa britânica com o termo krautrock. Pouco interessados no passado tradicional, demasiado conotado com o regime nazi, estes músicos procuraram igualmente distanciar-se do modelo rock americano, centrado nos blues, e investiram no desenvolvimento de novas linguagens. Em 1969, Klaus Schulze integrou os míticos Tangerine Dream e contribuiu para o seu reverenciado álbum de estreia, Electronic Meditation, tocando percussão. Schulze era baterista, vinha de um grupo experimental chamado Psy Free, mas acabou ligado aos Tangerine Dream depois de ter conhecido Edgar Froese no Zodiac Club, pólo fundamental da cena musical e artística berlinense criado por Conrad Schnitzler.

A passagem de Schulze pelo grupo de Froese foi, no entanto, breve. No ano seguinte, em 1970, Klaus Schulze criou os Ash Ra Tempel juntamente com outro importante nome da cena alemã, o guitarrista Manuel Gottsching. Irrequieto e em busca do veículo perfeito para expressar as suas ideias e experimentar livremente, Schulze também gravou apenas um álbum com os Ash Ra Tempel antes de abandonar o projecto para se concentrar na sua carreira a solo.

Irrlicht, álbum de estreia lançado em 1972, foi imaginativamente criado por Schulze apenas com um órgão e com gravações de uma orquestra manipuladas em estúdio. O resultado firmou-o imediatamente não apenas na efervescente cena alemã em que já navegavam grupos como Can, Neu! ou Popol Vuh, Tangerine Dream e uns ainda desconhecidos Kraftwerk, mas mais além, conquistando de imediato a atenção da imprensa britânica.

Foi também com tecnologia britânica que Schulze começou a aproximar-se da sua visão de uma música electrónica mais pura e o mais possível afastada do rock clássico. No segundo álbum, Cyborg, usou o mítico sintetizador da EMS VCS 3 (usado por bandas como os Pink Floyd, por exemplo), instrumento que se destacaria também em registos subsequentes como Moondawn, Mirage e X, editados entre 1976 e 1978. Nestes álbuns, o trabalho com padrões sequenciados e as envolventes texturas electrónicas, podem aliás encontrar-se pistas para o futuro, não apenas da música ambiental, mas também da música de dança. Os futuros criadores da cena techno de Detroit, que o “coroaram” com o título “padrinho do techno”, estavam atentos: Schulze foi uma decisiva influência em Juan Atkins, por exemplo.



Schulze voltaria a colaborar com outros músicos: em 1976, responderia afirmativamente a um convite do percussionista Stomu Yamashta para integrar o supergrupo Go ao lado de Michael Shrieve (com quem se voltaria a cruzar várias vezes) e ainda de Steve Winwood e Al Di Meola. O grupo lançou os álbuns Go e Go Too e ainda o registo ao vivo Go Live From Paris, muito apreciado pelos fãs de jazz de fusão.

Tal como os Tangerine Dream, Schulze também deu bom uso ao lado mais ambiental e reflectivo da sua música compondo para cinema: Barracuda (1978) e Next of Kin (trabalho de 1982 relançado recentemente pela The Roundtable) são títulos de culto.

Na década de 80, e como mais um evidente sinal de uma indómita vontade de agarrar o futuro, o músico que se tinha notabilizado a usar sintetizadores analógicos como o já citado VC3 3 ou o Minimoog, abraçou de imediato as nascentes tecnologias digitais, levando a sua música para outros lugares, por vezes próximos até do que hoje se denomina “neo-clássica”.

Deus Arrakis foi o último álbum que anunciou ainda em vida — estaria programado para ser editado no próximo mês de Junho –, culminar de uma longa discografia em que explorou diferentes caminhos da música electrónica, sem sempre com o vigor criativo demonstrado nas suas clássicas gravações dos anos 70 e 80, mas com pontuais rasgos que remetiam para os seus melhores momentos.

Num comunicado, Frank Uhle, que geria a editora de Klaus Schulze, a SPV, realçou que apesar de sofrer de doença prolongada, o músico morreu “repentinamente”. “Perdemos e sentiremos a falta de um bom amigo pessoal”, explicou o executivo. “Um dos mais importantes compositores de música electrónica — um homem de convicções e um artista excepcional. Os nossos pensamentos nesta hora estão com a sua esposa, filhos e família. A sua natureza alegre, o seu espírito inovador e a sua obra impressionante ficarão permanentemente firmados nas nossas memórias”.


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