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Publicado a: 04/03/2016

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Review_K

[TEXTO] Rui Miguel Abreu

A arte muda. Cresce. Transforma-se. Desaparece e renasce. Toda a arte. A pintura. O cinema. A literatura. A música. O hip hop. O basquetebol. Caso notório deste último exemplo é Stephen Curry, um prodígio que todos os entendidos dizem estar a mudar o jogo, com os seus tiros certeiros de longa distância. Stephen Curry é o Kendrick Lamar do basquetebol. E Kendrick também está a mudar o jogo. Com os seus tiros certeiros, sempre longe da tabela, mas sempre capazes de acertar no cesto, lindos, redondos, sem espinhas.

Untitled Unmastered. conta apenas umas horas de vida, mas o seu vigor é tremendo. K-Dot pega na arte, molda-a ao seu génio, regressa ao jazz mais libertário inventado por mentes revolucionárias como John Coltrane ou Sun Ra, cola-o ao funk cósmico propagado até ao infinito por George Clinton e a célula revolucionária Parliament/Funkadelic e injecta-se “boom” e “bap” suficientes para garantir a ligação à tradição. Há até um beat produzido pelo filho de cinco anos de Swizz Beatz, coisa simples, que o intelecto de K-Dot transforma em coisa linda. “Levitate, levitate, levitate”. A verdade é que Kendrick, como no vídeo de “Alright”, parece flutuar. Acima dos beats, acima da própria história.

No microfone, K desfila ideias fundas, palavras de protesto e de identidade, de cérebro, de coração e nervo, exibe flows, evoca Billie Holliday. “Genocide and capitalism just make me hate”, confessa ele. E nós entendemos.

Kendrick, como Curry, está a transformar o jogo, a provar que a arte pode estar codificada, mas não imobilizada. E faz-nos acreditar, em oito momentos sem título, que tudo é possível, que o hip hop é um court onde os shots impossíveis são afinal de contas realizáveis. Basta haver visão, músculo, génio. E isso ele tem tudo em abundância. “Levitate, levitate, levitate…”

 


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