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Texto: ReB Team
Fotografia: Juliano Mattos
Publicado a: 08/02/2024

A folia volta ao Maus Hábitos.

Kebraku Karnaval: “É uma festa organizada por imigrantes, com a energia, amor e potência com que vivemos nossas lutas e festas”

Texto: ReB Team
Fotografia: Juliano Mattos
Publicado a: 08/02/2024

A noite que antecede o Carnaval no Maus Hábitos volta a ser animada pela Kebraku. Dia 12 de Fevereiro, o clube portuense será palco de uma festa feita de “ritmos dançantes, transantes e rebolantes” com sabor a Brasil.

É uma das residências mais aclamadas dentro da programação do Maus Hábitos. A Kebraku é um projecto criado por Rafael Henrique Victório, aka DJ Farofa, artista brasileiro que reside no Porto, com o objectivo de curar festas seguras e inclusivas, sem espaço para a toxicidade, onde se misturam gentes de todas as culturas e estratos sociais para dançar ao som dos ritmos mais exóticos, com especial foco na música brasileira. Em Dezembro do ano passado, o fundador da iniciativa foi um dos convidados de Luísa Cativo para o podcast Câmara Magmática, que tem transmissão em vídeo no YouTube do Rimas e Batidas.

Nos últimos anos é a Kebraku quem assume o evento de aquecimento para o Carnaval no Maus Hábitos e 2024 não será diferente. O Kebraku Karnaval acontece já na próxima segunda feira e promete uma decoração a rigor e um concurso de máscaras, cujo vencedor ganha um passe de livre-trânsito para todas as festas Kebraku realizadas até ao Carnaval seguinte. Na música, atrás dos decks vão poder escutar o próprio Farofa, as Kombikats (Catarina Costa & Catarina Oliveira), Igor, Patisol e Ucla Luna. As entradas no evento custam 8 euros.

Em jeito de antecipação a esta folia à moda do Brasil no Porto, o Rimas e Batidas enviou algumas perguntas a Farofa.



O Brasil tem uma ligação muito especial com o Carnaval. Para a Kebraku, o que significa poder animar a noite que o antecede deste lado do oceano?

É uma felicidade e uma responsabilidade imensas representar o Carnaval, visto que é nossa maior festa popular. Além de ser tradição em qualquer canto do Brasil e onde quer que estejam pessoas brasileiras a viver. Já desde 2019 que fazemos a “Segunda de Carnaval” em parceria com o Maus Hábito e por ela já passaram mais de 20 DJs e grupos percussivos como a Batucada Radical e o maracatu do Baque Flores do Porto. Uma ação decolonial pela arte, música e festa.

Vocês já conhecem bem os cantos à casa do Maus Hábitos pelos vários eventos que protagonizam por lá. Em que é que difere uma festa de Carnaval em relação às habituais residências?

A energia da KEBRAKU por si só é incrível e fenomenal, conseguimos criar um espaço seguro, consciente, saudável e de felicidade através da música brasileira, seja pela Música Electrónica Popular Brasileira (como o Funk Brasileiro), seja pelas músicas de Carnaval do Brasil inteiro e, principalmente, por artistas imigrantes não europeus que por aqui vivem. Então tem esse caráter de ser uma festa organizada por imigrantes, com a energia, amor e potência com que vivemos nossas lutas e festas.

O alinhamento do evento foi revelado no final do mês passado. O que é que nos podem avançar sobre as particularidades que cada um destes DJs vai procurar trazer para a pista?

A KEBRAKU sempre procura abrir espaços para novos artistas que por aqui chegam, bem como integrar e dar representatividade a artistas que são excluídos, pelos mais diversos fatores. Assim, utilizamos a nossa curadoria para fortalecer lutas e mostrar o quanto somos diversos. Temos duas estreias, o DJ Igor, que é de Belém, do Pará, terra do carimbó, da lambada e das aparelhagens, dos maiores sound systems do planeta, com um set 100% em vinil e para mostrar como se pula o Carnaval no Norte do Brasil. Como também, a estreia do UCLA LUNA, DJ de João Pessoa, Paraíba, guitarrista da Banda Batucada Radical, representando o Nordeste e a força desse berço musical brasileiro. Temos as Kombikats, um duo de Catarinas, Costa e Oliveira, DJs portuenses que amam a cultura brasileira de carnaval e que viraram residentes no nosso Carnaval nos Maus. Aliás, cabe destacar aqui uma questão importante: a Catarina Oliveira é deficiente física e o Maus Hábitos é um dos únicos clubs em que ela pode acessar para trabalhar e tocar — podem saber mais sobre ela aqui. Para fechar temos a Patisol, DJ que vem crescendo na cena de Portugal e é da nova geração de DJs imigrantes que começaram no Porto, no contexto da KEBRAKU. E, por fim, o FAROFA, que dispensa fazer comentários dele mesmo [risos].

Além da música, têm alguma ideia para dar um sabor ainda mais especial a esta festa? Pensaram em adereços para o espaço ou algum tipo de actuação mais performativa? Que surpresas nos reserva este Kebraku Karnaval?

Como todo Carnaval, teremos uma decoração especial — aliás, toda KEBRAKU tem sempre uma decoração e uma cenografia. Teremos nosso concurso de fantasias, todo ano uma pessoa ganha entrada livre para todas nossas festas até o próximo Carnaval. Nesse ano não teremos nenhuma performance de música ao vivo, é uma logística muito grande colocar performances de maracatu de mais de 25 pessoas dentro do Maus, ou uma batucada com 30 integrantes, como já fizemos. Além da questão de licenças para concertos pós 00h. As performances ao vivo e orgânicas ficaram para as ruas esse ano. 

Vão ser muitas horas de dança ao longo da noite e certamente que há músicas que vão querer passar obrigatoriamente no sistema de som do Maus Hábitos. Se tivessem de nomear, quais são os 5 temas que não podem faltar por nada numa festa de Carnaval?

Timbalada – “Água Mineral”; Beth Carvanlho – “Vou festejar”; Vários Autores – “Marchinhas de Carnaval”; Sergio Mendes – “Magalenha”; Spok Frevo Orquestra – “Frevo nº 1 do Vassourinhas”; Dona Onete – “Na Linha do Arco Íris”; Difícil, são muitos temas que não podem faltar, por isso o Carnaval é o ano inteiro no Brasil.

Ainda estamos no início de 2024 e deduzimos que existam planos e metas traçadas do vosso lado para os meses que se seguem. O que podemos esperar da Kebraku ao longo deste ano?

Muitas coisinhas delícias e a luta e amor de sempre! Temos já surpresas preparadas para o verão, mas que não podemos revelar agora. Mas o mais especial é continuar sendo plataforma e força para artistas imigrantes que querem viver e trabalhar com suas artes. Abrir portas, integrar e aumentar a representatividade destes artistas. Continuar na luta contra a instrumentalização da arte brasileira, principalmente por pessoas nascidas na Europa, que usam de um discurso falso de inclusão. A festa só existe porque existe luta, e se a luta é decolonial, mais festas e força precisamos e seremos.


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