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Fotografia: Rafael Farias
Publicado a: 07/09/2021

Entre aprendizes e mestres.

Karma É’21 – Dia 4: fechar com saxofone de ouro

Fotografia: Rafael Farias
Publicado a: 07/09/2021

Directamente da Festa do Avante, Cabrita subiu ao palco montado na Mata do Fontelo para encerrar a edição de 2021 do Karma É – Um Festival, que terminou este domingo em Viseu. O último dia foi um direcionado às crianças e às família através das agradáveis actuações da Escola do Rock Paredes de Coura e da Oficina de Criação Musical de João Pedro Silva (The Lemon Lovers): dois projetos constituídos na íntegra por jovens músicos e com uma missão educativa.

E se há algo que não tem sido salientado o suficiente ao longo deste conjunto de reportagens dedicadas ao Karma é o ambiente familiar que se vive dentro e nos arredores do festival. Esta é uma iniciativa pequena em tamanho – mais pequena que nos anos anteriores –, que conta com um único palco inserido na maior área verde da cidade. Por isso mesmo, esta é uma zona já tradicional de convívio e passeio, onde muitas famílias deambulam de bicicleta ou a pé. A música que ressoa por todo o espaço atrai os curiosos e muitos compram bilhete à porta, enquanto outros optam por ficar atrás das frágeis cordas que delimitam o recinto apenas a ouvir.

Foi precisamente o que aconteceu perante a maior banda que pisou o palco do Karma É em 2021 – a Escola do Rock Paredes de Coura: um grupo de alguns 20 jovens adolescentes e seus professores que todos os anos se dedica à formação musical de crianças em formato de residência artística (ou campo de férias, se preferirem). Ao longo dos dias, estes jovens são integrados numa banda que, de forma engenhosa, estuda e aperfeiçoa temas rock de grupos inconfundíveis como os Blur ou os Talking Heads para versões tocadas a seis guitarras, três baixos, três vocalistas e duas baterias, sem esquecer das teclas, claro.

Já com músicos profissionais não deve ser fácil fazer com que seis guitarras soem igualmente afinadas e em sintonia, quanto mais com jovens músicos. Mas a equipa de formadores encontrou uma forma curiosa de contornar eventuais assincronias ao dividir as pautas originas (para uma ou duas guitarras, por exemplo) por todos os intervenientes de forma a que se complementem. Assim – como uma verdadeira orquestra – nem todos tocam as mesmas seções da mesma forma. A isto, acrescerá certamente alguma magia do engenheiro de som da própria banda, que lá saberá como fazer sobressair o melhor que cada músico.

Com um propósito semelhante, mas de forma diferente, trabalhou a turma liderada por João Pedro Silva depois de uma residência artística de 10 dias que tomou forma nas instalações do Carmo 81. Para esta turma mais nova, com idades entre os 8 e os 13 anos, o objetivo passava por motivar a primeira criação musical da maioria, já que o ensino da música nestas idades costuma focar-se nos fundamentais através da interpretação de obras alheias, mesmo para os mais capacitados e que frequentem o conservatório, como é o caso.

Assim sendo, e para deleite dos familiares que encheram a plateia e a sua retaguarda já fora do recinto, a Oficina de Criação Musical cumpriu o seu propósito na integra através de um curto concerto de cerca de 20 minutos. Ao longo de 10 dias, estes jovens músicos foram capazes de escrever e memorizar a sua primeira criação musical jazzística, com ideias livres e originais orientadas por João Pedro Silva. No final, por mais ou menos afinados que estivessem, estas crianças receberam a maior ovação nesta edição do festival.

E despachados os concertos da tarde, os olhos ficaram postos no saxofonista de bandas como os Dead Combo, os Sitiados, Kussondulola, Despe e Siga, os Assessores (banda que acompanha Sérgio Godinho), Cacique 97, Cais do Sodré Funk Connection ou Virgem Suta para aquele que era antecipado como um dos pontos altos do festival.

E assim foi: acompanhado por mais três sopros, uma guitarra, teclas e uma bateria, João Cabrita disparou boas vibrações desde o início com as sonoridades reggae de um dos temas que deu origem ao disco – “Farai” que conta com a participação de Milton Gulli. Daí, o músico levou-nos para outros caminhos mais próximos do jazz em autênticos jogos de gato e rato entre saxofone e guitarra, passando pelas sonoridades mais rock e até electrónicas.

Nas mãos de Cabrita, o saxofone ganha uma versatilidade pouco usual numa pessoa só, actuando também como substituto da voz em faixas 100% instrumentais. E o culminar de tudo isto são duas faixas com o contributo de Stereossauro (ausente do concerto) que o músico teve o prazer de apresentar ao vivo em “estreia quase inédita” na Mata do Fontelo, mas cujos títulos não revelou. O primeiro tema prima pela percussão simplista que deixa o saxofone brilhar, já a segunda, com uma sonoridade mais afro, parece chamar pela voz de Selma Uamusse ou mesmo de Mayra Andrade. Quem sabe se não vem daqui um remix com algumas dessas vozes, ou se a versão de estúdio não trará já esse brinde.

Ainda no mesmo leque, a descair para as sonoridades mais modernas e electrónicas, não parece descabido incluir “We Andrea”, que conta com a participação de Sam The Kid num tema digno de um filme de espiões que expõe todo o poder do saxofone.

O festival encerrou assim ao som do último tema do novo álbum. “Never Gonna Give It Up” reúne o toque de todos os artistas convidados para o projecto num único tema e que ao vivo levou Cabrita a largar os sopros e a pegar na guitarra. No final de tudo fica apenas um arrependimento: o de não se poder dançar. 


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