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Fotografia: Rafael Farias
Publicado a: 03/09/2021

Tempo da (e para) a família.

Karma É’21 – Dia 1: a que soam a chuva e a trovoada quando são filtradas por uma guitarra?

Fotografia: Rafael Farias
Publicado a: 03/09/2021

Esta quinta-feira foi o primeiro dia do Karma É, festival dedicado à música independente e que inaugurou ontem a sua edição de 2021 com um surpreendente espetáculo ao vivo do duo A Azenha, formado pelo guitarrista Filho da Mãe e pela baixista e ilustradora Cláudia Guerreiro (Linda Martini), que aqui assume essencialmente o papel de artista plástica. Em conjunto, contaram-nos uma história através de sons de guitarra, sombras, luzes e guaches perante uma plateia gourmet de cerca de 60 pessoas.

Este ano, devido à pandemia, a lotação é limitada e a sua dimensão reduzida, mas, antes de se notar que este é condicionado pela pandemia, a primeira leitura é de que o festival se trata de um qualquer evento exclusivo. O palco é demasiado pequeno para lembrar um “festival de Verão”, as luzes coloridas na escura mata dão-lhe um ar místico e o silêncio da natureza envolvente transportam-nos para uma ocasião quase solene. A estes detalhes claramente ensaiados correspondeu a actuação de abertura do festival, que não ficou atrás em solenidade ou misticismo.

Para quem nunca viu uma atuação ao vivo de A Azenha é difícil de descrevê-la, mas rapidamente se depreende que o que está prestes a acontecer não se trata de um concerto normal. E isso tornou-se perceptível nos primeiros instantes quando, num pequeno palco montado numa clareira na Mata do Fontelo, em Viseu, onde as árvores pintadas de azul e laranja pelos vários projectores deixam formar uma acolhedora galeria, entraram apenas Filho da Mãe, que se sentou à direita do palco junto da sua guitarra e dos seus pedais, e Cláudia Guerreiro, que se posicionou à esquerda atrás do que parecia um guiché envidraçado presente num qualquer gabinete de atendimento ao público.

É nesse guiché – a sua oficina portátil – que, munida de um acrílico, vários materiais de pintura, luzes e cenários e figuras de cartão, Cláudia vai desfiando uma história de amor baseada na família e que se passa entre a lua e o sol, e os signos touro e escorpião. Estes são os elementos mais comuns de uma tela viva que é projectada em tempo real no palco. Do outro lado, Filho da Mãe dá ritmo à arte com, essencialmente, a sua guitarra e looper, que indicam o caráter ora alegre, ora triste, da acção narrada no acrílico. Guitarra ambiente apoiada em alguns pedais e empenhada em enquadrar o que se vai passando no acrílico. Pelo meio, há tempo para verdadeiras experiências sensoriais feitas através de jogos de sombras, luzes e água com sabão que, quando aplicados na tela pela ilustradora, deixam perceber uma variedade de condições meteorológicas. Enquanto o clima se desenvolve, Filho da Mãe mostra-nos a que soam a chuva e a trovoada.

Na génese da actuação está um monte alentejano (e antiga azenha) que serviu de inspiração aos dois artistas. Nesse monte, num muro, há uma pintura de um sol e de uma lua, explicou Cláudia Guerreiro, que representam o tio (o falecido escultor Jorge Vieira) e a tia (Noémia Cruz). “É essa a casa que aparece em cena no final”, acrescentou em conversa após a actuação. “Por alguma razão acabei a agarrar em quatro figuras, que estão num muro de uma piscina, que é um sol, uma lua, um touro e um escorpião. Que no fundo são um auto-retrato do meu tio, retrato da minha tia e o paralelismo com os signos deles: touro e escorpião. E achei que podíamos contar a história daquela casa, tendo como referência estas personagens”, contou Cláudia em declarações à Lusa, em 2020, aquando da estreia do espetáculo no gnration, em Braga.

Esta foi a única actuação do primeiro dia da edição deste ano do Karma É – Um Festival, que estreou também as exposições, de fotografia, de Rafael Farias, e Peças de Estranhofones, de Samuel Martins Coelho e Cesar Estrela. A festa segue hoje com concertos de Marlow Digs, Club Makumba e YAKUZA – alguns dos nomes mais aguardados do cartaz.

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