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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 04/06/2019

Dungeon Rave marca a estreia de Miguel Béco de Almeida pela editora Capital Decay.

Kara Konchar: “Há algo de divertido em imaginar esqueletos ou criaturas hediondas a celebrar as suas maldições na pista de dança”

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 04/06/2019

Miguel Béco de Almeida é o cérebro por detrás do segundo lançamento da Capital Decay, editora que deu os passos iniciais em Janeiro com o mais recente projecto de Zé Quintino, que em Proposition 1231 assina como Hangloser.

Anteriormente conhecido como ATILA, o produtor assumiu uma nova identidade artística em Dungeon Rave, lançado em Abril. As oito músicas contêm texturas profundas e etéreas em que o espaço e a ambiência sobressaem no lugar da melodia e harmonia. São, como o título indica, um conjunto de espaços obscuros e castigadores onde a dança também tem lugar. Uma tour com guia por uma rave num submundo onde encontramos o português IVVVO ou o britânico Kai Whiston. É agressivo, é expansivo e tem camadas suficientes para se descobrir um timbre novo ou uma harmonia escondida em cada nova audição.

Em conversa com o Rimas e Batidas, Kara Konchar, que toca esta sexta-feira no Pérola Negra, no Porto, falou sobre colaborações, a produção deste novo disco e a música electrónica em Portugal.



Como surgiu a ideia para este disco e a ligação à Capital Decay?

A ideia para lançar o disco surgiu da forma mais natural possível. Andava a trabalhar nas músicas já há algum tempo e depois foi uma questão de as juntar, descartar algumas ideias que não faziam sentido para aqui e trabalhar o todo para ficar coeso. Quanto à ligação à Capital Decay, surgiu por afinidade. Eles são meus amigos, falaram-me da ideia e objectivos que tinham para a label, eu mostrei-lhes as músicas que tinha na altura e concordámos todos que fazia sentido lançar o disco, e assim foi.

Em conversa com a Threshold Magazine revelas que este novo nome é um refresh na tua ligação com a música. Sentes que houve uma abordagem diferente à produção?

A abordagem à produção não mudou muito em relação ao que já andava a fazer com ATILA, o que mudou foi essencialmente a linguagem, aquilo que eu queria fazer sonoramente, e não necessariamente como o fazer. Acima de tudo a roupagem nova, para mim, surge na identidade do projecto.

Este título, Dungeon Rave, vem um pouco da celebração do obscuro, certo? Apesar da agressividade e acutilância, também tens um groove muito dançável. Acaba por justificar bem o título…

Sim, vem muito da celebração do obscuro, do herege e do macabro. Ao mesmo tempo, o título também vem do cruzamento do meu fascínio pelo universo de Dungeons and Dragons e pelo dungeon synth com a cena da música electrónica de dança. Não acho que a primeira parte se sinta tanto assim na música, mas acaba por ficar lá a nível de conceito e sugestão, pelos títulos das músicas e do disco. Há algo de divertido em imaginar esqueletos ou criaturas hediondas a celebrar as suas maldições na pista de dança.

Tens uma sonoridade algo profunda, mas uma instrumentação relativamente minimalista. Quão fácil é para ti saber quando parar de adicionar elementos num trabalho?

Na realidade eu acho que ainda não está minimalista que chegue, é uma coisa com que me vou batalhando, essa de parar de acrescentar coisas. Mas acho que vem da percepção de que às vezes três ou quatro camadas bem definidas são mais impactantes do que 10 ao mesmo tempo. O processo passa muito mais por retirar elementos na fase final de produção do que por uma escolha criteriosa à priori.

És muito individualista no teu processo criativo?

Dá para não ser? Os inputs e influências podem ser exteriores, mas a interpretação e a execução são sempre muito egocêntricas. Fazes de ti para ti e, se achares que tem valor, depois partilhas com o mundo. Pelo menos para mim assim o é, quando trabalho sozinho, como foi o caso deste disco. Obviamente que mantenho sempre em aberto a hipótese de colaborar com outros e aí já é tudo mais flexível e cria-se uma identidade conjunta.

Há alguém com quem tivesses interesse em trabalhar futuramente? Ao nível de som ou mesmo de vídeo.

Há imensa gente com quem gostava de colaborar, provavelmente mais do que aquela que infelizmente o tempo me permite. Mas gosto de manter as coisas numa perspectiva realista e por isso vou trabalhando com artistas que de alguma forma me são próximos ou tenho confiança. Ainda não aconteceu mas, se tudo correr bem, há algumas colaborações a caminho. Não vou aqui dizer nomes só para não prometer algo que não consiga cumprir depois. A seu tempo quero trabalhar com vídeo, vozes e possivelmente percussão acústica.

Como vês o panorama da música electrónica portuguesa de momento?

Eu acho muito honestamente que estamos a passar um bom momento. Têm surgido labels, colectivos, rádios, festas e bons artistas, tudo em circuitos pequenos, mas com identidades vincadas e a explorar novas linguagens. Vem-me à cabeça no Porto a malta do TERROR, a Favela Discos, os Colectivo Vandalismo, aqui em Lisboa (onde estou agora sediado), obviamente a Capital Decay mas também a malta da Rotten//Fresh, da 00:NEKYIA, Suspension, etc. que estão com vontade de pôr as coisas a mexer. Mesmo em Coimbra [tens] a malta da Instrumental Violence. E ainda assim tenho a certeza que me estou a esquecer de imensa gente e das outras cidades onde também acontecem coisas. Mas, para mim, o foco e parte boa disto é que, sendo um país pequeno e que não tem assim tanto público para esta música, é inevitável que se crie diálogo e estas caras todas se vão cruzando e criando coisas novas e dinamizando os espaços. Para mim, o caminho será sempre o da colaboração.


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