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Publicado a: 15/10/2018

Kalaf, Irmãos Makossa e Batida recordam Fela Kuti

Publicado a: 15/10/2018

[FOTO] Direitos Reservados

Nasceu no dia 15 de Outubro de 1938, desapareceu a 2 de Agosto de 1997 e deixou um legado que não perde uma gota de vitalidade com o passar dos anos. Falamos de Fela Kuti, criador do afrobeat e figura polarizadora que nunca teve medo de erguer a sua voz a favor daquilo em que acreditava, e que ia contra muito do que se passava à sua volta numa Nigéria violentada pelos poderes militares.

A força da música do artista nigeriano atravessa gerações, credos e géneros musicais, vivendo com propriedade através dos seus filhos, Femi e Seun Kuti, e de Tony Allen, o seu baterista de eleição, que lançaram álbuns a solo e espalharam os seus ensinamentos por trabalhos de ilustres como Jeff Mills ou Damon Albarn, por exemplo.

No dia em que Fela Kuti completaria 80 anos, o Rimas e Batidas pediu a Kalaf Epalanga (membro dos Buraka Som Sistema e co-fundador da Enchufada), aos Irmãos Makossa e a Pedro Coquenão (Batida) para deixarem a sua visão pessoal da obra do “Presidente Negro”.

 



[KALAF]

“Mais do que discutir a inegável importância e o significado do Afrobeat na música contemporânea que chega de África, é a mensagem de Fela que ressoa mais alto. À luz da conjuntura política e social actual, estou certo que o Sr. Fela Kuti não imaginaria, em pleno século XXI, ver serem postos à prova os valores e conceitos que nós, enquanto civilização, julgávamos conquistados. O fim da democracia voltou a ser assunto e, em momentos de desespero e incerteza como os que atravessamos hoje, é necessário voltar a olhar para o passado e estudar as lições gravadas em disco que nos foram deixadas pelo músico e activista Fela Anikulapo Kuti para combater o fascismo e todo e qualquer regime totalitário que ameaça fazer-nos retroceder à idade da pedra.”

 



[IRMÃOS MAKOSSA]

“Curiosamente descobri o Fela através da minha irmã. Altura em que nem se quer coleccionava discos, apesar de ter muita vontade de o fazer. Ouvi umas músicas e, sinceramente, no início estranhei aquela música polirrítmica, era algo que ainda não tinha ouvido. Mas depois da primeira, ouvi a segunda, terceira e por aí fora, o que me levou a descobrir a música da África Ocidental nos seus mais diferentes géneros. Assim, Fela foi o ponto de partida. Comecei a ler sobre a sua vida e consequentemente o ‘bichinho’ dos discos, que andava aqui dentro adormecido há uns anos, despertou e comecei a investir. No que diz respeito, a músicas favoritas não é fácil porque gosto muito da maioria, mas posso dizer que ‘Roforofo Fight’, ‘Open and Close’, ‘Lady’ e ‘Water No Get Enemy’ estão no meu top das favoritas. Nos nossos sets, o Fela e o Afrobeat podem surgir no início, a meio ou no fim, porque não são estudados ou planeados. Por norma vamos por onde o nosso estado sentimental nos leva, ou por onde o público nos leva, porque sim, o público também nos influencia em muito. Mas tentamos que esteja sempre presente, se não for Fela, é o Seun, Femi, ou outra banda qualquer que o represente num disco.”

 



[BATIDA]

“A ouvir um set dos Irmãos Makossa, um tema chamou-me a atenção: parecia um Afrobeat, mas sem bateria (emoji Tony Allen em choque), cantado em Português Angolanizado. Raro. Voz familiar. Era o Mário Matadidi e a sua banda de luxo, que incluía o mestre Teddy na guitarra, a darem seguimento ao Fela num estilo muito próprio. Bateu-me tanto que tive de encontrar em vinil. Dois. (Conheço mais malucos com esta pancada) senti tanta vontade de lhe mexer, que loopei o groove (sim, proponho um novo verbo), acrescentei um bombo e uma tarola malandra, para tentar encontrar um compromisso entre o Afrobeat do Fela e do Tony e os Afrobeats do presente, que não se relacionam directamente. Porque não? Com licença, Cota Allen. Na minha cabeça e coração está a bater. Só ficou a faltar a benção do mais velho. Tudo acabou com o Sr e Sra Matadidi a dançarem nos arredores de Luanda e darem-me a sua benção para avançar com o ‘Pobre e Rico’. Não é Semba, nem Afrobeat, mas a inspiração está lá desde o início. Obrigado Tony, pela tua manha. Já nos abraçámos mais de uma vez, em padrões rítmicos e em palcos (emoji vaidoso). E muito obrigado, Fela, por poder usar o teu exemplo, em cada vez que alguém me pergunta qual a necessidade de trazer assuntos da nossa vida quotidiana para o dancefloor. Qual o espanto da ideia? O Kuti já fê-la :) E não é uma ideia. É uma necessidade.”

 


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