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Fotografia: Vera Marmelo
Publicado a: 31/10/2022

Prestem a máxima atenção a este beatmaker.

K, Le Maestro: “Sinto que ultimamente há menos criatividade na hora de samplar”

Fotografia: Vera Marmelo
Publicado a: 31/10/2022

Desde tenra idade (dos 12 anos, mais concretamente) a fazer beats com a determinação de quem vai vingar, já nessa época K, Le Maestro se adivinhava uma estrela. Depois de todo um caminho de flips, sampling e remixes que o catapultaram para o reconhecimento — do SoundCloud para o mundo –, o produtor não parou de surpreender com as suas abordagens inusitadas e inventivas de músicas conhecidas, que são nas suas mãos completamente reimaginadas e prontas para abalar qualquer pista de dança por esse mundo fora.

Provando mais uma vez este facto, Maestro acaba de lançar um novo EP intitulado NOT DROPPING, VOL. 1, que conta com seis novos remixes e flips inéditos de canções de ilustres artistas como Missy Elliot, Drake ou Beyoncé, que podem ou não ter já sido mostradas ao vivo em concertos como o que testemunhámos na edição deste ano do Iminente… mas vamos deixá-lo contar-te mais sobre isso.

Num backstage onde também encontraríamos nomes como Sister Nancy, o Rimas e Batidas conversou com o autor de Whip Music, uma entrevista em que se falou sobre a importância da criatividade na utilização do sampling, sleeper hits ou, entre outras coisas, como surge a inspiração para a criação das suas faixas.



O que achaste do público português e como estavam as vibes?

Óptimo. É o meu primeiro concerto cá em três anos! A primeira vez que toquei aqui foi no Musicbox com o (DJ) Glue, foi incrível. E eu ia voltar logo, mas aconteceu o COVID, então estou feliz de estar aqui agora no Iminente! A desfrutar.

Excedeu as tuas expectativas?

Foi pesado. Toquei muita coisa nova e tive reacções positivas do público, então fiquei satisfeito. Houve muita coisa exclusiva, mas mesmo assim não consegui tocar tudo o que queria, porque eram mesmo demasiadas músicas [risos], então escolhi só os melhores sons.

Porque tinhas tempo limitado, não é? É a parte má dos concertos em festivais, imagino.

[Risos] Ya, eu gostava de ter tido mais tempo para tocar, mas é mesmo isso.

Como começaste a fazer música? Sempre tiveste essa paixão?

Basicamente, eu tinha 12 anos e estava sem nada para fazer [risos] e o meu irmão mais velho — que faz música — mostrou-me o programa que uso actualmente — desde essa altura e até aos dias de hoje. Lembro-me de pensar: “ok, um dia deixa-me dar uma olhada nisto e ver o que é que isto faz” e comecei. Ao princípio era um hobby, mas quando fazes tanto algo torna-se numa paixão; ao mesmo tempo o foco estava na minha educação, dada também a maneira como fui criado — para a maioria dos pais africanos a educação é um must, uma prioridade muito alta–, então, apesar de acharem o que eu fazia fixe, era tenso porque estava constantemente a fazer beats depois da escola, sempre naquilo, a tratar a cena como uma paixão mas em negação — até que chegou a altura em que já não o podia negar, estava a fazê-lo diariamente, era a minha vida praticamente — desde aquela altura até agora.

E os teus pais acabaram por aceitar?

Sim, quer dizer, a partir do momento em que começas a fazer dinheiro [risos], é o que é [risos]. Começas a fazer dinheiro e ficam do género: “ok, pode ser.”

Quando é que te apercebeste que estavas a crescer no SoundCloud?

Depois de ter lançado o remix da “1 Thing” da Amerie em 2017. Pus no SoundCloud, partilhei no Facebook e no dia a seguir tinha explodido, estava a ficar de doidos, nunca tinha visto aqueles números na minha vida, fiquei completamente estupefacto. E duas semanas depois lancei o remix da “We Dem Boyz” do Wiz Khalifa e também explodiu. A partir daí foi aperceber-me do tipo: “ok… isto é o começo de tudo”. Começou a ganhar balanço e quase todos os meses fazia dois remixes, lançava e a partir daí… comecei a ganhar mil seguidores por mês e de 2017 para 2018 escalou muito rápido.

Como é que lidaste com isso? Foi overwelming?

[Risos] Tinha piada porque lembro-me de estar sentado nas aulas durante a escola e o telemóvel não parava de tocar.

Que idade tinhas?

Idade o suficiente [risos]. Não, mas a sério: tinha uns 16/17 e o meu telemóvel sempre a tocar.

E os teus amigos sabiam que estavas a ficar famoso?

Não era muito algo sobre o qual eu falasse. Quem sabia, sabia; os que não sabiam, não sabiam. Eu não partilhava assuntos meus dessa maneira. Comecei a receber muitas menções nas stories, o meu telemóvel a tocar a cada segundo, a receber e-mails a dizer: “Yo, queremos-te na Coreia.” E eu só dizia: “eu ainda estou a estudar, não posso ir para aí fazer isso”. Mas acabei os meus estudos e agora estou aqui, a viajar e a fazer a minha cena. Acabei o meu bacharelato em Maio.

Tiraste o quê?

Business and Managment.

Fico vidrada com os teus flips, o meu preferido é o “Role Model” do Brent Faiyaz. Podes explicar um pouco como os fazes? Qual é o processo?

Faço o beat, trauteio a música e, se fizer sentido, ponho em cima et voilá. É sempre o beat primeiro, não penso muito em músicas quando estou a fazer as minhas faixas: faço só o beat e depois algo pode surgir na minha cabeça que faça sentido. Encontro uma música e ponho por cima.

E fazes isso onde? Qual é o programa?

Estou só em casa, no meu quarto, num programa chamado Mixcraft — se estiverem a ouvir isto, preciso de uma parceria [risos]. Eu estou aqui em Portugal, faço beats no teclado do meu computador — yo, a Sister Nancy está mesmo ali! [risos] Desculpa. Mas eu não uso muito equipamento, sou muito minimalista no que uso, consigo fazer melodias no teclado do meu computador, programo lá também muitas vezes, então não preciso de muito.

[A conversa pára e K, Le Maestro vai tirar uma foto com a Sister Nancy]



E escolhes no que vais dar flip de acordo com artistas que gostarias de alcançar? Costumas chegar aos artistas?

Em alguns casos sim, mas é sempre de boca em boca ou de ouvido e ouvido. Ultimamente ando só a postar snippets no Twitter quando chego à conclusão que não vou lançar esses sons mas gostava de dar um tease — porque nunca se sabe a quem aquilo vai chegar e saem-se sempre bem, portanto ya. E em relação a esse do Brent Faiyaz, eu pensei mesmo que não o ia lançar, mas depois decidi só fazê-lo porque não o estava a guardar para nada.

E como fizeste esse em específico? Ouviste só a música e tiveste a ideia de dar o flip?

Tem piada porque eu não tinha ouvido a música até ter feito o flip, e também não tinha ouvido o álbum. Ele [Brent Faiyaz] estava só na minha cabeça e pensei: “Yo, como é que será que ia soar se ele entrasse neste beat?” Comecei a procurar música do Brent Faiyaz, encontrei essa e aconteceu. E tem mais piada ainda porque eu fiz o beat e quando ouvi a música original pensei: “Eu tornei isto muito melhor” [risos]. As pessoas deviam dar-me atenção, a sério, era só darem-me a oportunidade para produzir os vossos sons.

Sampling é uma arte, escrevi uma tese relativa a como pode também ser uma importante maneira de difundir a cultura de uma maneira que é capaz de imortalizar certas músicas  e artistas. Qual é a tua opinião em relação à utilização do sampling actualmente?

Depende de como o usas, podes fazer loops, usar os samples, mas sinto que ultimamente há menos criatividade… eu sinto que samples dos anos 90 sempre foram uma cena, mas actualmente as pessoas tiram só a parte mais conhecida da música e põem uns drums lá por cima. Ao mesmo tempo, também se pode dizer isso de cenas mais velhas, que são só loops, mas é tipo, mano… tens que pelo menos assegurar-te que não soa demasiado semelhante à música original.

Há alguns artistas que o estejam a fazer bem actualmente e que queiras mencionar?

De momento, eu diria Kaytranada, sem dúvida nenhuma. Top 5.

Curtes de The Alchemist?

Sim! The Alchemist, Black Milk, Madlib, são todos estupidamente bons.

Qual é a tua parte preferida dos teus sets?

Tocar todas as cenas exclusivas e unreleased. Essa é a cena principal que eu mais gosto.

Que exclusivos tocaste hoje?

O remix da “Break My Soul” da Beyoncé. Toquei essa, toquei algumas cenas do Snoop Dogg, o remix da “Brown Sugar” do D’Angelo. Muitas — para estar à altura da pista de dança que era.

Lançaste um álbum o ano passado, Whip Music. Qual é o conceito por detrás desse projeto?

É uma história engraçada porque eu tinha uma espécie de EP, mas não tinha nenhuma direcção ou tema. E o que aconteceu foi que estava com uma amiga — fomos ver o Joe Kay tocar um set intimista no seu aniversário — e no caminho de volta da festa vimos que do outro lado da estrada da casa dela estava estacionado um Mercedes antigo e eu disse: “Isto é um carro com qualidade, um bom carro, deixa-me tirar uma foto com ele”. Tirei a foto com a minha câmara analógica, revelei e quando a recebi pensei: “Isto podia dar uma capa muito fixe”. Então, fiz uma capa conceptual e depois o título Whip Music veio-me à cabeça, o que me fez pensar: “ok, o tema é este, deixa-me recomeçar o projecto a partir daqui” e comecei a construir tudo à volta daquela imagem. Faço sempre o artwork primeiro e depois faço a música em volta da arte. Conta uma história e fica mais consistente. 

E foi com essa câmara analógica que tirámos a foto com a Sister Nancy [risos]. É um hobby que tens há muito?

Estou sempre a tirar fotos, nunca se sabe quando podem ser boas para usar como artwork. Tenho fotos de há uns cinco anos, de viagens e tudo, quero arquivá-las todas para que daqui a uns anos possa olhar para trás e dizer: “eu estive aqui e fiz isto tudo”. E quando tiver a minha pequena família poder mostrar aos meus filhos.

Tens alguma música favorita no álbum?

Eu fiz um óptimo trabalho com este álbum. Gosto muito da “Backseat”, acho uma boa faixa, e da “Slow Down”, que é incrível. E é sempre curioso porque há muitas vezes o sleeper hit: lanças uma música e não bate, mas passa um ano ou assim e as pessoas começam a gostar e a ouvir bué — a “Come Around” foi um sleeper hit no álbum porque quando saiu foi fixe, mas não foi muito apreciada, mas recentemente começou a receber uma quantidade enorme de plays, portanto shoutout ao Chester Watson, ele fez a sua cena. Top 2 do álbum e oh! A “Can’t Fake It!”. Esse som é pesado, shout-out ao Dilip nessa co-produção, proper west coast, incrível.

Qual é o teu próximo passo?

Tenho um pequeno projecto em produção e estou a trabalhar no meu próximo álbum, actualmente. 

O que nos podes dizer em relação a isso?

Tudo o que eu posso dizer é que já ouviram algumas faixas mascaradas de edits… é só isso que vou dizer.


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