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Fotografia: Beatriz Dias
Publicado a: 24/05/2022

Se o primeiro foi assim...

JÜRA no Estúdio Time Out: aluzétudo(eparatodos)

Fotografia: Beatriz Dias
Publicado a: 24/05/2022

Na passada quinta-feira, dia 19 de Maio, o Estúdio Time Out testemunhou uma noite em que a urgência da partilha falou mais alto. Numa ânsia de se unir a quem a ouve e finalmente purgar ao vivo o que lhe vai na alma, JÜRA apresentou o seu primeiro EP, jüradamor, naquela que foi uma oportunidade única para testemunhar com os nossos próprios olhos o claro começo da ascensão de uma potencial estrela. 

Com uma sala bem composta, estava ali reunido um conjunto de pessoas que já sabia para o que vinha e que estava com total abertura para tal: encontrar a beleza que há na tristeza e ser-se vulnerável ao ponto de a fragilidade se tornar força, nem que seja pelo poder do colectivo que sente na pele e toma as dores da artista como se fossem suas; e, por vezes, são mesmo. Que atire a primeira pedra quem nunca sofreu por amor.

Com a voz de quem fez sua a missão de encantar, a artista pisou o palco determinada a hipnotizar cada um de nós a cantar de volta todas as canções, mas não teve que se esforçar muito; todos vinham com a lição estudada e na ponta da língua.  

O mote foi dado pela sua primeira música, “És o Amor”, a confirmação de que estávamos prestes a viver algo especial. Para além de cada palavra ser repetida de volta, tudo era feito com uma emoção na voz que surpreendia qualquer um que ali passasse. De familiares e amigos a estranhos, todos eram certamente fãs.

O sentimento continuou com a apresentação integral das músicas do seu EP, e ainda outro dos seus primeiros singles, “somozumnãodois”, que arrancou um forte coro da plateia. Mas, ao contrário do que talvez fosse esperado, pela discografia da artista ser ainda algo reduzida, a festa não parou por aí. Chamando ao palco António Souto, surpreendeu todos com uma versão da música “Telepatia”, mostrando mais uma vez a sua grande capacidade vocal. 

Não abrandando nas surpresas, JÜRA apresentou ainda duas faixas inéditas, querendo dar especial destaque a “Fundo”: uma composição que se apresenta quase como um choro, entregue sobre uma melodia suave, que se vai construindo até chegar a uma momento de puro exorcismo de um sentimento de amargura, tão pujante que quase se vê figurativamente de mão dada com o fado. Por todos os sentimentos que exaltou e pela reacção efusiva da plateia, este tema adivinha-se um banger instantâneo e deixa-nos entusiasmados para futuras peças desta artista. 

Ainda numa partilha acesa foi apresentada outra música nova que continha a poderosa afirmação “Eu sou bem mais do que aquilo que entendes”, o que criou um bonito momento onde se podia ouvir a repetição desse mantra a uma só voz.

Embora estivesse acompanhada por uma banda constituída por Miguel Ferrador, Miguel Garcia e Pedro Serralheiro, a sua presença e brilho em palco tudo ofuscavam, parecendo que se tratava de uma só pessoa só lá em cima a cantar para cada uma das pessoas presentes na sala, enaltecendo outra das afirmações que fez durante a noite: o que tem dentro de si não dá para calar.

Este foi um concerto extremamente intimista em que nos falou do coração. Afirmando que “nunca foi sobre escrever canções, mas sim [sobre] descarregar”, JÜRA é uma lufada de ar fresco dentro do panorama pop português, pois, embora estejamos habituados a este tipo de temas dentro deste mesmo registo, a artista mostra que amor não chega e falar sobre o mesmo também não; é preciso saber expressá-lo de várias maneiras e ser honesto naquilo que se sente. Nesta que foi uma “noite memorável”, palavras de Joana Silva que também podiam ser nossas ou de quem lá esteve, houve concílio lá em cima e o céu clareou de forma a que pudéssemos ver um astro a descobrir-se.


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