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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 12/04/2024

Canções e histórias a nu.

Júlia Mestre no Samambaia: o expoente da intimidade

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 12/04/2024

Numa Lisboa cada vez mais mista na sua demografia, o Samambaia é um cantinho do Brasil nesta nossa vibrante capital. E isso nota-se ainda mais quando o calor decide invadir as ruas da cidade, promovendo as vestes mais leves, os sorrisos fáceis e os fins de tarde entre cervejas e coquetéis que facilmente se estendem pela noite adentro. Num dos dias mais quentes de 2024 até ao momento, o bar/restaurante d’A Voz do Operário virou um pedaço do Rio de Janeiro agraciado com a presença de Júlia Mestre, uma das mais importantes cantautoras dentro de uma nova geração de músicos que têm vindo a florir em solo brasileiro.

Para uma artista de alcance considerável, já habituada a tocar pelo mundo fora e vencedora de um Grammy Latino pelo trabalho desempenhado no seio do grupo Bala Desejo, o anúncio de uma data a solo — no sentido mais literal do termo, sozinha com voz e violão — em plena Lisboa facilmente provoca um frenesim na corrida aos ingressos. O objectivo era o de dar um concerto ontem, 11 de Abril, pelas 21 horas, mas a forte demanda do público levou-a a abrir uma nova vaga às 19 horas, que também esgotou com a maior das facilidades e na qual o Rimas e Batidas marcou presença.

Face a todo este alarido que a sua presença em Portugal provoca, é um verdadeiro luxo termos a oportunidade de ser das poucas dezenas de pessoas que conseguiram presenciar o momento. Ainda para mais sendo Júlia Mestre uma pessoa tão dada, dedicando verdadeiramente toda a sua atenção àqueles que se movem para acompanhar os seus passos. Há uma aura luminosa em torno de si e uma graciosidade enorme em cada gesto nas interações que vai tendo com os fãs, mostrando-se disponível para trocar algumas ideias, assinar discos ou posar para fotografias. Roubando as palavras de um outro brasileiro, o “nosso” Wandson Lisboa: Júlia Mestre é um ídolo acessível.

Em palco, essa sua abertura sobe de tom quando se pode dirigir a todos nós em simultâneo. É aí que todos recebemos por igual, não existem favoritos, e é dessa forma que Júlia Mestre melhor se mostra no seu íntimo. A começar desde logo pelas canções, que a uma voz e duas mãos soam bem mais cruas e vulneráveis do que em disco ou concerto com banda. Depois, as histórias — fofocas, como gosta de lhes chamar. Com o maior à vontade do mundo, parava de cantar, mas mantinha a progressão harmónica na guitarra a funcionar como divã, tal era o conforto que encontrava no meio de nós para se “estender” e revelar pequenos grandes pedaços da sua vida e das suas canções. Há temas que ganham todo um novo significado após escutarmos as suas explicações sobre o que a motivou escrevê-los. Foram histórias que falam de família, de amizades, de amores marcantes e outros mais passageiros. Júlia estava em casa e até trouxe a mãe consigo, que ficou responsável pela banca de merchandise onde tinha à venda vinis, cassetes e t-shirts.

O alinhamento não foi extenso, talvez com pouco mais de duas mãos-cheias de faixas, mas cada uma delas valia por um disco inteiro. Umas estendiam-se no tempo por serem tocadas mais lentamente, outras davam aso a uma partilha de memórias mais aprofundada. Mas há coisas que não se medem em minutos, como a sua doce voz ali sem qualquer adorno ou artifício, o sorriso fácil e contagiante, o tântrico dedilhar da guitarra ou os pedais de efeitos que adicionam camadas de psico-tropicalismo ao confessionário de Júlia Mestre. “O que acontece no Samambaia fica no Samambaia,” brincou no final daquela que foi a sua terceira passagem por aquele espaço lisboeta. Por mais que saibamos que Júlia é do mundo, sentimos que foi verdadeiramente só nossa durante aquela hora.

Nos próximos dias, Júlia Mestre será também de Coimbra (hoje, 12 de Abril, no TAGV), Guimarães (amanhã,13, no Westway LAB) e Porto (14, no M.Ou.Co). Deixem-se abraçar.


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