Texto de

Publicado a: 13/05/2015

pub

jlin_dark_energy_review

Há muito que o selo da Planet Mu se tem distinguido pelo seu toque de Midas e essencialmente pela frescura das suas propostas. Palácio de cristal de uma realeza que inclui Venetian Snares, µ-Ziq, Luke Vibert ou Neil Landstrumm, mais recentemente a editora teve um papel chave na divulgação do footwork enquanto género musical e elemento de street culture. Dos dois números da compilação Bangs & Works até aos trabalhos de RP Boo, Traxman ou DJ Rashad, dir-se-ia que a sua discografia se encontra próxima de um compêndio para entender e explorar boa parte da electrónica mestiça mais interessante do momento. Perante este contexto, não é portanto de espantar que Jlin seja mais um tiro certeiro nessa direcção de futuro sempre em aberto e tantas vezes de origem tendencialmente alienígena.

A ligação de Dark Energy ao footwork surge para já em modo causa-efeito, ou seja, talvez aquela que será a primeira investida séria a um patamar além das delimitações oficiais do estilo que ainda hoje é legitimamente vivido como uma das formas mais experimentais da bass music, mas com pouco espaço para novidades maiores. Neste tipo de jogo, a passagem do tempo revela sempre algo mais do que o presente deixa transparecer e por isso será demasiado cedo para compreender os possíveis danos colaterais de um álbum-statement como este – seria tentar entrar na mais pura da especulação . Por ora, trata-se apenas do esforço de acrescentar algo diferente e buscar novos rumos. E já isso parece suficientemente válido e sustentável para esta aventura.

Necessitando apenas de pouco mais de meia hora para fazer valer as suas teorias e tácticas de ataque, Jlin concentra aqui experiência e visão a fim de oferecer um objecto afastado do ímpeto físico que normalmente existe no footwork (se tivermos em conta que tudo isto nasceu para acompanhar as desenfreadas danças das ruas de Chicago). O elemento de tensão parece ser de facto uma coluna basilar nesta linguagem, porém estas onze composições de Jerrilynn Patton dirigem-se com maior intensidade para o cérebro do que propriamente para as pernas. Não que se trate de um disco intelectualizado para um certo resultado, mas sim porque a noção de implosão simplesmente se impõe à explosão rítmica. Com uma vincada e surpreendente veia techno a insurgir em momentos como “Expand” ou “Ra”, o tom dramático e negro que paira como fumo tóxico ao longo do disco, reforçando a possível imagética associada ao título. Em “Guantanamo”, o instante mais político do álbum, a temática da violência surge de fundo num perigosíssimo exercício entre ritmo e voz (a única forma de samplagem utilizada por Jlin). Como se não bastasse, o modo como une estes pontos só pode trazer admiração pela ousadia – como não?

A mera soma destes vectores resulta pois num projecto robusto que faz imediatamente de Dark Energy um dos grandes esforços de 2015. Dentro e fora do perímetro do footwork, estes ensinamentos merecem os seus discípulos, principalmente para quem se procura sintonizar com a real vanguarda do agora e sem o peso do academismo associado. Um valente abanão, portanto.


pub

Últimos da categoria: Críticas

RBTV

Últimos artigos