pub

Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 12/04/2019

De Marc Ribot a Ricardo Toscano, da poesia de Amiri Baraka aos mundos possíveis que a imaginação revela, da electrónica ao hip hop como espelho da América moderna: com tudo isso se cruza o jazz, banda sonora para a transformação.

Jazz em Agosto na Gulbenkian: resistir é preciso

Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 12/04/2019

Assumindo o jazz como veículo de resistência, a Gulbenkian anunciou hoje a programação para a edição 2019 do Jazz em Agosto, evento que se estenderá de 1 a 11 de Agosto, no Anfiteatro ao Ar Livre, no Grande Auditório e noutros espaços da Fundação. O mote deste ano é “música para que tudo não fique na mesma”, ideia que justifica que se convoquem para este cartaz nomes como os de Marc Ribot – que apresentará, precisamente, o seu recente Songs of Resistance logo no dia de arranque –, Ingrid Laubrock e Tom Rainey, Théo Ceccaldi, Julien Desprez, Mary Halvorson, Tomas Fujiwara, Zeena Parkins, Ambrose Akinmusire, Han-earl Park ou o quarteto Toscano, Pinheiro, Mira e Ferrandini.

Ao todo serão 16 espectáculos numa edição que volta a contar com concertos à tarde no Auditório 2. A organização, no comunicado em que revelou a programação, explica que “o jazz sempre teve na sua raiz a semente da contestação e da mudança, enquanto música movida pelo contexto social à sua volta e capaz de apontar o foco para todo o tipo de arbitrariedades que são frequentemente incómodas e que os olhares preferem tantas vezes ignorar”. “A música”, defende-se ainda, “deve carregar consigo um sentido maior, deve ser veículo para a mais profunda expressão de tudo aquilo que nos faz humanos e apontar para uma existência mais digna. O jazz soube, em diversas ocasiões, canalizar e potenciar a contestação e a revolta de uma forma impossível de silenciar.”



Ao guitarrista Marc Ribot, acompanhado por Jay Rodriguez (sax tenor e flauta), Brad Jones (contrabaixo), Ches Smith (bateria) e Reinaldo de Jesus (percussão), caberão as honras de abertura do Jazz em Agosto com um concerto no Anfiteatro ao Ar Livre a 1 de Agosto, pelas 21h30. O músico, a propósito do álbum Songs of Resistance, contava recentemente a Rui Miguel Abreu (numa entrevista que podem ler aqui em Rimas e Batidas) que resistir é, de facto, preciso, nos tempos que correm: “Não sei se as canções de resistência têm alguma importância, na verdade, mas penso que resistir ao fascismo é mais importante do que nunca. Penso que o presidente que foi eleito no Brasil é um fascista. Penso que Donald Trump e o movimento que o está a sustentar são fascistas e penso que é necessário resistir a isso tudo.”

Há, como sempre, espaço para talento nacional neste ambicioso programa desenhado pelo Jazz em Agosto: a 4 de Agosto, Abdul Moimême, aka Rui Horta Santos, levará as suas guitarras eléctricas e variados objectos até à Sala Polivalente pelas 17 horas. E sabendo-se, como de resto refere o programa, que este é um músico que “pensa o instrumento em todas as suas possibilidades expressivas” pode esperar-se um concerto de deambulações exploratórias carregado de constantes surpresas.

No mesmo dia, o Auditório 2 receberá, pelas 18h30, o quarteto Toscano – Pinheiro – Mira – Ferrandini ou, como defende o programador, “um dos mais estimulantes encontros no jazz português dos últimos anos”. De facto, o saxofonista alto Ricardo Toscano tem-se afirmado meteoricamente neste território e neste quarteto com o pianista Rodrigo Pinheiro, o violoncelista Miguel Mira e o baterista Gabriel Ferrandini espera-se, de acordo ainda com o próprio Jazz em Agosto, “uma noite de desfecho imprevisível”.

Como já aconteceu em momentos de edições anteriores, o rap também se funde com o jazz no cartaz de 2019 deste festival: a apresentação de Origami Harvest pelo colectivo liderado pelo trompetista Ambrose Akinmusire colocará em palco, entre outros músicos, o MC Kokayi. O aclamado trompetista encara, de facto, a música como veículo para expressar sentimentos carregados em relação ao que o seu país todos os dias descarrega nos noticiários: “De acordo com um propósito expressamente politico, de contestação ao racismo quotidiano que assola o seu país, Akinmusire dirige uma viagem musical que convoca o jazz mais arrojado, o funk, a spoken word, a soul ou o hip hop”, confirma o programa. “Toda uma súmula da grande música popular negra, transformada sob o olhar de um criador excepcional numa espantosa e inventiva combustão sonora”. A confirmar no concerto que assinará na noite de 10 de Agosto, no Anfiteatro ao Ar Livre.



Nesta edição do festival veterano promovido pela Fundação Calouste Gulbenkian há espaço para diferentes abordagens ao jazz: há o espectáculo de encontro de dois bateristas de excepção – Joey Baron e Robin Schulkowsky (a 9 de Agosto, no Auditório 2, pelas 18:30) – com firmes currículos nos terrenos mais avançados do jazz e da música contemporânea; a electrónica imersiva de Maja S. K. Ratkje (2 de Agosto, Auditório 2, 18:30), criadora que se afirma marcada pelas obras de Stockhausen ou Messiaen; a homenagem a Amiri Baraka conduzida pelos Heroes Are Gang Leaders (2 de Agosto,  Anfiteatro ao Ar Livre, 21:30); o duelo entre o sax soprano e tenor de Ingrid Laubrock e a bateria de Tom Rainey (3 de Agosto, Auditório 2, 18:30); ou, entre outros possíveis destaques, o espectáculo Mandorla Awakening II: Emerging Worlds criado pela flautista americana Nicole Mitchell que ela mesma descreve como a música para “um mundo verdadeiramente igualitário em que uma tecnologia avançada estivesse sintonizada com a natureza”. “Essa proposta utópica”, esclarece ainda o programa, “desemboca numa música desafiadora, seguidora do afrofuturismo, em que jazz, funk, música clássica, spoken word e orientalidade (graças à presença de músicos japoneses) formam uma única massa sonora tão inquietante quanto deslumbrante.”

Prometedor. Abaixo, o programa completo, com os horários e os espaços de cada um das apresentações.


AGO 1 | Quinta, Anfiteatro ao Ar Livre, 21:30

Marc Ribot – Songs of Resistance

Marc Ribot – guitarra eléctrica, voz
Jay Rodriguez – saxofone tenor, flauta
Brad Jones – contrabaixo
Ches Smith – bateria
Reinaldo De Jesus – percussão

AGO 2 | Sexta, Auditório 2, 18:30

Maja S. K. Ratkje

Maja S. K. Ratkje – electrónica

AGO 2 | Sexta, Anfiteatro ao Ar Livre, 21:30

Heroes Are Gang Leaders – The Amiri Baraka Sessions

Thomas Sayers Ellis – spoken word
James Brandon Lewis -saxofone tenor
Melanie Dyer – viola
Luke Stewart – baixo eléctrico
Jenna Camille – piano, voz
Randall Horton – spoken word
Nettie Chickering – voz
Thea Matthews – voz
Heru Shabaka-Ra – trompete
Devin Brahja Waldman – saxofone alto, teclados
Warren Trae Crudup III  – bateria
Brandon Moses – guitarra eléctrica

AGO 3 | Sábado, Auditório 2, 18:30

Ingrid Laubrock & Tom Rainey

Ingrid Laubrock – saxofone soprano e tenor
Tom Rainey – bateria

AGO 3 | Sábado, Anfiteatro ao Ar Livre, 21:30

Burning Ghosts

Daniel Rosenboom – trompete e corneta
Jake Vossler – guitarra eléctrica
Richard Lloyd Giddens, Jr. – contrabaixo
Aaron McLendon – bateria

AGO 4 | Domingo, Sala Polivalente, 17h00

Abdul Moimême

Abdul Moimême – guitarras eléctricas e objectos

AGO 4 | Domingo, Auditório 2, 18:30

Toscano – Pinheiro – Mira – Ferrandini

Ricardo Toscano – saxofone alto
Rodrigo Pinheiro – piano
Miguel Mira – violoncelo
Gabriel Ferrandini – bateria

AGO 4 | Domingo, Grande Auditório, 21:30

Nicole Mitchell – Mandorla Awakening II: Emerging Worlds

Nicole Mitchell – composição, flauta, electrónica
Avery R. Young –voz
Tomeka Reid – violoncelo, banjo
Mazz Swift – violino
Kojiro Umezaki –shakuhachi
Alex Wing – guitarra eléctrica, oud, teremim
Tatsu Aoki – contrabaixo, shamisen, taiko
Jovia Armstrong – percussão

AGO 8 | Quinta, Auditório 2, 18:30

ABACAXI

Julien Desprez –  composição, guitarra eléctrica, electrónica, luzes
Jean François Riffaud – baixo eléctrico, luzes
Max Andrzejewski –  bateria, sintetizador, luzes

AGO 8 | Quinta, Anfiteatro ao Ar Livre, 21:30

Théo Ceccaldi – Freaks

Théo Ceccaldi – violino, teclados, voz
Mathieu Metzger – saxofone alto e barítono
Quentin Blardeau – saxofone tenor, teclados, voz
Giani Caserotto – guitarra eléctrica e teclados
Valentin Ceccaldi – violoncelo
Etienne Ziemniak – bateria

AGO 9 | Sexta, Auditório 2, 18:30

Joey Baron & Robin Schulkowsky

Joey Baron – bateria, percussão
Robin Schulkowsky – bateria, percussão

AGO 9 | Sexta, Anfiteatro ao Ar Livre, 21:30

Tomas Fujiwara – Triple Double

Tomas Fujiwara – bateria
Gerald Cleaver – bateria
Mary Halvorson – guitarra eléctrica
Brandon Seabrook – guitarra eléctrica
Ralph Alessi – trompete
Taylor Ho Bynum – corneta

AGO 10 | Sábado, Auditório 2, 18:30

Zeena Parkins & Bruce Chase

Zeena Parkins – harpa eléctrica
Bruce Chase – bateria e percussão

AGO 10 | Sábado, Anfiteatro ao Ar Livre, 21:30

Ambrose Akinmusire – Origami Harvest

Ambrose Akinmusire – composição, trompete, teclados
Kokayi – rap
Justin Brownbateria
Sam Harris –piano, teclados
Mivos Quartet: Olivia de Prato –violino; Maya Bernardo –violino; Victor Lowrie Tafoya – viola; Tyler J. Borden – violoncelo

AGO, 11 | Domingo, Auditório 2, 18h30

ERIS 136199

Han-earl Park – guitarra eléctrica, electrónica
Catherine Sikora – saxofone tenor
Nick Didkovsky – guitarra elétrica

AGO 11 | Domingo, Anfiteatro ao Ar Livre, 21:30

Mary Halvorson – Code Girl

Mary Halvorson – guitarra elétrica
Amirtha Kidambi – voz
Maria Grand –saxofone tenor, voz
Adam O’Farrill – trompete
Michael Formanek – contrabaixo
Tomas Fujiwara – bateria


pub

Últimos da categoria: Curtas

RBTV

Últimos artigos