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Publicado a: 25/01/2017

O jazz e a electrónica casam-se em Hai

Publicado a: 25/01/2017

[TEXTO] Rui Miguel Abreu [FOTOS] Tiago Pinho

Hai pode remeter para o Japão, mas na verdade Pedro Ricardo foi encontrar o nome na música de Hailu Mergia, músico etíope que o presente redescobriu em boa hora e que injectou alguma electrónica na tradição. Hai procura fazer o mesmo, agarrando no jazz e moldando-o às suas visões para a pista de dança sem esquecer a tensão e a imprevisibilidade sempre geradas em estúdio quando músicos reais são igualmente convocados.

Esta é uma estreia auspiciosa que a 1980 apadrinha: seis temas que revelam um autor com ideias avançadas e arranjos respeitadores da tradição, mas capazes de abraçar o presente electrónico. O EP de seis temas sai primeiro em versão digital, já a 14 de Fevereiro próximo, e deverá ter uma edição física posterior. “Especial”, garantem os responsáveis da 1980. Enquanto aguardamos pela edição, uma antestreia em exclusivo para o Rimas e Batidas.

 


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Hai é o teu primeiro projecto? Qual o teu percurso musical até chegares a este Going Somewhere?

O primeiro EP que compus foi com o pseudónimo Bababa e foi lançado na Extended Records em 2015. É um EP de house/techno que pouco tem a ver com Hai. Antes disso, estudei guitarra na Escola de Jazz do Porto, estive envolvido em algumas bandas e pequenos projectos, mas nada com grande relevância.

Há algo de japonês no nome escolhido, Hai, mas a sonoridade tem muito de french touch… concordas?

Na verdade não é japonês, é etíope: Hailu Mergia. A reedição do 7inch – Musicawi Silt coincidiu com a altura em que comecei a escrever o EP, foi algo que nunca tinha ouvido e de certa forma inspirou-me a fazer música do género. É certo que artistas como St.Germain são sempre referências para alguém que quer cruzar jazz e electrónica, mas, neste caso, não foram uma influência directa no EP.

Estes loops de jazz: vêm de alguma colecção de vinil? São o resultado de pesquisas online?

Para além dos recursos habituais dos discos, YouTube ou documentários, a produção passou por fazer jams com os músicos convidados, gravar novas partes por cima dos samples originais, etc…

Tens algum período favorito na história do jazz? Instrumentos? Músicos?

É difícil eleger um período favorito. No entanto, standards de bebop ou cool jazz como Donna Lee, Oleo e Take Five acabaram por ser bases importantes, também pela altura em que me foram apresentados. Escolher instrumentos e músicos é muito difícil. Mas vá lá, não sei como seria a minha vida sem o Herbie e o seu piano.

O jazz é a música do momento e do improviso, mas a produção electrónica é o resultado de uma abordagem mais solitária e analítica, menos espontânea, mais calculada. Sentes isso?

Claro, parte do desafio de cruzar estes dois géneros é tentar arranjar formas de tornar o que tem que ser programado, orgânico. Gravar takes longos e fazer loops compridos são truques simples que tornam o resultado final menos mecânico.

 


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Falas-nos dos músicos que colaboram neste projecto? Há intenção de fazer isto ao vivo?

O Marco Duarte (percussão) e o Leonel Patricio (saxofone) foram parte essencial do projecto. Para além de serem músicos excepcionais, conseguiram perceber perfeitamente qual era o objectivo das faixas. Os solos e os momentos gravados ao vivo são a vertente mais humana do projecto e a de que estou mais orgulhoso. Quanto a actuações ao vivo: há vontade, mas o mais provável é que não aconteça. Estamos todos a estudar e encontrar tempo para ensaiar e preparar um espectáculo é complicado.

Quais são as tuas referências no universo da electrónica? As que sentes que guiaram mais este trabalho?

Enquanto produtor e DJ, existem dois mundos que são realmente importantes. O house de Detroit: Theo Parrish, Moodyman; toda a cena inglesa de Broken Beat: 4Hero, Bugz In The Attic, são nomes que influenciam tudo o que eu faço. O projecto demorou cerca de um ano a ser produzido, portanto as influencias iniciais acabaram por ser diferentes das finais. Se no início foi o Hailu, no fim foi o Chick Corea.

 


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Como aconteceu esta ligação à 1980?

Foi há cerca de 2 anos. Na altura, eu tinha umas faixas no SoundCloud e o Fred (Nave Mãe) enviou-me uma mensagem a perguntar se eu queria fazer parte da Lyfers vol. II, acabei por participar com duas faixas uma de Bababa e outra de Hai.

Já projectas mais passos para Hai?

Sinceramente não pensei muito nisso ainda, neste momento quero desfrutar este EP.

 


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