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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 18/09/2024

Ao som da maquinaria de Pierre Bastien.

Jazz ao Largo’24 — Dia 4: e no fim, uma orquestra de autómatos

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 18/09/2024

Pierre Bastien é uma das mais interessantes e intrigantes figuras a operar nas margens da música contemporânea, ele que tem uma série de lançamentos na sempre interessante Discrepant e que já este ano lançou um trabalho — Dialogues and Shadows — em parceria com o contrabaixista português Gonçalo Almeida. Ele mesmo apresenta-se, no seu site oficial: “Pierre Bastien constrói as suas próprias máquinas, no cruzamento entre a música e a arte visual, que mistura sons de trompete ao vivo com projecções de ecrã de esculturas sonoras mecânicas no local de uma forma muito poética”. Descrição perfeita do que nos foi dado a ver e ouvir no derradeiro dia de programação da edição 2024 do festival Jazz ao Largo, em Barcelos.

Este penúltimo concerto (não conseguimos — devido a questões logísticas de transportes — estar presentes para a última das apresentações, carimbada pelo Ensemble Jazz ao Largo) do festival mereceu localização dentro de portas, na sala do Theatro Gil Vicente, bem apropriada para uma performance desta natureza. E sim, a palavra “performance” assenta que nem uma luva ao que Bastien propõe: jogo de luz e sombras que oferecem dimensão visual às suas “esculturas sonantes”, proximidade que nos permite analisar a arte mecânica dos seus autómatos-músicos, pequenos mecanismos feitos com motores de brinquedos que colocam ventoinhas em rota de colisão com elásticos (contrabaixos), pequenos martelos que percutem pedaços de metal (baterias), êmbolos que expelem ar (sopros), criando uma espécie de fantasmagórica orquestra com carácter sónico esculpido pelo recurso a pedais de efeitos — o que só acentua a toada onírica de toda a performance — a que se junta o seu económico trompete de bolso. Tudo junto resulta numa fantasia que parece operar nas margens do que é real, como se se tratasse de uma banda sonora para uma produção meio steampunk da história de Pinóquio, ou algo que o valha.

Uma belíssima despedida de um festival que equilibrou o desafio com o inesperado, a certeza com a descoberta, o vocal com o instrumental, sempre com uma fasquia de qualidade elevada.


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