“Para lá do bom gosto expresso na escolha dos samples, há que referir a absoluta classe do trabalho de No I.D., nada interessado em reinventar a roda, antes aplicado com toda a concentração em desenhar as bases ideais para o flow seguro e extremamente musical de Jay-Z. Neste momento de encontro com o mais fundo de si, Jay abdicou do zeitgeist, colocou de lado qualquer tentação de soar ‘contemporâneo’ e preferiu o rigor boom bap de beats carregados de significantes pedaços de passado. Jay está, no fundo, a rimar sobre a sua própria memória, sobre o seu próprio DNA, sobre a sua própria vida já que, certamente, quando chega a casa depois de mais um dia no escritório, quando percebe que está sozinho com os seus Picassos na penthouse porque Beyoncé está algures na Europa para um concerto, com a filha já deitada, não há-de ser Drake ou Kanye, Future ou Kendrick que o homem põe a tocar na sua aparelhagem topo de gama, antes um qualquer clássico de Miss Simone ou de Stevie. A música certa também nos carrega de regresso a casa. E 4:44 foi, afinal de contas, a hora em que Jay-Z acordou para a vida que o espera daqui em diante. Ao olhar, com a ajuda de No I.D., para o passado, Jigga reinventou o seu presente e garantiu que o vamos ouvir quando o futuro mais longínquo chegar. Este é um disco que vai ficar para as próximas gerações. Este é o disco que Shawn Carter quer que os seus filhos ouçam daqui a 20 anos.”