Ontem passaram exactamente 20 anos sobre a edição de Reasonable doubt, o clássico álbum de estreia de Jay-Z e para assinalar tão importante marco o rapper e empresário lançou exclusivamente no Tidal um documentário com o título RD20.
Este documentário inclui diversas entrevistas com gente envolvida na criação desse álbum bem como imagens de concertos em que Jay-Z interpretou temas desse álbum.
RD20 está apenas acessível a quem é assinante do serviço Tidal, mas o serviço de streaming que é pertença do próprio Jay-Z libertou nas redes sociais um curto preview do conteúdo do filme.
Há uns anos, Jay-Z lançou a compilação Chapter One que reunia material dos três primeiros álbuns da sua carreira, incluindo, pois claro, a clássica estreia com Reasonable Doubt. Recuperamos aqui essa crítica a partir dos arquivos de Rui Miguel Abreu.
JAY-Z
“Chapter One”
Há underground e há overground, há Mr. Lif e há Eminem. E observando tudo isto, como um falcão solitário no topo de uma montanha, há Jay-Z: um homem com um flow, um carisma e um plano. Jigga não é pré-fabricado (a Roc-A-Fella foi criada por ele…) e quando fala da rua, Jay sabe do que está a falar porque foi aí que teve as suas primeiras oportunidades. E apesar do estatuto, Jay-Z não vira a cara a um confronto verbal (como bem o prova o tema “Takeover” do excelente “Blueprint”, um violentíssimo ataque a Nas), fazendo uma apurada gestão da sua personna ao mesmo tempo que derruba inimigos e desenha alianças.
“Chapter One” conta a história na primeira pessoa, reunindo pontos altos dos seus três primeiros discos – “Reasonable Doubt”, “In My Lifetime Vol. 1” e “Vol. 2 Hard Knock Life”. E consegue a proeza de fazer com que num alinhamento onde temas como “Can’t Knock The Hustle” (Crystal drinking, Ferrari driving Hip Hop…) ou “Aint No Nigga” (funk suado de clube underground cheio de fumo) estão lado a lado, tudo faça sentido. Porque é sempre o mesmo Jigga a dominar o beat com um flow preguiçoso, mas sábio e conhecedor das dinâmicas profundas do funk (quantas sílabas cabem sobre um baixo e entre duas tarolas? Jigga sabe…).
Não é fácil, acreditem. Jay-Z precisa mesmo do olhar do falcão: porque da penthouse, estratosfericamente colocada, é quase impossível observar o movimento da rua. Mas Jay-Z pressente-o, antecipa-o e molda-o à sua imagem. E ao mesmo tempo vai vendendo uns milhõezitos de discos.