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Fotografia: Aitor Amorim, Rui Faria & Vanja Gruntar
Publicado a: 07/12/2023

Na retina por tempo indeterminado.

Jamie Leeming no Hard Club: a noite de todas as memórias

Fotografia: Aitor Amorim, Rui Faria & Vanja Gruntar
Publicado a: 07/12/2023

Não podia começar melhor esta noite da Night Shift, no tempestuoso final de fim-de-semana passado, dia 3 de Dezembro. Passavam trinta e quatro minutos das vinte e uma horas, quando a mais pequena das salas do Hard Club se silenciou e se abriu a projeção de Waltz, uma curta-metragem de Lado Kvataniya, dedicada à memória do amor dos mais próximos e que nunca nos deixa. Premiada pelo Rode Island Music Film Festival, e nomeada para os EMEA’23, preenchida de uma fotografia incrível e de um motivo sonoro não menos importante, da autoria da banda Georgiana Mgzabrevi. Percebemos, de imediato, que os organizadores do evento se querem posicionar no meio de produção com esmero, almejando-se a uma referência incontornável, mesmo para os mais desatentos.

O segundo momento da noite dá-se de imediato, ainda embebidos com os sentimentos deixados pela curta-metragem, com THEMANDUS, trio do Porto com Eduardo Carneiro Dias, na bateria; Afonso Silva, no EWI e sintetizadores; e Ricardo Alves, na guitarra. Desbravam quarenta minutos de surpreendente viagem entre o minimalismo progressivo ao noise/tecno, com a qualidade de um Four Tet e a alquimia de estarmos sempre presentes numa atmosfera de jazz. Como o grande protagonista da noite, Jamie Leeming, viria a celebrar — “THEMANGUS, how good was that!”

Pelas vinte e três horas e dois minutos ouvimos as primeiras palavras de Jaime Leeming, que agradecia e salientava a importância de este ser o primeiro concerto em nome próprio fora do Reino Unido. Aqui, já tínhamos escutado “Shinkansen”, música que abre o álbum Resynthesis e já tinha levantado o fervor da audiência em confronto com o brilhante desempenho de Richard Muscat, no saxofone, num espetáculo que se fazia prever lendário quando nos é anunciada a tão querida “Champion”, para gáudio dos conhecedores de Jamie Leeming. A sala mostrava-se disposta a criar uma relação simbiótica entre Jamie L. e o público que respondia com entusiasmo às provocações de composição. 

Há uma plateia que dança ao som de “Champion” e, sem qualquer aviso, o saxofone de Richard Muscat e a bateria de Jamie Houghton criam um momento de entendimento divino. É ainda Richard Muscat que faz a ponte com “Shinkansen Outro”, depois do pedido de Jamie L. para que o público se chegasse à boca de palco. Algo que ao acontecer tornou a atmosfera do concerto mais íntima e próxima dos músicos elevando, ainda mais, se já não parecia possível, o ânimo da plateia que não se rogava a aplausos e gritos de entusiasmo nos estágios repentinos de silêncio ou, em contraste, em dinâmicas de fervorosa mestria e execução.

No momento que antecede “Still Connected”, Leeming fala-nos do seu trabalho — Resynthesis —, da forma como a música foi composta em confinamento e de como as memórias se tornaram importantes na sua vida. De como observava do seu apartamento os vizinhos, todos com vidas tão distintas e, simultaneamente, todos com tanto em comum. Foi durante esta música que o baixo de Joseph Downhard se desprendeu do seu registo de acompanhamento assinando a qualidade da banda que Jamie escolheu para o acompanhar. Aqui, estava aberto o caminho para o frontman fazer entender o porquê de ser tão querido pela crítica musical ao introduzir um momento a solo antes da chegada de “Zen Garden”.

Quase mais nada se previa de tão perfeito concerto, quando somos surpreendidos por outro momento, este da bateria de Jamie Houghton, quase eterno de tão belo. É disto que se faz a música! De momentos destes, que elevam um público conquistado, desde os primeiros acordes, ao auge do entusiasmo e estupefação pela sorte de presenciar tal momento, puxando a si a tarefa de categorizar como nuclear atuação da noite. 

Faltava um minuto para o dia seguinte e terminava a prestação da banda com “Long Term Memory”, com uma precisão weiliana, que nos ficará na memória por tão bem e tão bom. Ficaria por tocar “Plateau Trance”, que por razões desconhecidas não se permitiu, à banda, fazer o seu encore. Vontade não faltava. Em término, para quem conhece a Sala 2, do Hard Club, e como nota para futuros eventos, nem sempre somos presenteados com tão boa qualidade de som como nesta noite fomos.

Ficou a memória. As memórias, de tudo, e o querer mais Jamie Leeming, ao vivo, em Portugal.


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